«(…) O tecto era uma vasta superfície de vidro com uma série de impressionantes luminárias que lançavam um brilho ténue sobre os acabamentos interiores em tom de pérola. Normalmente, Langdon teria se demorado ali uma hora inteira para admirar a arquitectura, mas, com cinco minutos faltando para o início da palestra, abaixou a cabeça e percorreu apressado o saguão principal em direcção ao posto de controle de segurança e às escadas rolantes. Relaxe, disse a si mesmo. Peter sabe que está a caminho. O evento não vai começar sem você. No posto de controle, um jovem guarda hispânico conversou com Langdon enquanto ele esvaziava os bolsos e retirava do pulso o relógio antigo. Mickey Mouse?, indagou o guarda, parecendo achar um pouco de graça. Langdon assentiu, acostumado com aquele tipo de comentário. A edição de coleccionador do relógio do Mickey tinha sido presente dos pais no seu aniversário de 9 anos. Uso este relógio para me lembrar de ter calma e levar a vida menos a sério. Acho que não está dando certo, comentou o guarda com um sorriso. O senhor parece muito apressado.
Langdon
sorriu e pôs a bolsa de viagem na esteira de raios X. Para que lado fica o
Salão das Estátuas? O guarda fez um gesto em direcção às escadas rolantes. O
senhor vai ver as placas. Obrigado. Langdon pegou a bolsa da esteira e se
afastou depressa. Enquanto a escada rolante subia, ele respirou fundo e tentou
organizar os pensamentos. Olhou para cima, através do tecto de vidro salpicado
de chuva, para a cúpula iluminada do Capitólio, cujo formato parecia o de uma
montanha. Era uma construção espantosa. A pouco mais de 90 metros de altura do
chão, a estátua Liberdade Armada fitava a escuridão enevoada como uma sentinela
fantasmagórica. Langdon sempre achara irónico o facto de os trabalhadores que
haviam erguido cada pedaço da estátua de bronze de seis metros até lá em cima terem
sido escravos, um segredo do Capitólio que raramente constava do currículo das
aulas de História do ensino médio. Na verdade, todo aquele prédio era uma mina
de ouro de mistérios bizarros, que incluíam uma banheira da morte responsável
pelo assassinato por pneumonia do vice-presidente Henry Wilson, uma escadaria
com uma mancha de sangue indelével na qual um número exagerado de visitantes
parecia tropeçar, e uma câmara lacrada no subsolo dentro da qual, em 1930,
trabalhadores descobriram o falecido cavalo empalhado do general John Alexander
Logan.
Mas
nenhuma lenda era tão longeva quanto os 13 fantasmas que supostamente
assombravam o prédio. Muitos diziam que o espírito do arquitecto da cidade,
Pierre L'Enfant, perambulava pelos salões tentando receber os seus honorários,
a essa altura 200 anos atrasados. O fantasma de um operário que caíra da cúpula
do Capitólio durante a construção era visto vagando pelos corredores com uma
caixa de ferramentas. E, é claro, a mais famosa aparição de todas, que teria
sido vista diversas vezes no subsolo do Capitólio, um gato preto efémero que
percorria o sinistro labirinto de passagens estreitas e cubículos da
subestrutura. Langdon saiu da escada rolante e tornou a verificar as horas.
Três minutos. Percorreu apressado o corredor amplo, seguindo as placas que
indicavam o Salão das Estátuas e ensaiando mentalmente as palavras inaugurais.
Precisava admitir que o assistente de Peter tinha razão; o tema de sua palestra
era perfeitamente adequado a um evento organizado em Washington por um célebre
maçom.
Não era nenhum
segredo a capital norte-americana
ter uma rica história maçónica. A própria pedra angular daquele
prédio havia sido assentada por George Washington em pessoa durante um ritual
completo de Maçonaria. A cidade fora concebida e projectada por mestres
maçons, George Washington,
Benjamin Franklin e Pierre L'Enfant, mentes poderosas que enfeitaram a sua nova capital com simbolismo,
arquitectura e arte
maçónicas.
As pessoas, é claro, projectam nesses símbolos todo tipo de ideias malucas. Muitos
teóricos da conspiração alegam que os pais fundadores dos Estados Unidos
esconderam poderosos segredos e mensagens simbólicas no desenho das ruas de
Washington. Langdon nunca deu importância a isso. Informações equivocadas sobre
os maçons eram tão comuns que mesmo alunos de Harvard pareciam ter noções
surpreendentemente distorcidas a respeito da irmandade. No ano anterior, um caloiro havia entrado
na sala de aula com os olhos esbugalhados, trazendo uma página impressa da
internet. Era um mapa da capital no qual determinadas ruas haviam sido
destacadas para formar diversos desenhos, pentáculos
satânicos, um
esquadro e um compasso maçónicos, a cabeça de Baphomet, provando aparentemente
que os maçons que projectaram Washington
estavam envolvidos em algum tipo de conspiração obscura e mística». In
Dan
Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,