sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Os Portugueses em Marrocos. António Dias Farinha. «Sabemos que alguns vieram do estrangeiro, pelo menos da Galiza, Biscaia, Bretanha, Inglaterra e Flandres. Parte do exército era constituído pelos portugueses que participaram nas guerras com Castela…»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

 O Interesse pelo Norte de África

«(…) A primeira conquista no além-mar obrigou à preparação de uma frota capaz de transportar numeroso exército equipado com armas e abastecimentos. Foi necessário mandar construir, comprar e alugar muitos navios. As notícias da época registam galés, galeões, naus, barcas, fustas, cocas e barinéis, entre outros, cuja variedade revela a inexperiência neste género de combate, a insuficiência dos recursos e a dispersão dos seus locais de origem. Sabemos que alguns vieram do estrangeiro, pelo menos da Galiza, Biscaia, Bretanha, Inglaterra e Flandres. Parte do exército era constituído pelos portugueses que participaram nas guerras com Castela; esse treino militar deveria ser sensível, sobretudo, ao nível dos comandos, como o demonstra a presença do próprio rei João I, do condestável Nuno Álvares Pereira e homens encanecidos cuja memória perdurou no parecer de João Gomes Silva, alferes do Reino: Ruços, além! É conhecida a presença de estrangeiros na expedição, entre os quais ingleses, alemães, polacos e franceses, que, tal como o exército português, ignoraram, até à passagem por Lagos, qual o destino final da empresa a que prestavam colaboração. A frota foi reunida em duas cidades, Lisboa e Porto, que desta forma assumiam simultaneamente o papel de centros mais importantes do País. A expansão obrigava os Portugueses a acantonarem-se próximo do mar, gerava os seus pólos mais dinâmicos e iniciava o virar de costas a Castela, que perdurou até aos nossos dias. O infante Pedro, filho segundo, ocupou-se dos preparativos em Lisboa e o infante Henrique, filho terceiro, no Porto; o Rei e o herdeiro do trono assumiram a direcção da empresa.

Depois de reunida a frota em Lisboa, um infausto acontecimento poderia ter alterado o plano da expedição: em 18 de Julho faleceu de peste a rainha Filipa de Lencastre, que, antes de morrer, abençoara a expedição. A vontade política era tão determinada que apenas cinco dias mais tarde foi dada ordem de partida; no dia 25 de Julho os navios deixaram a barra do Tejo. Em 27 de Julho, em Lagos, pela voz do capelão real frei João de Xira, foi anunciado o destino da frota: Ceuta. A cidade africana foi presa fácil dos Portugueses, bem preparados para a sua conquista. O Rei e o infante Pedro foram cruzar o mar em frente da cidade, em manobra de diversão; o infante Henrique comandou as forças que desembarcaram no lado do morro de Almina e entrou na cidade. Era o dia 21 de Agosto de 1415, verdadeiro acto do nascimento da expansão portuguesa. Os vencedores, senhores da cidade, saquearam as casas, quintais e terrenos, à procura de riquezas; parece que a colheita foi rendosa porque o assédio não fora esperado pelos Mouros e estes pouco tempo tiveram para fugir. A mesquita foi limpa e consagrada a Nossa Senhora da Assunção. No minarete colocaram-se dois sinos encontrados na cidade e outrora roubados em Lagos pelos corsários. Seguiu-se a cerimónia de armar cavaleiros os infantes e muitos outros nobres: feliz ocasião de honrar a nova geração do poder e os altos infantes que asseguravam o futuro da dinastia iniciada por João I, a cujo título de rei de Portugal e do Algarve era agora acrescentado o do senhor de Ceuta». In António Dias Farinha, Os Portugueses em Marrocos, Instituto Camões, Colecção Lazúli, IAG, Artes Gráficas, ISBN 972-566-206-7.

Cortesia de Instituto Camões/JDACT

 JDACT, D. João I, Ceuta, António Dias Farinha, Marrocos,