O Bastardo do rei Bravo
«(…) Por
essa altura, dom Pedro concedeu umas casas na mouraria de Avis à mãe de dom João,
que se chamava Teresa Lourenço e, dizem Fernão Lopes e Rui Pina, entre muitos
outros, seria natural da Galiza, de onde veio para Lisboa como dama da infanta
dona Constança. Mas frei Manuel Santos, na Monarquia Lusitana, garante que dona Teresa pertencia a uma
família minhota, a dos Almeidas, e era parente do mestre de Cristo. Por seu
turno, António Caetano Sousa limita-se a assegurar na sua História Genealógica que ninguém
duvida da nobreza desta dama. Outros autores dizem outras coisas ainda. Por
isso, não se pode afirmar, sem margem para dúvidas, quem realmente era a mãe de
dom João I. A questão continua em aberto e muito provavelmente não será nunca
esclarecida. Pouco ou nada se sabe das primeiras duas décadas da vida de dom
João, conhecendo-se, no entanto, os seus amores com Inês Pires, que era,
segundo Soares Silva, filha de Pêro Esteves e Leonor Anes, pessoas de conhecida
nobreza. Entre 1370 e 1380 dar-lhe-á dois filhos, como mais adiante se verá melhor.
Não parece que
dom João tenha frequentado a corte de seu pai, que, falecido em 1367, quando o
bastardo tinha dez anos, não o contemplou no seu testamento. Mas, na corte de
seu irmão, o formoso dom Fernando, teve assídua presença, que não era, aliás,
muito apreciada pela rainha Leonor Teles, talvez porque
o filho de Teresa Lourenço era dos melhores amigos do filho de Inês de Castro
que tinha o mesmo nome que ele. Este dom João, doravante designado por dom
João de Castro, tinha cinco anos mais do que o outro, porque nascera,
provavelmente em Bragança, pelo ano de 1352. Era, na descrição de Fernão Lopes,
homem bem composto em parecer e feições, e comprido de boas manhas. Nas Cortes
de Évora de 1361, dom Fernando fez-lhe doação de muitas terras, um pouco por
todo o país: Porto de Mós, Seia, Lafões, Oliveira do Bairro, etc. E, durante a
primeira guerra fernandina com Castela, nomeou-o fronteiro-mor entre o Tejo e o
Guadiana. Na segunda, dom João de Castro acompanhou dom Fernando quando este se
encontrou com o rei de Castela. Participou nas Cortes de Leiria, em Novembro de
1376, e foi considerado por Fernão Lopes o maior do reino.
Mas, tendo-se apaixonado
por Maria Teles, irmã de Leonor e, portanto, cunhada de dom Fernando, casou com
ela às ocultas. Este casamento deixou preocupada a Aleivosa, cognome
que o povo dera a Leonor Teles: Dom João de Castro gozava de grande prestígio
na corte e no reino, era amado dos povos e dos fidalgos, como escreveu Fernão
Lopes. Podia por isso constituir uma ameaça a que dona Beatriz, a única filha
de dom Fernando e dona Leonor, sucedesse a seu pai no trono. Para melhor
garantir as hipóteses da infanta, Leonor Teles prometeu então a dom João
casá-la com ele. Era, porém, necessário remover de cena dona Maria Teles, o que
o próprio dom João se encarregou de fazer. Acusando-a de me poerdes as
cornas dormindo com outrem, assassinou-a barbaramente, enquanto o filho de
ambos dormia na câmara contígua à da mãe, quando ela foi assassinada. Foi isto,
segundo parece, em Novembro de 1379». In Isabel
Lencastre, Os Bastardos Reais, Os Filhos Ilegítimos, Oficina do Livro, 2012, ISBN
978-989-555-845-2.
Cortesia de OdoLivro/JDACT
JDACT, História de Portugal, Isabel Lencastre, O Paço Real, Conhecimento,