«(…) Robert Langdon havia acabado de cometer um erro muito grave ao lidar com Sato. Infelizmente, Anderson percebeu que era tarde demais. Para seu espanto, Inoue Sato havia acabado de aparecer do outro lado da Rotunda, aproximando-se depressa por trás de Langdon. Sato está aqui no prédio! O chefe de polícia prendeu a respiração e se preparou para o impacto. Langdon não faz a menor ideia do que isso significa. O vulto de Sato foi chegando mais perto, com o telefone colado ao ouvido, os olhos negros grudados como dois feixes de raio laser nas costas de Langdon.
Langdon apertou com força o
telefone do chefe de polícia, sentindo-se cada vez mais frustrado à medida que
Sato o pressionava. Sinto muito, senhor, disse ele, lacónico, mas eu não sou
capaz de ler os seus pensamentos. O que o senhor quer de mim? O que eu quero do
senhor? A voz rascante chiou no telefone de Langdon, áspera e cavernosa, como a
de um moribundo com a garganta inflamada. Enquanto o homem falava, Langdon
sentiu alguém lhe cutucar o ombro. Deu meia-volta e seus olhos foram atraídos
para baixo... parando bem no rosto de uma japonesa baixinha. A mulher tinha uma
expressão feroz, a tez marcada, cabelos ralos, dentes manchados de nicotina e
uma perturbadora cicatriz branca que cortava seu pescoço na horizontal. Sua mão
encarquilhada segurava um telefone móvel junto à orelha e, quando seus lábios
se moveram, Langdon escutou aquela mesma voz rascante sair do seu próprio
celular. O que eu quero do senhor, professor? Ela fechou o telefone com calma e
o fuzilou com os olhos. Para começar, poderia parar de me chamar de senhor.
Langdon a encarou, morrendo de vergonha. Minha senhora, eu... me desculpe. A
nossa ligação estava ruim e... A nossa ligação estava perfeita, professor,
disse ela. E eu tenho uma tolerância extremamente baixa para desculpas
esfarrapadas.
A directora
Inoue Sato era
um espécime temível, uma tempestade violenta em forma de mulher com apenas
1,47m de altura. Era esquelética, tinha os traços irregulares e uma doença de
pele conhecida como vitiligo, que dava à sua tez o aspecto manchado de um bloco
áspero de granito coberto por placas de líquen. Seu terninho azul amarrotado
pendia do corpo macilento como um saco frouxo, e a camisa de colarinho aberto
nada fazia para esconder a cicatriz do pescoço. Seus colegas de trabalho já
haviam reparado que a única concessão de Sato à vaidade física parecia ser
depilar com uma pinça seu copioso buço. Fazia mais de uma década que Inoue Sato
supervisionava o Escritório de Segurança da CIA. Seu QI era muito acima da
média e seus instintos tinham uma precisão assustadora, combinação que lhe
conferia uma segurança que a tornava aterrorizante para qualquer pessoa incapaz
de realizar o impossível. Nem mesmo o diagnóstico de um câncer de garganta
agressivo em estágio terminal a havia derrubado. A batalha lhe custara um mês
de trabalho, metade da laringe e um terço do peso, mas ela voltou ao trabalho
como se nada tivesse acontecido. Inoue Sato parecia indestrutível.
Robert Langdon
desconfiava que provavelmente não era o primeiro a confundir Sato com um homem
ao telefone, mas a directora ainda o fuzilava com seus olhos negros
abrasadores. Mais uma vez queira desculpar-me, senhora, disse Langdon. Ainda
estou tentando me situar aqui... A pessoa que diz estar com Peter Solomon me
enganou para me fazer vir a Washington esta noite. Ele tirou o fax do casaco. Foi
isto aqui que ele me enviou mais cedo. Eu anotei o número do jacto que ele mandou
para me buscar, então quem sabe a senhora não poderia ligar para a Agência
Nacional de Aviação e rastrear o...
A diminuta mão de Sato deu um bote para agarrar o pedaço de papel.
Ela o enfiou
no bolso sem sequer abri-lo. Professor, quem está no comando desta investigação
sou eu e, até o senhor começar a me dizer o que quero saber, sugiro que não
fale a menos que alguém lhe dirija a palavra. Sato então se virou para o chefe
de polícia. Chefe Anderson, falou ela, chegando perto demais e erguendo para
ele os olhinhos negros, pode fazer a gentileza de me dizer que diabos está acontecendo
aqui? O segurança no portão leste me disse que vocês encontraram uma mão humana
no chão. É verdade? Anderson deu um passo para o lado e revelou o objecto no
meio do piso. Sim, senhora, faz poucos minutos. Ela olhou de relance para a mão
como se não passasse de uma peça de roupa esquecida. E mesmo assim o senhor não
me disse nada quando eu liguei? Eu... eu pensei que a senhora soubesse. Não minta para mim.
Anderson murchou diante do olhar
dela, mas sua voz permaneceu firme. Senhora, a situação aqui está sob controle.
Duvido muito que isso seja verdade, disse Sato com a voz igualmente firme. Uma
equipe de criminalística está a caminho. Quem fez isso pode ter deixado impressões
digitais. Sato fez cara de céptica. Acho que uma pessoa esperta o suficiente
para passar pelo seu controle de segurança com a mão cortada de alguém
provavelmente é esperta o suficiente para não deixar impressões digitais. Pode
ser, mas tenho a responsabilidade de investigar. Na verdade, está dispensado
dessa responsabilidade a partir de agora. Eu estou assumindo o caso. Anderson
se retesou. Isto aqui não é exactamente da competência do ES, é? Sem dúvida que
sim. Esta é uma questão de segurança nacional. A mão de Peter?, perguntou-se Langdon, que assistia à
conversa atônito. Segurança
nacional. Ele
sentia que seu objectivo de encontrar Peter o mais rápido possível não era
compartilhado por Sato». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand
Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,