O Planeta Assassinado
«Embora
separados por milhões de quilómetros de espaço vazio, Marte e Terra participam
de uma misteriosa comunhão. Repetidas trocas de materiais têm ocorrido entre os
dois planetas, a mais recente envolvendo naves espaciais da Terra, que têm pousado
em Marte desde o início da década de 1970. Da mesma maneira, nós agora sabemos
que fragmentos de rocha expelidos da superfície de Marte colidem periodicamente
com a Terra. Até 1997, uma dúzia de meteoritos tinham sido seguramente identificados,
com base nas suas composições químicas, como sendo originários de Marte. Eles
são tecnicamente conhecidos como meteoritos SNC (referência a Shergotty, Nakhla
e Chassingy, os nomes dados aos três primeiros meteoritos encontrados), e
pesquisadores de todo o mundo aguardam outros. Conforme cálculos de Colin
Pillinger, do Instituto de Pesquisa de Ciências planetárias do Reino Unido, cem
toneladas de matéria marciana chegam à Terra todo ano. Um dos meteoritos de Marte,
o ALH84001, foi encontrado na Antártida em 1984. Ele contém diminutas
estruturas tubulares que cientistas da NASA identificaram com alarde, em Agosto
de 1996, como possíveis fósseis microscópicos de organismos similares a
bactérias que devem ter vivido em Marte há mais de 3,6 bilhões de anos. Em Outubro
de 1996, cientistas da Universidade Open, na Inglaterra, anunciaram um segundo
meteorito marciano, o EETA7901, no qual também se descobriu provas químicas de
vida, neste caso, surpreendentemente, organismos que teriam existido em Marte há
600 mil anos.
Duas sondas foram lançadas pela
NASA em 1996: a Mars Pathfinder, um explorador, e a Mars Surveyor, um
orbitador. Novas missões estão programadas, quando se tentará colectar um
pedaço de rocha da superfície ou do solo de Marte e, posteriormente, conduzir a
amostra para a Terra. Rússia e Japão estão também enviando sondas para Marte a
fim de empreender uma série de testes e experiências científicas. Existem
planos para terra-formar o planeta vermelho no futuro. Isso envolveria a
introdução de gases de estufa e bactérias comuns da Terra. Durante séculos os
efeitos de aquecimento dos gases e os processos metabólicos das bactérias
transformariam a atmosfera marciana, tornando-a habitável para espécies cada
vez mais complexas, tanto introduzidas quanto evoluídas localmente. Qual a
probabilidade de a humanidade conseguir executar esse plano de semear
Marte com vida? Aparentemente, é apenas uma questão de obter o dinheiro, pois a
tecnologia para isso já existe. Ironicamente, no entanto, a existência de vida
na própria Terra permanece um dos grandes mistérios ainda não solucionados pela
ciência. Ninguém sabe quando, por que ou como ela começou aqui. Parece apenas
ter explodido subitamente, vinda do nada, num estágio primitivo da história do
planeta. Embora se pense que a própria Terra se tenha formado 4,5 bilhões de
anos, as mais antigas rochas remanescentes são mais jovens que isso, com cerca
de quatro bilhões de anos. Foram encontrados vestígios de organismos microscópicos
remontando a 3,9 bilhões de anos. Essa transformação de matéria inanimada em
vida teria sido um milagre que nunca mais se repetiu, e que mesmo os
laboratórios científicos mais avançados não foram capazes de reproduzir.
Devemos realmente acreditar que um exemplo tão surpreendente de alquimia
cósmica poderia ter ocorrido por acaso, apenas nas primeiras centenas de
milhões de anos da longa existência da Terra?
O professor Fred Hoyle, da
Universidade de Cambridge, não pensa assim. Sua explicação para que a origem da
vida na Terra tenha ocorrido tão pouco tempo depois da formação do planeta é de
que ela foi trazida de fora do sistema solar em grandes cometas interestrelares.
Alguns fragmentos teriam colidido com a Terra e libertado esporos antes retidos
em animação suspensa no gelo do cometa. Os esporos espalharam-se e fincaram
raiz de um lado a outro do planeta recém-formado, que foi rapidamente
colonizado por micro-organismos resistentes. Estes evoluíram lentamente e se diversificaram,
eventualmente produzindo a imensa diversidade de formas de vida que conhecemos
hoje. Uma teoria alternativa e mais radical, sustentada por um certo número de
cientistas, é de que a Terra poderia ter, deliberadamente, se terra-formado há
3,9 bilhões de anos, da mesma forma que estamos nos preparando para terra-formar
Marte. Essa teoria pressupõe a existência de uma civilização avançada de
viajantes estelares, ou, mais provavelmente, de muitas dessas civilizações,
distribuídas por todo o universo.
No entanto, a maioria dos
cientistas não considera, necessariamente, a presença de cometas ou de
alienígenas. Nas suas teorias predomina a visão de que a vida apareceu na Terra
acidentalmente, sem nenhuma interferência exterior. Com base em cálculos amplamente
aceitos sobre o tamanho e a composição do universo, eles também argumentam que,
provavelmente, há centenas de milhões de planetas como a Terra espalhados a
esmo por bilhões de anos-luz de espaço interestrelar; e assinalam que é improvável,
entre tantos planetas compatíveis, que a vida tenha evoluído apenas na Terra». In Grahan
Hancock, Robert Bauval e John Grigsby, O Mistério de Marte, 1998, Editora
Aleph, 2004, ISBN 978-858-588-796-4.
Cortesia de Aleph/JDACT
JDACT, Literatura, Ciência, Marte, Grahan Hancock, Robert Bauval, John Grigsby,