Karlruhe. Alemanha, Dezembro de 1649
«(…) O agastado homem começa a penetrar na grande sala de leitura, que estava praticamente deserta, o que o homem vira com bons olhos, pois, teria o sossego necessário para as pesquisas que pretendia levar a cabo. Muito bom dia. Posso ajudá-lo?, pergunta com simpatia a mulher de meia-idade que se encontrava no controlo daquela sala. Bom dia. Carlos Nóbrega, Historiador e bibliotecário da Biblioteca Nacional, cumprimenta o homem, puxando dos galões não por vaidade, mas na certeza que tal lhe abriria o acesso às relíquias mais bem guardadas daquela sala. Joana Castro. Muito prazer, responde a mulher. Em que posso ajudá-lo, Dr. Nóbrega? Olhe, procuro documentos, crónicas, livros que falem sobre Óbidos na perspectiva histórica. Depois, além disso, gostaria de ver alguns documentos que falem sobre a sociedade Rosa Cruz, ou o Rosacrucianismo.
Muito
bem. Esteja à vontade para procurar, a mulher retira duas chaves de dentro do
balcão e pede a Carlos Nóbrega que a siga. Detêm-se num armário situado
diametralmente oposto à entrada da sala e ao balcão onde a mulher assentava
arraiais. A sala era rectangular e com as paredes forradas a altos armários,
estando, de onde em onde, um escadote estacionado. O tecto era arcado, como o
tecto das igrejas, e o branco e o azul das paredes conferiam àquele ambiente
uma tranquilidade compatível com a leitura e estudo. A mulher abre um grande
armário com o número 11 gravado numa
pequena chapa. Doutor, toda esta secção é sobre a história de Óbidos, demonstra
a mulher com o movimento da mão direita. Esteja à vontade para retirar os
volumes que pretender. Depois basta colocá-los em cima da mesa mais próxima do
armário para que os possa voltar a arrumar segundo as suas cotas... Muito
obrigado, refere o homem. Ah, trago comigo um livro da Biblioteca Nacional, a
viagem de comboio propicia a leitura, informa o Historiador, mostrando parte da
castanha encadernação mas sem mostrar o título ou outros pormenores.
Sim
senhor, esteja à vontade, que não será acusado de roubo, riem os dois. Relativamente
à sociedade Rosa Cruz, informa a mulher, começando a caminhar na sala,
dirigindo-se para um espaço anexo, temos aqui uma secção onde existe um volume que, sem falar na sociedade em si, fala da
sua presença no nosso país. A funcionária abre a porta do velho armário e
procura o exemplar. Detém-se num livro castanho, de capa dura e grossa lombada,
que retira e entrega ao Historiador. E é tudo o que temos, Dr. Nóbrega, informa
a mulher. Muito obrigado. Serve perfeitamente. Não sei se o meu colega já o
informou sobre as digitalizações... Sim, sim. Dez, para e-mail ou fotocópias, antecipou-se
ele. Exactamente. Vou deixá-lo então à vontade, Doutor. Qualquer coisa, não
hesite em me chamar. Obrigado. Até já,
então.
Carlos Nóbrega, antes
de ir procurar no armário 11 os
exemplares que lhe pudessem interessar, leva aquele livro para uma mesa onde a
luz natural incidia com força, uma mesa longe do balcão e daquela mulher,
ficando deveras surpreendido com a data de publicação e o nome do autor que
vislumbrara ao fundo da grossa lombada. Bem,
isto está a correr melhor do que poderia
pensar!». In Jorge Durão, A Herança de Rosa-Cruz,
O Tesouro Perdido de Óbidos, Edição do Autor, 2013, ISBN 978-989-866-401-3.
Cortesia de JDurão/JDACT
JDACT, Jorge Durão, Óbidos, Literatura,