domingo, 16 de agosto de 2020

A Conspiração Colombo. Steve Berry. «Pela primeira vez em muito tempo, Colombo se sentia rejuvenescido. Amava esta terra»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

Jamaica. 1504 d. C.

«Cristóvão Colombo percebeu que o momento decisivo estava próximo. Seu destacamento avançava penosamente para o sul, atravessando a densa floresta desta terra tropical havia três dias, ganhando cada vez mais altitude. De todas as ilhas que descobrira desde a primeira terra avistada, em Outubro de 1492, esta era a mais bela. Uma planície estreita margeava sua costa rochosa. Montanhas formavam uma espinha encoberta, subindo gradualmente desde o oeste e culminando na tortuosa cadeia de picos que agora a cercavam. A terra era quase toda formada por calcário poroso coberto por um fértil solo vermelho. Uma incrível variedade de plantas florescia por baixo da grossa protecção da antiga floresta, todas nutridas por constantes ventos húmidos. Os nativos que viviam ali chamavam o lugar de Xaymaca, que, Colombo descobrira, significava terra dos mananciais, o nome fazia sentido, uma vez que havia água abundante em todos os lugares. Mas, como em espanhol o X é substituído pelo J, ele passara a chamar o lugar de Jamaica.

Almirante. Ele parou e virou-se para encarar um de seus homens. Não está longe, disse De Torres, apontando para a frente. Montanha abaixo até aquela área plana, passando depois pela clareira. Luís navegara com ele nas três viagens anteriores, incluindo a de 1492, quando desembarcaram pela primeira vez. Eles se entendiam e confiavam um no outro. Colombo não podia dizer o mesmo dos seis nativos que transportavam as arcas. Eles eram bárbaros. Apontou para dois, que carregavam um dos menores contèineres, e fez um sinal para que tomassem cuidado. Estava surpreso por, depois de dois anos, a madeira ainda estar intacta. Nenhum verme se infiltrara, como acontecera com o casco de seu navio no ano anterior. Um ano que ele passara abandonado nesta ilha. Mas seu cativeiro tinha chegado ao fim. Você escolheu bem, disse ele para De Torres em espanhol. Nenhum dos nativos sabia falar a língua. Outros três espanhóis os acompanhavam, todos escolhidos a dedo. Os nativos tinham sido recrutados e subornados com a promessa de mais guizos, bugiganga cujo som parecia fasciná-los,, caso carregassem três arcas para as montanhas. Eles tinham começado ao amanhecer, numa clareira na floresta adjacente ao litoral norte, um rio próximo que jogava água gelada e cristalina montanha abaixo, formando várias piscinas e, finalmente, dando um último mergulho prateado até ao mar. O zumbido constante de insectos e o canto dos pássaros estavam mais altos, atingindo um crescendo ruidoso. Carregar as arcas montanha acima exigia esforço, e todos eles estavam ofegantes, com as roupas suadas grudadas à pele e sujeira cobrindo seus rostos. Agora, desciam para o exuberante vale. Pela primeira vez em muito tempo, Colombo se sentia rejuvenescido.

Amava esta terra.

Ele liderara a primeira viagem em 1492, indo contra os conselhos de pessoas consideradas cultas. Oitenta e sete homens acreditaram no seu sonho e se aventuraram no desconhecido. Durante décadas, ele se esforçara para conseguir que financiassem a sua viagem, primeiro com os portugueses, depois com os espanhóis. As Capitulações de Santa Fé, que assinou junto à coroa espanhola, prometeram a ele status de nobre, dez por cento de todas as riquezas e controle dos mares que descobrisse. Um excelente negócio no papel, mas Fernando e Isabel não cumpriram sua parte. Nos últimos 12 anos, depois que ele provou a existência do que todos estavam chamando de Novo Mundo, navios espanhóis navegaram para o oeste, um atrás do outro, e nenhum deles com a sua permissão como Almirante do Oceano. Putos. Mentirosos. Todos eles. Ali, disse De Torres. Colombo parou sua descida e olhou entre as árvores com milhares de flores vermelhas, que os nativos chamavam de Chama da Floresta. Localizou uma piscina clara, lisa como vidro, e o gorgolejo de mais água em movimento.

A sua primeira viagem à Jamaica fora em Maio de 1494, na sua segunda incursão, quando descobriu que o litoral norte era habitado pelos mesmos nativos encontrados nas ilhas próximas, só que ali eram mais hostis. Talvez a proximidade com os caraíbas, que viviam em Porto Rico, a leste, fosse o motivo de sua agressividade. Os caraíbas eram canibais ferozes que só entendiam a língua da força. Com base em seu aprendizado, Colombo despachara cães de caça e arqueiros para iniciarem a conversa com os jamaicanos, matando alguns e maltratando outros, até que estivessem dispostos a agradá-lo. Ele parou o avanço da caravana. De Torres se aproximou e sussurrou: É aqui. O lugar.

Ele sabia que esta seria a sua última vez no Novo Mundo. Tinha 51 anos e conseguira reunir um número surpreendente de inimigos. Sua experiência no ano anterior era prova de que esta quarta viagem estava amaldiçoada desde o começo. Primeiro, explorara a costa do que passara a acreditar ser um continente, cujo litoral infinito se estendia de norte a sul até onde ele navegou. Após concluir essa patrulha, esperara desembarcar em Cuba ou Hispaniola, mas seus navios corroídos por vermes só conseguiram chegar até à Jamaica, onde ele os ancorou e aguardou um resgate. Que não chegou. O governador de Hispaniola, um inimigo jurado, resolveu abandonar Colombo e seus 113 homens à morte. Mas ela não chegou. Em vez disso, algumas almas corajosas remaram numa canoa até Hispaniola e trouxeram um navio. Sim, ele realmente tinha muitos inimigos». In Steve Berry, A Conspiração Colombo, 2012, Edição Record, 2014, ISBN 978-850-140-380-3.

Cortesia de ERecord/JDACT

JDACT, Steve Berry, Literatura, Colombo, América,