A Chegada da Inquisição (maldita) 1490-1491
Zarita
«(…) Na manhã seguinte, Lorena e
eu estávamos tranquilamente fazendo o desjejum na companhia do padre Besian
quando o pai entrou a passos largos na sala. Quero falar com você! Ele se
dirigiu rispidamente ao padre. Em particular, acrescentou. O padre Besian
olhou-o atentamente e disse: Não há nada que não possa ser falado na frente de
sua esposa e de sua filha. Você ordenou que estes panfletos fossem distribuídos
e pregados por toda a minha cidade? Meu pai abriu um pedaço de papel que trazia
amassado na mão e o entregou ao sacerdote. O padre Besian pegou o papel,
colocou-o sobre a mesa e alisou-o calmamente. Sim, ordenei, disse ele. Inclinei
a cabeça para tentar ler as palavras que estavam escritas no papel. Você não
tem o direito de convocar as pessoas desta cidade para dar informações umas das
outras dessa maneira. A voz do pai tremia de raiva. Pelo contrário, retrucou o
padre Besian, o Chefe Inquisidor, Tomás de Torquemada, garante a mim, como
agente da Santa Inquisição (maldita), o direito de fazer isso.
É vital que erradiquemos a
heresia e descubramos se algum dos proclamados convertidos do judaísmo ainda
mantém suas antigas práticas religiosas. Descobri que há judeus e muçulmanos
vivendo nesta cidade. Suas influências são potencialmente corruptoras. Pela
minha experiência, bons resultados são obtidos quando apelamos à população para
ficar vigilante e servir como testemunhas. Há meia dúzia de famílias judias
confinadas na parte mais pobre da cidade, perto das docas, e alguns poucos
pescadores muçulmanos que amarram seus sambucos no píer mais distante.
Eles nunca nos causaram problemas. Eu sou o magistrado desta cidade, de forma
que você deveria ter falado primeiro comigo antes de divulgar proclamações que
podem incitar agitação. O padre Besian deu um gole na sua xícara de leite morno
e então a pousou diante de si. A única agitação que se seguirá às minhas
instruções será nos corações dos incrédulos.
O que pretende fazer quando esses
informantes aparecerem, exigiu saber o meu pai. Vai descobrir que haverá quem
aproveite a oportunidade para se vingar de uma antiga dívida ou contar mentiras
sobre um vizinho contra quem têm uma rixa. Eu os interrogarei muito
cuidadosamente. Isso será uma dificuldade para aqueles que não têm um motivo
verdadeiro para as suas denúncias. Pretende iniciar uma Inquisição (maldita) na cidade? Pretendo.
Ontem à noite, me disse que estava apenas de passagem e me pediu que providenciasse
acomodações enquanto esperava transporte num navio que o levará a Almería. Mudei
de ideia, disse o padre Besian. E onde pretende realizar seus interrogatórios e
julgamentos? Meu pai deu uma risada. Esta não é uma cidade grande. A cadeia é o
subsolo de um prédio de um andar, e a minha assim chamada corte dos magistrados
é esse pequeno andar acima. O padre Besian reclinou-se na cadeira. Olhou pela
janela para os edifícios da nossa fazenda e depois à sua volta, pela sala.
Sorriu. Tem uma casa muito bem equipada, dom Alonso. Usarei suas instalações
para executar essa obra de Deus. Minha casa! Meu lar! O pai recuou, chocado. Não!
Isso é impossível! Não permitirei. Devo lembrar-lhe, dom Vicente, a voz do
padre tornou-se gelada, que, como o magistrado local, está obrigado por lei a
me auxiliar de qualquer modo que eu julgue necessário». In Theresa Breslin, Prisioneira
da Inquisição, 2010, Galera Record, 2014-2015, ISBN 978-850-110-256-0.
Cortesia de GRecord/JDACT
JDACT, Theresa Breslin, Literatura, Espanha,