28 de Maio de 1944
«(…) Hoje, no entanto, Stéphanie
fazia parte do seu disfarce. Ele estava ao serviço de Rommel. O marechal de
campo, também conhecido como a Raposa do Deserto, agora comandava o Grupo de Exércitos
B das forças alemãs, responsável pela defesa dos territórios ocupados no norte da
França. Segundo informações dos agentes de inteligência alemães, os Aliados
tentariam uma invasão ainda naquele Verão. Rommel não dispunha de um
contingente grande o bastante para proteger as centenas de quilómetros da
vulnerável costa normanda, por isso havia adotado a arriscada estratégia da
mobilidade: embrenhadas no interior, suas tropas precisavam estar sempre de
prontidão para serem deslocadas de forma ágil quando necessário. Os ingleses
sabiam disso. Também tinham o seu serviço de inteligência. Para eles, o plano era
o seguinte: atrasar os deslocamentos de Rommel destruindo as linhas de comunicação
controladas pelo marechal. Noite e dia os bombardeiros ingleses e americanos
vinham atacando rodovias e ferrovias, pontes e túneis, estações e pátios de
manobra. A Resistência, por sua vez, explodia usinas e fábricas, descarrilava comboios,
cortava linhas telefónicas, instruía jovens a despejar terra nos tanques de
combustível dos caminhões e blindados alemães.
A missão de Dieter era
identificar os alvos que mais precisavam de defesa no sector das comunicações e
avaliar até que ponto a Resistência era capaz de atacá-los. Ao longo dos últimos
meses, saindo da sua base em Paris, ele percorrera todo o norte da França,
soltando os cachorros para cima das sentinelas que encontrava dormindo,
infundindo terror nos capitães que demonstravam algum sinal de preguiça,
redobrando as medidas de segurança nos pátios ferroviários, nas garagens de veículos,
nas torres de controle dos aeroportos e nas cabines de sinalização das
ferrovias mais importantes. Naquele dia em particular, ele estava fazendo uma
visita-surpresa a uma central telefónica estratégica e de importância vital
para as forças alemãs. Por ali passava todo o tráfego telefónico entre o alto
comando de Berlim e as inúmeras unidades espalhadas pelo norte da França. Isso
incluía as mensagens de telex, meio pelo qual a grande maioria das instruções vinha
sendo enviada nos últimos tempos. Se aquela central fosse destruída, as
comunicações alemãs ficariam gravemente comprometidas.
Os
Aliados, claro, sabiam disso. Até já haviam tentado bombardear o lugar e obtido
relativo sucesso na investida. Aquele castelo era o mais perfeito candidato a
um ataque da Resistência. No entanto, as medidas de segurança nele adoptadas
eram imperdoavelmente frouxas, pelo menos a seus olhos. A explicação talvez
residisse na má influência exercida pela Gestapo, que tinha ali um posto avançado.
A Geheime Staatspolizei,
ou Gestapo, era a polícia secreta do governo nazista e, nela, muitas vezes as
pessoas eram promovidas não pela sagacidade, mas pela lealdade que demonstravam
a Hitler ou pelo entusiasmo com que abraçavam o ideário fascista. Dieter estava
furioso. Fazia meia hora que estava ali, fotografando o castelo, e até então nenhum
dos guardas sequer notara a sua presença. No entanto, assim que os sinos
pararam de tocar, um oficial com farda de major irrompeu dos portões altos do
castelo e foi correndo na direção dele, berrando num francês capenga: entregue
essa câmera! Dieter virou o rosto, fingindo não ouvir. É proibido tirar fotos
do castelo, imbecil!, berrou o homem. Não está vendo que é uma instalação
militar? Voltando-se para ele, Dieter respondeu calmamente em alemão: você
demorou uma eternidade para me ver. O major ficou surpreso. Civis costumavam
ter medo da Gestapo. Como assim, demorei?, disse, já menos agressivo. Dieter
olhou para o relógio, depois completou: faz 32 minutos que estou aqui. Poderia
ter tirado uma centena de fotos e ido embora há muito tempo. É você que está na
chefia da segurança? Quem é você, afinal?, devolveu o outro. Major Dieter
Franck, do estado-maior do marechal de campo Rommel. Franck!, exclamou o homem.
Eu me lembro de você. Dieter o observou com mais atenção. Meu Deus, disse,
assim que se deu conta. Willi Weber. Como a maioria dos homens da Gestapo,
Weber possuía uma patente da SS, que para ele era bem mais respeitável do que a
outra que ele tinha da polícia. Por isso, ressaltou: Sturmbannfuehrer Weber, a seu dispor. Ora, ora, quem
diria..., falou Dieter. Não era à toa que a segurança estava tão fraca, pensou».
In
Ken Follett, As Espias do Dia D, 2001, Editora Arqueiro, 2015, ISBN 978-
858-041-410-3.
Cortesia de EArqueiro/JDACT
JDACT, Ken Follett, Literatura, II Guerra Mundial,