Devassidão, peixe salgado e estudiosos da Bíblia
«(…) Escritos rabínicos datando
do quarto para o quinto século d.C. mencionam um lugar chamado Migdal Tsebaya,
o que significa Torre dos Tintureiros, e outro chamado Migdal Nunya,
significando Torre dos Peixes. Por quanto tempo elas existiram não é
sabido; certamente não aparecem em nenhum lugar do Velho e do Novo Testamentos.
Da mesma forma o local de ambas é incerto; mas se pensa que a última estaria a
menos de um quilómetro ao norte de Tiberíades, não suficientemente ao norte
para estar em qualquer lugar perto do lugar hoje chamado de Magdala. O local
pode corresponder a Tel Rakat (ou Tel Raqqat). Um tel é um monte antigo de detritos que cresce sobre aldeias
abandonadas ou outras estruturas, e apesar de Tel Rakat ficar afastada do lago,
isso pode não ter sido sempre assim; talvez houvesse um farol ali, ou talvez
este fosse um lugar para o processamento de peixe. Sem escavar o local não
poderemos saber mais.
Como Migdal Tsebaya significa
Torre dos Tintureiros e como o tingimento é feito geralmente perto da água,
possivelmente essa torre ficava às margens do mar da Galileia, mas a literatura
rabínica não o diz. Em vez disso, faz um comentário, o de que Migdal Tsebaya
foi destruída por sua prostituição, mas não explica quando ou como ou por quem,
nenhum contexto é fornecido. Isso não impediu que Migdal Tsebaya fosse
identificada com Tariqueia (Taricheia é uma ortografia variante), o seu nome,
que é grego, significando lugar de peixe salgado. A identificação foi feita em
1920 pelo arqueólogo bíblico norte-americano William F. Albright, praticamente
porque ele pensava assim. Albright também identificou Tariqueia com o lugar
agora chamado Magdala, apesar das evidências em contrário.
As evidências apontam que
Tariqueia ficava a seis quilómetros ao sul de Tiberíades, na margem oeste do
rio Jordão, onde emerge a partir da extremidade sul do mar da Galileia, e não
seis quilómetros ao norte, o local da actual Magdala. O historiador romano do século
I, Plínio, por exemplo, descreveu o mar da Galileia na sua História natural como rodeado
pelas cidades agradáveis de Julias e Hipopótamos no leste, Tariqueia no sul … e
Tiberíades a oeste, o que coloca Tariqueia ao sul de Tiberíades, enquanto Magadan,
conhecida desde os tempos bizantinos como Magdala, está ao norte de Tiberíades.
Além disso, Tariqueia foi o local de uma batalha famosa em 67 d.C., durante a
Revolta Judaica; o historiador Flávio Josefo, um comandante das forças judaicas
durante o início da revolta na Galileia, descreveu o cerco romano, a ocupação
da cidade e a batalha naval feroz que se seguiu, que deixou 6,7 mil combatentes
judeus mortos e tornou vermelha a água do lago.
No entanto, escavações na actual
Magdala não revelaram sinais de qualquer conflito ou de danos datados do
período da revolta, enquanto a narrativa de Josefo sobre os deslocamentos
romanos deixa claro que Tariqueia ficava ao sul de Tiberíades. Muito
simplesmente, Magdala e Tariqueia eram dois lugares diferentes. No entanto, a
conexão feita por Albright entre Migdal Tsebaya, Tariqueia e Magdala criou uma
impressão duradoura, de modo que se encontram os nomes desses lugares usados
alternadamente ou em combinação, com Migdal Nunya apresentado como precaução; e
muitas vezes ler-se-á sobre a destruição romana da suposta cidade natal de
Maria Madalena por causa de sua reputação de devassidão, que se encaixa
perfeitamente na imagem mais tarde criada pela Igreja para Maria Madalena. A
religião causou estragos ao identificar o local e o significado de Magdala e
sua associação, se houve alguma, com Maria Madalena. O problema começou nos
primeiros séculos cristãos e tem sido perpetuado e confundido ainda mais por
arqueólogos bíblicos e estudiosos do Novo Testamento em dias modernos. Amarrar
Maria Madalena a um ponto é como encontrar algum osso, algumas costelas ou crânio
e dizer que são dela; lugares se tornam relíquias para as pessoas que precisam
desse tipo de coisa» In Michael Haag, Maria Madalena, Zahar,
2018, ISBN 978-853-781-739-1.
Cortesia de Zahar/JDACT