«(…) Assim como a chuva que transformava o rio, acreditava ela, a sua reportagem produziria, igualmente, uma mudança radical. Quanto disse que a emissora pagou pelo artefacto?, quis saber Casselman. Oito mil, respondeu ela, e ouviu Ted assoviar. Ah, Ted, não torne as coisas ainda mais difíceis p’ra mim. Estou absolutamente segura de que a peça vale isso. Se a emissora não a comprasse, ela seria vendida por um preço muito mais alto no mercado negro. E outra pessoa teria ficado com a história..., e com a glória. Verifiquei tudo, Ted. Os especialistas dizem que foi um bom negócio. Verificar um artefacto e confirmar a sua autenticidade são duas coisas bem diferentes, moça. E ninguém melhor do que você para saber disso. Ele fez uma pausa. Só não quero que você faça papel de boba. Consegui que um paleontólogo examinasse o fóssil. Ele me deu o sinal positivo. Veja bem o que parece, Cotten..., e lembre-se de que, por causa disso, está disposta a enfrentar o que der e vier. O bom e velho Gilley..., esse é o nome do comerciante, certo? Deus, será que todo mundo no Texas se chama Gilley? Não, existem alguns Georges W. e Lyndons. Mas, sinceramente, esse foi o nome que ele deu quando se apresentou... Gilley.
Melhor do que Garganta Profunda
acho... Ted se referia à principal fonte jornalística do caso Watergate, que culminou
com a renúncia do presidente Nixon. De qualquer modo..., Gilley, o texano,
filho de um coleccionador de bugigangas, com uma pilha de ossos de dinossauro,
encontra esse fóssil no porão do pai, numa caixa com um punhado de outros
fragmentos de ossos. Ele telefona para você, tudo isso sigilosamente,
oferecendo-lhe a grande reportagem por um preço razoável..., ou então ele
venderia a coisa no mercado negro por uma pequena fortuna. Mas tudo pela boa
vontade dele, sem interesse nenhum... Não, não foi pela boa vontade dele, nem
sem interesse nenhum. Ele acha que, por causa da publicidade que vamos dar-lhe
com a cobertura da história, a lojinha de fósseis dele vai fazer rios de
dinheiro. Ele ainda pode escrever um livro, dar entrevistas e ter seus quinze
minutos de fama. Outra opção seria vender no mercado negro, e ele receberia a
mesma quantia em dinheiro, mas não a popularidade. Ele disse que, para ele,
tanto faz. Mas que ainda prefere ser uma celebridade.
E quanto ao paleontólogo? De onde
surgiu? Ora, vamos, Ted, dá um tempo. Não pode dar-me um pouco de sossego? Você
é quase uma filha para mim. Eu me preocupo com o que está fazendo. Não quero
que seja enganada com toda essa fama. Cotten relaxou o corpo no assento e olhou
para o velocímetro. Estava correndo a mais de cem por hora num trecho de estrada
em que não podia passar dos oitenta, então tirou o pé do acelerador. Ted
realmente se preocupava com ela. O nome dele é Waterman. Mas é Waterman com
P-H-D no final. Eu o conheci numa festa que o Museu Nacional de História
ofereceu à imprensa uns dois meses atrás. Foi mais do que perfeito. Ele se
ofereceu para vir até ao Texas. É claro que precisou assinar um termo de sigilo
enquanto não levássemos a matéria ao ar. E deu algum trabalho para convencer o
Gilley a deixar o Waterman dar uma olhada. Só estão sabendo do assunto os
chefões da NBC, Waterman, Gilley, eu..., e agora você. E eu seria demitida se
descobrissem que estou tendo esta conversa com a concorrência. Waterman,
repetiu Ted. Sabe o primeiro nome? Henry..., não, Harry, corrigiu-se Cotten.
Harry Waterman. Porquê? Só estou curioso. Talvez possa descobrir alguma
coisinha a mais sobre ele. Ele escreveu uma carta à emissora dando a sua
opinião de que o artefacto é autêntico. Não fosse por isso, acho que eles não
teriam liberado a verba. Quer dizer então que você vai gravar ao vivo para o
noticiário nocturno? Cotten sentiu os músculos se contraírem por causa da
excitação. Estaria de volta ao topo. Naquela noite, o rosto dela marcaria
presença nas salas de estar de todo o país. Deus, como ela adorava isso! É isso
aí, confirmou ela. Hoje é o grande dia.
Acho melhor começar a colocar o meu pessoal em campo. Cotten percebeu
uma dose de ansiedade na voz do ex-chefe. – O que está querendo dizer com isso,
Ted? Pense nas matérias de continuidade. Qual será a reacção da comunidade
científica e dos fundamentalistas ao ver a prova de que a Bíblia estava
literalmente certa? Alguém vai engolir o maior sapo..., ou talvez seja um bife
de brontossauro. Adoro um bom churrasco, disse Cotten. Houve pelo menos três
segundos de silêncio antes de Ted responder. Cuide-se, menina. A gente se fala,
disse ela e desligou o telemóvel. Cotten observou as espessas nuvens cinzentas
que se acumulavam no céu baixo. Quem sabe ela iria testemunhar a transformação
do rio Paluxy?
Logo à frente, ela avistou a
placa desgastada: Fósseis e
Mercadinho do Gilley. Um quilómetro. Aí estava. O momento pelo qual tanto
esperara. A reportagem que a levaria de volta ao topo. A conspiração do Graal
fora uma coisa. Mas esta agora..., iria provar de maneira inquestionável que o
homem tinha vivido durante a época dos dinossauros. Os quinze minutos dela estavam simplesmente
sendo esticados. Durante a última viagem que fez a Glen Rose, Gilley a tinha
levado por cerca de três quilómetros adiante pela estrada, para visitar o Museu
das Provas da Criação. Ela achou aquilo fascinante, especialmente a colecção de
dinossauros e pegadas humanas. Conversou com diversas pessoas ali, que eram
fervorosas a respeito da sua crença. Imagine só quando todos recebessem a
torrente de informações que ela estava prestes a divulgar». In Lynn
Sholes e Joe Moore, O Último Mistério, 2006, Publicações Europa-América, 2007,
ISBN 978-972-105-782-1.
Cortesia de PEuropaAmérica/JDACT
JDACT, Lynn Sholes, Joe Moore, Literatura, Mistério,