Ídolos pagãos do cristianismo
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No decorrer de nossa jornada, confrontaremos um número de afirmações que podem,
a princípio, parecer assustadoras, mas isso costuma acontecer quando se traz a
história de volta às suas bases, pois a maioria das pessoas é condicionada a
aceitar determinadas interpretações da história como factos. Muito do que
aprendemos de história é por meio de propaganda estratégica, seja ela motivada
pela Igreja ou por política. Tudo é parte do processo de controle; separa os
mestres dos servos e os fortes dos fracos. A história política tem sido escrita
por seus mestres: os poucos que decidem o destino e a sina dos muitos. A
história religiosa não é diferente, pois seu desígnio é implementar o controle
pelo medo do desconhecido. Dessa forma, os mestres religiosos retiveram sua supremacia
à custa de devotos que genuinamente buscam iluminação e salvação. Quanto à
história política ou religiosa, é evidente que os ensinamentos estabelecidos
chegam às raias do fantástico, mas mesmo assim raramente são questionados.
Quando estes são menos do que fantásticos, porém, costumam parecer tão vagos
que quase não fazem sentido, se examinados em qualquer nível de profundidade.
Em termos bíblicos, nossa busca do Graal começa com a Criação, conforme
definida no livro do Génesis. Em 1779, um consórcio de livreiros de Londres
publicou uma obra gigantesca com 42 volumes, Universal History, que viria a ser
muito reverenciada e que afirmava, com grande grau de convicção, que o trabalho
de Criação de Deus começou em 21 de Agosto de 4004 a.C. Surgiu, então, um
debate a respeito do mês exacto, pois alguns teólogos achavam que 21 de Março
seria uma data mais precisa. Todos concordavam, porém, que o ano estava correcto,
e aceitavam que só seis dias tinham passado entre o nada cósmico e o surgimento
de Adão. Na época da publicação, a Inglaterra se via em plena Revolução
Industrial. Era um período instável de extraordinárias mudanças e
desenvolvimentos, mas, assim como no acelerado ritmo dos avanços da actualidade,
pagou-se um preço. As preciosas artes e técnicas de outrora se tomaram
obsoletas diante da produção em massa, e a sociedade se reagrupava para
acomodar uma estrutura comunitária com base na economia. Uma nova estirpe de
vencedores emergia, enquanto a maioria da população cambaleava num ambiente desconhecido
que nada tinha a ver com os costumes e padrões da sua educação. Certo ou
errado, esse fenómeno é chamado de Progresso, e o seu critério inflexível é
aquele preceito do naturalista inglês Charles Darwin: a sobrevivência do
mais forte. O problema é que as chances de sobrevivência das pessoas
costumam diminuir quando elas são ignoradas ou exploradas pelos seus mestres:
aqueles mesmos pioneiros que forjam a rota do progresso, auxiliando (mas não
garantindo) apenas a sobrevivência própria. É fácil vermos hoje que a História
Universal de 1779 estava errada. Sabemos que o mundo não foi criado em 4004
a.C.. Sabemos também que Adão não foi o primeiro homem na Terra? Essas noções
arcaicas já estão ultrapassadas; mas para as pessoas no fim do século XVIII,
essa impressionante história era o produto de homens mais esclarecidos do que a
maioria e, portanto, presumivelmente correcta. Vale a pena, portanto, fazermos
a nós mesmos a seguinte pergunta, neste estágio: quantos factos aceitos pela
ciência e pela história actualmente também serão considerados ultrapassados à
luz de futuras descobertas? Dogma não é necessariamente verdade; é apenas uma
interpretação fervorosamente divulgada da verdade, com base nos factos
disponíveis. Quando novos factos influentes são apresentados, o dogma
científico muda naturalmente, mas isso é raro de acontecer com o dogma
religioso. Neste livro, estamos particularmente interessados nas atitudes e
ensinamentos de uma Igreja Cristã que não presta atenção a descobertas e
revelações, e que ainda mantém boa parte do dogma incongruente que remonta a
tempos medievais. Como observou astutamente H. G. Wells no início da década de
1900, a vida religiosa das nações ocidentais subsiste numa casa da história
construída sobre areia. A teoria da evolução de Charles Darwin em The Descent
of Man, em 1871 não causou nenhum dano pessoal a Adão, mas a ideia de que ele
seria o primeiro ser humano caiu por terra. Como todas as formas de vida
orgânica no planeta, os humanos evoluíram por mutação genética e selecção
natural, no decorrer de centenas de milhares de anos. O anúncio de tal facto
encheu de horror a sociedade, orientada pela religião. Alguns simplesmente se
recusavam a aceitar a nova doutrina, mas muitos caíram no desespero. Se Adão e
Eva não eram os pais primordiais, não havia Pecado Original e, portanto, o
próprio motivo do perdão não tinha fundamento! A maioria entendera de maneira
completamente errada o conceito de Selecção Natural. As pessoas deduziam que,
se a sobrevivência era restrita aos mais fortes, então o sucesso devia depender
de superar o próximo! Estava nascendo uma nova geração, céptica e cruel. O
nacionalismo egotista florescia como nunca antes na história, e as divindades
domésticas eram veneradas como, no passado, adoravam-se os deuses pagãos.
Símbolos de identidade nacional (como Britannia e Hibernia) se tomaram novos
ídolos do Cristianismo. Dessa base insalubre se gerou uma doença imperialista,
e os países mais fortes e avançados reivindicaram o direito de explorar as
nações menos desenvolvidas». In Laurence Gardner,
A Linhagem do Santo Graal, 1996, 2001, Editor Madras, ISBN 978-857-374-882-6.
Cortesia de EMadras/JDACT
JDACT, Laurence Gardner, Literatura, Religião,