As amantes
«Os filhos bastardos e estas duas
amantes foram contemplados no testamento do rei, indicador da importância que teriam
para o monarca que, enquanto pai, assumia as suas responsabilidades. Também cuidará
do futuro do neto da sua filha ilegítima, Teresa Sanches, Fernando.
Uma amante régia ascendia a um estatuto
que lhe conferia privilégios que se prolongavam, sobretudo, pelos seus filhos. Assim'
casar com uma mulher que fora amante do rei não era desprestigiante. Pelo contrário,
e assim se entende os casamentos que ambas fizeram com homens da corte de Sancho
I.
Maria Aires de Fornelos, filha de
Aires Nunes de Fornelos, casou com Gil Vasques Soverosa, filho de Vasco
Fernandes, alferes-mor do reino.
Da sua ligação com o monarca não
mais sabemos do que dados biográficos. Desta união nasceram Martim Sanches de
Portugal, conde de Trastâm ara, e Urraca Sanches. Ao que tudo indica, foram entregues,
para que os criasse, a Marinha Viegas, figura ligada à importante família Riba Douro.
O filho que tiveram, Martim Sanches, disputará o trono com o legítimo herdeiro da
coroa, o futuro Afonso II.
O feitiço da Ribeirinha
A Ribeirinha eta filha de Urraca
Nunes de Bragança e de Paio Moniz de Ribeira e Cabreira, que foi alferes-mor de
Sancho I a partir de 1199, o que poderá ter sido a razão da aproximação entre os
dois amantes. De acordo com a tradição, foi neste-preciso ano que Sancho I, em viagem
pelas terras da Guarda, ficou enfeitiçado por Maria Pais Ribeiro. Ou então em Coimbra
se aceitarmos a sugestão do conde de Sabugosa: nos Paços, a par da Sé de Coimbra,
em noites de sarau, quando o luar batia em cheio nas varandas e terraços da Alcáçova
e iluminava a paisagem mórbida do Mondego, enquanto os rouxinóis namorados palravam
nos salgueiros, as rãs coaxavam idílios amorosos nas represas dos rios, e, lá dentro,
nas salas, as jogralezas arqueavam provocantemente os corpos nas danças lascivas.
Esta paixão foi imortalizada em versos
da suposta autoria de Sancho I. Escritos ou não pelo monarca, certo é que esta relação
não passava despercebida à sociedade de então:
Ai eu coitada!
Como vivo em grande cuidado
por meu amigo que ei alongado.
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda!
Ai eu coitada!
Como vivo em grande desejo
Por meu amigo que tarda e não
vejo!
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda!»
In Paula Lourenço, Ana Cristina Pereira,
Joana Troni, Amantes dos Reis de Portugal, 2008, Editora Esfera dos Livros,
2011, ISBN 978-989-626-136-8.
Cortesia de EEsferadosLivros/JDACT
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