sexta-feira, 11 de novembro de 2022

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «O Cubo era uma grande caixa sem janelas. Cada centímetro das paredes e do tecto lá dentro era coberto por uma tela rígida de fibra de chumbo revestida de titânio…»

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«(…) Senhor, insistiu o segurança, pousando uma das mãos com firmeza no ombro de Langdon, preciso que se afaste agora mesmo. Eu sei o que isto aqui significa, disse Langdon. Posso ajudar. Agora!, repetiu o segurança. Meu amigo está em apuros. Nós precisamos... Langdon sentiu braços fortes erguerem seu corpo e levarem-no para longe da mão. Simplesmente deixou aquilo acontecer..., sentia-se abalado demais para protestar. Um convite formal acabara de ser entregue. Alguém estava convocando Langdon para destrancar um portal místico que iria revelar um mundo de antigos mistérios e conhecimento oculto. Mas era tudo uma insanidade.

Delírios de um louco.

A limusine de Mal’akh foi-se afastando do Capitólio, avançando na direção leste pela Independence Avenue. Um jovem casal na calçada apertou os olhos para tentar discernir alguma coisa através dos vidros traseiros escurecidos, torcendo para ver alguma celebridade.

Eu estou na frente, pensou Mal’akh, sorrindo consigo mesmo. Mal’akh adorava a sensação de poder que tinha ao dirigir sozinho aquela limusine descomunal. Nenhum dos seus outros cinco carros lhe poderia proporcionar aquilo de que precisava naquela noite, a garantia de privacidade. Total privacidade. Naquela cidade, limusines gozavam de uma espécie de imunidade tácita. Embaixadas sobre rodas. Os policias que trabalhavam perto da Capitol Hill, a colina sobre a qual se ergue o Capitólio, nunca sabiam ao certo qual figurão poderiam acabar mandando encostar por engano, então a maioria preferia simplesmente não se arriscar a parar limusines. Quando Mal’akh atravessou o rio Anacostia e entrou no estado de Maryland, pôde sentir que estava chegando mais perto de Katherine, impulsionado pela força de gravidade do destino. Estou sendo chamado para cumprir uma segunda tarefa esta noite..., uma tarefa que eu não havia imaginado. Na noite anterior, quando Peter Solomon lhe havia revelado o último dos seus segredos, Mal’akh ficara sabendo da existência de um laboratório secreto no qual Katherine Solomon tinha operado milagres, avanços fenomenais que, Mal’akh percebia, iriam mudar o mundo caso um dia viessem à tona.

O trabalho dela revelará a verdadeira natureza de todas as coisas.

Durante séculos, as mentes mais brilhantes da Terra haviam ignorado as ciências antigas, zombando delas como se fossem superstições ignorantes, armando-se em vez disso de um cepticismo arrogante e de novas e espantosas tecnologias, ferramentas que só faziam afastá-las ainda mais da verdade. Os avanços de cada geração são desmentidos pela tecnologia da geração seguinte. Assim havia sido por muitos séculos. Quanto mais o homem aprendia, mais se dava conta de sua ignorância.

Por muitos milénios, a humanidade vinha tateando no escuro..., mas agora, como estava escrito na profecia, havia mudanças no ar. Depois de avançar às cegas pela história, a humanidade chegara a uma encruzilhada. Esse momento tinha sido previsto havia muito tempo, profetizado pelos textos antigos, calendários primevos e até mesmo pelas estrelas. A data era específica, sua chegada, iminente. Ela seria precedida por uma brilhante explosão de conhecimento..., um clarão de luz para iluminar a escuridão e dar à humanidade uma última chance de se desviar do abismo e seguir o caminho da sabedoria.

Eu cheguei para ofuscar a luz, pensou Mal’akh. Esse é o meu papel.

O destino o havia ligado a Peter e Katherine Solomon. As descobertas feitas por Katherine no CAMS ameaçavam abrir as comportas de uma nova forma de pensar, dando início a um novo Renascimento. Caso essas revelações viessem a público, iriam se transformar num catalisador que inspiraria a humanidade a redescobrir o conhecimento que havia perdido, dando-lhe um poder muito além da imaginação.

O destino de Katherine é acender essa tocha. O meu é apagá-la.

No meio da escuridão cerrada, Katherine Solomon tateou à procura da porta externa do seu laboratório. Depois de achá-la, abriu a porta revestida de chumbo e entrou depressa no pequeno hall. A travessia levara apenas 90 segundos, mas seu coração batia feito louco. Depois de três anos, eu já deveria ter me acostumado com isso. Katherine sempre se sentia aliviada ao escapar do breu do Galpão 5 e entrar naquele espaço limpo e bem iluminado.

O Cubo era uma grande caixa sem janelas. Cada centímetro das paredes e do tecto lá dentro era coberto por uma tela rígida de fibra de chumbo revestida de titânio, o que dava a impressão de uma imensa jaula construída dentro de uma câmara de cimento. Divisórias de plexiglas fosco separavam o espaço em diferentes compartimentos, um laboratório, uma sala de controle, uma sala de máquinas, um banheiro e uma pequena biblioteca para pesquisas. Katherine caminhou depressa até ao laboratório principal. O espaço de trabalho claro e estéril reluzia com vários equipamentos quantitativos avançados: dois encefalógrafos interligados, um pente de frequência em femtos-segundos, um isolador magneto-óptico e GEAs de ruído eletrónico com indeterminação quântica, mais simplesmente conhecidos como Geradores de Eventos Aleatórios. Apesar do uso de tecnologias de ponta pela ciência noética, as descobertas em si eram muito mais místicas do que as máquinas frias e high-tech que as produziam. Magia e mito se transformavam rapidamente em realidade com a chegada de novas e espantosas informações, todas elas confirmando a ideologia básica da ciência noética, o potencial ainda não explorado da mente humana.

A tese geral era simples: Nós não chegamos nem perto de usar todo o potencial de nossas mentes e nossos espíritos». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

 Cortesia de BertrandE/JDACT

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