«(…) O interior era espaçoso, uma cama king-size coberta com travesseiros de pelúcia roxa. Havia uma área de trabalho com uma mesa feita de madeira de carvalho e uma cadeira ergonómica. O quarto ficava numa esquina, duas janelas dando para a rua 42 do East Side e a terceira oferecendo uma vista para o oeste, na direcção da Quinta Avenida. O restante da decoração era o que se podia esperar de um hotel de classe alta no coração de Manhattan. Excepto por duas coisas. Seu olhar focalizou a primeira: uma espécie de aparato, feito a partir do que pareciam ser suportes de alumínio aparafusados, como um brinquedo de montar. Estava em frente a uma das janelas frontais, à esquerda da cama, virado para cima. Acima dessa vigorosa estrutura metálica, encontrava-se uma caixa rectangular, com cerca de 60 centímetros por 1 metro, também feita de metal bruto, as laterais atarraxadas e posicionada no centro da janela. Outras vigas se estendiam até às paredes, por trás e pela frente, uma instalada no chão e outra fixada uns 50 centímetros acima, aparentemente prendendo o conjunto naquele lugar. Era isso que Stephanie tinha em mente quando disse importante?
Um cano curto saía da parte da
frente da caixa. Não parecia haver meios de vasculhar seu interior, sem
aberturas laterais. Conjuntos de engrenagens enfeitavam a caixa e a estrutura.
Correntes se estendiam ao longo dos suportes, como se aquela coisa toda
estivesse pronta a se mover. Seu olhar se estendeu até ao outro objecto
incomum. Um envelope. Lacrado. Com seu nome escrito. O seu relógio marcava
18h17. Onde estava Stephanie? Podia ouvir o som agudo de sirenes lá fora. Com o
envelope nas mãos, ele se aproximou de uma das janelas do quarto e olhou para a
rua, 14 andares abaixo. A 42 não tinha carros. O trânsito fora desviado. Ele
notara a presença da polícia lá fora, chegando ao hotel alguns minutos antes. Alguma
coisa estava acontecendo. Ele conhecia a reputação do Cipriani, na calçada
oposta. Já estivera ali antes e se lembrava das suas colunas de mármore, o chão
em mosaico e os candelabros de cristal, um antigo banco, construído ao estilo renascentista
italiano, que era alugado para reuniões sociais da elite. Mas algum evento
muito importante parecia estar ocorrendo naquele fim de tarde, para que
chegassem a interromper o trânsito, evacuar as calçadas e convocar a presença
de meia dúzia de policias, que estavam ali diante da entrada elegante. Dois
carros de polícia se aproximaram pelo lado oeste, as luzes acesas, seguidos por
um Cadillac DTS preto de tamanho exagerado. Outro carro da polícia de Nova York
veio logo atrás. Duas bandeirolas se agitavam nas laterais dianteiras do
Cadillac. Uma era a bandeira americana e a outra trazia o emblema presidencial.
Somente uma pessoa andava naquele carro. O presidente Danny Daniels. O desfile
de carros parou ao lado da calçada do Cipriani. As portas se abriram. Três
agentes do Serviço Secreto saltaram, examinaram os arredores e fizeram um
sinal. Danny Daniels apareceu, sua silhueta alta e forte vestida com um fato
preto, camisa branca e gravata de um azul pálido.
Malone ouviu um zumbido. Seu
olhar procurou a origem do som. O aparato ganhara vida. Duas detonações
espatifaram o vidro da janela do outro lado do quarto, que caiu na calçada lá
em baixo. Um ar fresco invadiu o ambiente, assim como o som palpitante da
cidade. Um mecanismo começou a funcionar e o dispositivo se introduziu no
espaço aberto na janela. Malone olhou para baixo. Os vidros espatifados
chamaram a atenção dos agentes secretos. Algumas cabeças se viraram para o
alto, na direção do Grand Hyatt. Tudo aconteceu em questão de segundos. A
janela partida, o dispositivo se movendo para fora. Então... Rá-tá-tá. Tiros
disparados contra o presidente dos Estados Unidos. Os agentes afastaram Daniels
para a calçada. Malone enfiou o envelope no bolso, atravessou o quarto correndo
e agarrou a estrutura de alumínio, tentando remover o dispositivo. Mas o
aparato não saiu do lugar. Olhando em volta, ele não viu nenhum fio eléctrico.
A coisa, aparentemente uma arma extremamente potente movida por controle remoto,
continuava disparando. Lá em baixo, os agentes tentavam fazer com que o
presidente voltasse para o carro. Assim que Daniels estivesse em seu interior,
a blindagem o protegeria. O dispositivo cuspiu mais algumas balas.
Malone se inclinou sobre a
janela, equilibrando-se no parapeito, e agarrou a caixa de alumínio. Se
conseguisse movê-la para um lado ou para outro, para cima ou para baixo, pelo
menos desviaria sua pontaria. Ele conseguiu deslocar o cano para a esquerda,
mas o mecanismo interno logo compensou o desvio. Lá na rua, com os disparos
momentaneamente desviados, os agentes enfiaram Daniels dentro do carro e saíram
dali. Três homens permaneceram junto aos policias que esperavam no Cipriani. As
armas foram sacadas. Seu segundo erro agora se tornara evidente. Começaram a
atirar. Na sua direcção». In Steve Berry, O Enigma de Jefferson, 2011,
Editora Record, 2012, ISBN 978-850-140-205-9.
Cortesia de ERecord/JDACT
JDACT, Século XIX, USA, Literatura, Steve Berry,