Durante
os anos em que fizemos nossa pesquisa, muitas outras publicações já estavam em
circulação, ajudando a criar um clima favorável. Na década de 1970, pelo menos
dois romances, um deles um trabalho literário sério, bem-visto pela crítica, partiram
da hipótese da descoberta do corpo mumificado de Jesus. Outro romance popular
pôs os Evangelhos em questão, sugerindo a existência de um novo corpus de relatos bíblicos
de primeira mão, e este livro foi transformado numa minissérie de televisão. Em
sua monumental obra Terra nostra,
certamente um dos doze mais importantes romances publicados em qualquer língua
desde a Segunda Guerra Mundial, o respeitado romancista mexicano Carlos Fuentes
descreve como Jesus escapou da morte por meio de uma crucificação fraudulenta,
envolvendo um substituto. Pelo menos um romance, Magdalene, de Carolyn Slaughter, apresenta Madalena
como amante de Jesus. E Liz Greene, inspirando-se na nossa própria pesquisa,
escreveu sobre uma linhagem que descenderia de Jesus em The Dreamer of the Vine, um
romance sobre Nostradamus publicado em 1980.
No que diz
respeito a trabalhos mais académicos, os manuscritos de Nag Hammadi foram
publicados pela primeira vez em tradução inglesa em 1977 e, em menos de dois
anos, inspiraram o best-seller de
Elaine Pagel, The Gnostic Gospels.
Morton Smith, que havia divulgado seus achados sobre a Igreja primitiva em The Secret Gospel, traçou
em seguida um controverso retrato de Jesus em Jesus the Magician. Haim Maccoby voltou sua atenção
para o Jesus histórico em Revolution
in Judaea e o mesmo fez Geza Vermes em obras como Jesus the Jew. A série de
estudos que Hugh Schonfield está desenvolvendo sobre a Palestina do século I
foi sendo publicada a intervalos regulares ao longo da década de 1970. Num
nível teológico, alguns clérigos anglicanos suscitaram considerável
controvérsia ao pôr em questão a divindade de Jesus numa coletânea de ensaios, The Myth of God lncarnate. Por
fim, merece menção The Jesus
ScroIl, da autoria do australiano Donovan Joyce, um livro
curioso, sem respaldo nos factos, mas fascinante.
Assim, em 1982, quando O santo graal e a linhagem sagrada foi publicado,
as águas já haviam sido agitadas por uma onda recente de elementos relativos ao
Jesus histórico. É verdade que muita gente ainda não sabe sequer em que medida,
por exemplo, os Evangelhos se contradizem entre si. Ou que há outros Evangelhos
além dos que constam do Novo Testamento, que foram excluídos do cânon de
maneira mais ou menos arbitrária por concílios compostos de homens obviamente
mortais, obviamente falíveis. Ou que a divindade de Jesus foi decidida pelo
voto no Concílio de Nicéia, cerca de três séculos depois da morte do próprio Jesus.
É verdade também que o fundamentalismo continua fanático nos Estados Unidos. E,
como observamos antes, ainda há na Grã-Bretanha pessoas capazes de atribuir um
incêndio provocado por um raio em York à ira de Deus provocada pela nomeação de
um bispo um tanto boquirroto, como se, em meio à violência, à animosidade, ao
preconceito, à insensibilidade e aos perigos do mundo moderno, Deus não tivesse
mais nada com que se preocupar, nada de melhor para fazer com Seus recursos. E
quando esse mesmo bispo faz uma declaração tão óbvia, tão corriqueira, como a
de que a Ressurreição não pode ser cabalmente provada, ainda há quem grite
blasfêmia ou heresia e peça seu afastamento. Seja como for, há alguma coisa no
ar, da qual o próprio bispo é uma manifestação.
Seria falso de
nossa parte afectar ignorância quanto ao impacto causado por nosso livro, tanto
em vendas como em controvérsia. Pela primeira vez, desde Passo ver Plot, de Hugh
Schonfield, de 1963, algumas questões relativas ao Novo Testamento, a Jesus e à
origem do cristianismo foram levantadas para o público leitor em geral, para o
chamado mercado de massa, e não para um punhado de especialistas académicos e
teólogos. E ficou patente que o grande público leitor estava não só preparado,
mas positivamente ávido por ouvir.
Nem a televisão
nem as empresas editoriais ficaram cegas para as possibilidades. Desde 1982,
vários novos livros foram lançados. Em 1983, The ilIusionist, um romance de Anita Mason,
propôs uma perspectiva controversa mas historicamente válida sobre a
consolidação da Igreja primitiva; foi incluído na lista final de indicações
para o Booker Prize, o mais prestigioso prêmio literário da Grã-Bretanha. Em
1985, Anthony Burgess, de maneira talvez ainda mais controversa, explorou quase
o mesmo território em The Kingdom
of the Wicked. Uma tempestade incipiente foi provocada pelo
romance de Michele Roberts, The
Wild Girl. Inspirando-se, como nós, em dados dos manuscritos
de Nag Hammadi, Michele Roberts apresenta Madalena como amante de Jesus e mãe
de seu filho. Publicado em brochura em 1985, The Wild Girl provocou medonhas fulminações, não somente
de grupos de pressão, como era previsível, mas também de um pretenso Torquemada
com assento no Parlamento; até que avaliações bem mais lúcidas tivessem
conseguido se impor, o livro ficou sob a ameaça de acção penal nos termos da
antediluviana lei britânica da blasfêmia». In Michael Baigent, Richard Leigh, Henry
Lincolin, A Herança Messiânica, 1994, Editora Nova Fronteira, 1994, ISBN
978-852-008-568-5.