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de wikipedia e jdact
«Estudo apresentado em Setembro
de 1997 ao seminário A nobreza medieval portuguesa: parentesco, identidade e
poder».
«(…)
Quando Fernando nasceu, o seu pai devia comemorar ainda com júbilo a vitória
sobre Alcácer do Sal, conseguida alguns meses antes, em Outubro do ano de 1217;
apesar de aí não ter participado directamente, atacado pela doença e envolvido
que andava na administração do Reino, trata-se do único grande triunfo sobre o
Islão durante o seu reinado. Já desde 1212 que o poderio almóada declinava na
Península, e o Andaluz era uma faixa de terra cada vez mais estreita em
acelerada regressão para o Mediterrâneo, mas será sobretudo a partir dos
últimos anos da década de vinte do século XIII, quando surgem as terceiras taifas, que a grande Reconquista avança em
todas as frentes: catalães e aragoneses ocupam as Baleares em 1229 e o Reino de
Valência a partir de 1232; depois das conquistas de Cáceres, em 1227, e
Badajoz, em 1230, castelhanos e leoneses, unidos em Fernando III, lançam-se à
conquista das praças da Estremadura e avançam sobre o vale do Guadalquivir durante
a década de trinta, em direcção às vastas, ricas e urbanizadas planícies do
Sul. É também por estes anos que os portugueses ocupam o vale do Baixo Guadiana:
após o fracasso de Elvas em 1226, a ocupação do Alentejo e do Algarve é
relativamente rápida, pelo abandono de algumas praças por um Islão fragmentado
e dividido, pela simultaneidade da reconquista castelhana, pela participação
dos profissionais da guerra que eram os cavaleiros das ordens militares e ainda
com o auxílio das milícias concelhias, mais do que por uma suposta actuação e
iniciativa de um rei de infrutífera belicosidade. É neste panorama que tem lugar
a conquista de Serpa, conseguida pela acção de Afonso Peres Farinha, prior do
Hospital, Ordem que passa a controlar as principais praças da margem esquerda
do Guadiana.
Corria o ano de 1232 e o infante
Fernando, agora com 14 anos, a mesma idade com que o seu bisavô se armou
cavaleiro na catedral de Zamora, já se podia orgulhar de também ele ser
cavaleiro, uma vez alcançada a idade de rebora, entrando assim no mundo dos adultos, um mundo
de guerreiros e aventura, onde o prestígio se alcança pela qualidade das
façanhas realizadas. Foi nesta ambiência que cresceu e se fez homem, entre as
armas, a violência, o sangue e as histórias das proezas, mais ou menos
fantasiosas, que ouvia contar. Não se sabe quem foi o responsável pela sua
educação, ou quem o acompanhou de perto nesta primeira fase da sua vida, mas se
quiseram fazer dele um homem de guerra, conseguiram-no perfeitamente. A atribuição
que lhe é feita do senhorio da terra de Serpa, na fronteira mais meridional com
o Islão, surge quase como um prémio ou reconhecimento desta sua maioridade, e
como terra de fronteira que era, aí podia exercitar amplamente as suas virtudes
guerreiras.
Não são claras as circunstâncias
em que este senhorio lhe foi atribuído, na ausência de documento que o
confirme, mas é prova concludente o facto de assim sempre se intitular e ser
denominado. Mesmo assim, vejamos, em hipótese, como isto se processou. No seu
último testamento, de Novembro de 1221, Afonso II deixava parte dos seus bens
móveis aos filij mei et filia me a
quos habeo de Regina doitina Vrraca et inter ipsos equaliter dividant.
Avancemos um pouco no tempo. Em 22 de Dezembro de 1239, na bula Constitutus in presentia nostra.
Gregório IX ordenava ao bispo de Osma e ao abade de Valladolid que
anulassem o contrato feito entre o infante e o rei Sancho, seu irmão, no qual o
primeiro renunciava aos bens a que tinha direito pelo testamento paterno e
àqueles que lhe eram devidos pela morte de sua irmã Leonor em 1231;
provavelmente teria sido a pedido seu, ao queixar-se ao papa do facto de
naquela altura ainda ser minar,
e por isso ter ficado lesado em tal acordo». In Armando S. Pereira, O Infante
D. Fernando de Portugal, Senhor de Serpa (1218-1246) História da Vida e da Morte
de um Cavaleiro Andante, LUSITÂNIA
SACRA, 2ª série, 10 (1998), Wikipédia.
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