Paris
«(…) Paracelso,
no Livre des Images,
fala assim das sucessivas colorações da Obra:
Embora haja, diz ele, algumas cores elementares, porque a cor azulada pertence mais especificamente à terra, a verde à água, a amarela ao ar, a vermelha ao fogo, no entanto, as cores branca e negra referem-se directamente à arte espagírica, na qual se encontram também as quatro cores primitivas, a saber, o negro, o branco, o amarelo e o vermelho. Ora o negro é a raiz e a origem das outras cores; porque toda a matéria negra pode ser reverberada durante o tempo que lhe for necessário, de maneira que as três outras cores aparecerão sucessivamente e cada uma de sua vez. A cor branca sucede à negra, a amarela à branca e a vermelha à amarela Ora toda a matéria, tendo atingido a quarta cor no meio da reverberação, é a tintura das coisas do seu género, ou seja, da sua natureza.
Para dar uma ideia da extensão que adquire a simbólica das cores, e especialmente das três maiores da Obra, notemos que a Virgem é sempre representada vestida de azul (correspondente ao negro, como diremos a seguir), Deus de branco e Cristo de vermelho. São essas as cores nacionais da bandeira francesa, que, aliás, foi criada pelo maçom Louis David. Para ele, o azul escuro ou o negro representavam a burguesia; o branco estava reservado ao povo, aos pierrots ou camponeses, e o vermelho à baillie ou realeza. Na Caldeia, os zigurates, que eram normalmente torres de três andares e a cuja categoria pertencia a famosa Torre de Babel, eram revestidos de três cores: preto, branco e vermelho-púrpura. Até aqui falamos teoricamente, como os mestres fizeram antes de nós, a fim de obedecer à doutrina filosófica e à expressão tradicional. Talvez conviesse, agora, escrever para os Filhos da Ciência, de modo mais prático e menos especulativo e descobrir, assim, o que diferencia a aparência da realidade. Poucos Filósofos ousaram aventurar-se neste terreno movediço. Etteilla, referindo-se a um quadro hermético que teria na sua posse, conservou algumas legendas existentes na parte mais baixa daquele; entre elas lê-se, não sem surpresa, este conselho digno de ser seguido: não vos fieis demasiado na cor. Que quer isto dizer? Teriam os velhos autores enganado deliberadamente os seus leitores? E por que indicação deveriam os discípulos de Hermes substituir as cores desmaiadas para reconhecer e seguir o caminho certo? Procurai, irmãos, sem desanimardes, porque aqui, como noutros pontos obscuros, deveis fazer um grande esforço. Sem dúvida haveis lido em diversas passagens dos vossos livros que os Filósofos só falam claramente quando pretendem afastar os profanos da sua Távola redonda. As descrições que fazem dos seus regimes, aos quais atribuem colorações emblemáticas, são de uma perfeita limpidez. Ora, deveis concluir que essas observações tão bem descritas são falsas e quiméricas. Os vossos livros estão fechados, como o do Apocalipse, com selos cabalísticos. Deveis quebrá-los um a um. A tarefa é difícil, reconhecemo-lo, mas vencer sem perigo é o mesmo que triunfar sem glória.
Aprendei, então, não
em que é que uma cor difere de outra, mas sim em que é que um regime se distingue do
seguinte. E, antes de mais, o que é um regime? Muito simplesmente a maneira de fazer vegetar, de conservar e
aumentar a vida que a vossa pedra recebeu à nascença. É pois um modus operandi, que não se traduz
forçosamente por uma sucessão de cores diversas. Aquele que conhecer o Regime,
escreve Filaleto, será honrado pelos príncipes e pelos grandes da terra.
E o mesmo autor acrescenta: não vos escondemos nada, a não ser o Regime. Ora,
para não atrair sobre a nossa cabeça a maldição dos Filósofos, revelando o que eles
consideraram dever deixar na sombra, contentar-nos-emos em advertir que o Regime da pedra, ou seja, a sua
cocção, contém vários outros,
ou, por outras palavras, trata-se de várias repetições da mesma maneira de
operar. Reflecti, recorrei à analogia e, sobretudo, nunca vos afasteis da
simplicidade natural. Pensai que deveis comer todos os dias, para manter a vossa vitalidade; que o
repouso vos é indispensável porque, por um lado, favorece a digestão e a assimilação
do alimento e, por outro, o renovar das células enfraquecidas pelo labor
quotidiano. E acaso não deveis expulsar frequentemente certos produtos heterogéneos,
dejectos ou resíduos não assimiláveis?» In Fulcanelli, 1926, Le Mystère des
Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica dos
símbolos herméticos, Edições 70, 1975, Lisboa, Colecção Esfinge.
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JDACT, Fulcanelli, Catedral, Esoterismo, Cultura e Conhecimento,