sábado, 22 de julho de 2023

Soror Isabel (1673-1752). Jorge Duque Fernandes. «A segunda fonte é o livro impresso em 1757, cinco anos depois da morte da autora, a partir do manuscrito autógrafo, cujo título abreviado, na tese, é Vida da Serva de Deos….»

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Com a devida vénia ao Doutor Jorge Duque Fernandes

«A presente tese, elaborada para a obtenção do grau de Doutor em História, especialidade de História Moderna, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem por finalidade contribuir para o conhecimento das escritoras portuguesas anteriores ao ano de 1900, designadamente das que professaram em Ordens religiosas e escreveram sobre matérias espirituais. O seu primeiro objectivo é gizar a trajectória de vida de Soror Isabel do Menino Jesus (1673-1752), no século Isabel Fernandes, natural de Marvão, no Alto Alentejo, religiosa professa da Ordem de Santa Clara, no Convento de Santa Clara de Portalegre, falecida com fama de santidade e prestígio de mestra do espírito, depois de ali ter vivido quase cinquenta anos, tendo sido mestra da Ordem e abadessa. O seu segundo objectivo é analisar os textos da autora, os quais versam exclusivamente sobre ascética e mística: trinta e seis cartas, uma autobiografia, uma súplica e um tratado. A sua obra propõe um caminho espiritual segundo as escolas místicas franciscana e carmelita, pelas três vias do espírito (purgativa, iluminativa e unitiva) e por três noites escuras; e insiste na castidade, à qual chama ciência das virtudes. Realiza-se, pois, um estudo de caso, com enquadramento na ortodoxia católica, por ter sido neste campo que a autora escreveu, recebendo pareceres positivos da sua Ordem e da censura. A obra foi impressa em 1757, cinco anos depois da sua morte, organizada por frei Martinho de São José, seu confessor, com uma estampa-retrato da autora, aberta por Jean Baptiste Michel Le Bouteaux. O manuscrito autógrafo que lhe deu origem julgava-se perdido, após extravio pela época da extinção do convento, em 1834, mas foi encontrado à venda numa livraria alfarrabista, em Lisboa, em 2013, sendo então adquirido pela Câmara Municipal de Marvão. Este documento, do qual se apresenta transcrição, foi a primeira fonte da tese, à qual se juntaram muitas outras, manuscritas e impressas, concorrendo para recolocar a autora no conhecimento geral das escritoras portuguesas e também dos místicos de Portugal, dos quais pouco se sabe». In RESUMO

 

Introdução

A presente tese, elaborada especialmente para a obtenção do grau de Doutor em História, especialidade em História Moderna, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem por finalidade contribuir para o conhecimento das escritoras portuguesas anteriores ao ano de 1900, designadamente das que professaram em Ordens religiosas e escreveram sobre matérias espirituais. O seu primeiro objectivo é gizar a trajectória de Soror Isabel do Menino Jesus (1673-1752), no século chamada Isabel Fernandes, uma religiosa professa da Ordem de Santa Clara, no Convento de Santa Clara de Portalegre, que morreu com fama de santa e prestígio de mestra do espírito, depois de ali ter vivido quase cinquenta anos, sendo eleita para o ofício de mestra da Ordem e para o de abadessa.

Esta autora, hoje pouco conhecida, à data da sua morte deixou um manuscrito em vias de impressão, o que se deu já postumamente. O nosso segundo objectivo é analisar os textos de Soror Isabel, os quais versam exclusivamente sobre ascética e mística. Esta análise é qualitativa, tendo em conta um enquadramento na ortodoxia católica pós-tridentina, por ter sido dentro deste campo que a autora escreveu, recebendo pareceres positivos da sua Ordem religiosa e da censura. Trata-se de um estudo de caso numa dupla dimensão: quanto à sua vida, na sua Parte II (primeiro objectivo geral) e quanto à sua obra, na Parte I e na Parte III (segundo objectivo geral).

Centramo-nos em duas fontes principais: por um lado, no que Soror Isabel do Menino Jesus escreveu sobre si mesma e, em especial, sobre o seu domínio empírico da ciência ascética e mística, ou seja, os seus textos, a sua obra; e, por outro, no que sobre ela escreveram os seus contemporâneos, em especial aqueles que a conheceram ou observaram o seu comportamento, ou que consultaram testemunhas oculares. A nossa primeira fonte é, assim, o manuscrito autógrafo de Soror Isabel, intitulado postumamente Vida da Venerauel Madre Izabel do Menino Jezus. Falecida em 5 de Outubro de 1752, hoje conservado nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Marvão. Este manuscrito foi extraviado do cartório do convento antes do fim de 1858, vindo a ser por nós encontrado à venda já em 2013, numa livraria alfarrabista de Lisboa.

Trata-se efectivamente de um autógrafo, que, para além de outras características que o indiciam, apresenta a assinatura da autora por trinta e seis vezes, em diferentes páginas, sendo identificável com a assinatura de Soror Isabel do Menino Jesus em numerosos documentos daquele cartório. Pela sua relevância, transcrevemos integralmente o manuscrito e apresentamo-lo em anexo (Anexo I). Dele colhemos abundantes citações, ao longo da tese.

A segunda fonte é o livro impresso em 1757, cinco anos depois da morte da autora, a partir do manuscrito autógrafo, cujo título abreviado, na tese, é Vida da Serva de Deos…. Dissertamos sobre este impresso, mas, dele, nunca citamos os textos da autora, que, verificámos, correspondem aos do manuscrito, salvo na actualização da ortografia e na atribuição de pontuação, decisões do seu editor, o padre João Evangelista da Cruz Costa. Citamos, sim, os textos que os acompanham, nomeadamente a Advertencia, os pareceres da Ordem e dos censores; e, em especial, um Prologo, Progressos, Fim, e Prostestaçaõ, da autoria de frei Martinho de São José, que foi confessor da autora e era então o ministro provincial da Província do Algarves da Ordem de São Francisco, o qual interveio directamente na organização do livro, em vida da autora». In Jorge Duque Fernandes, Soror Isabel do Menino Jesus, Vida e Obra de uma Escritora Mística 1673-1752, Tese para obtenção do grau de Doutor em História, 2016, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Fundação para a Ciência e Tecnologia, SFEH/BD/79496/2011.

Cortesia de FCT/CMM/BMP/JDACT

JDACT, Jorge Duque Fernandes, História, Religião, Literatura, Caso de Estudo,