Os Cátaros e o Segredo do Santo
Quem
eram os cátaros
«A salvação, nesse caso, seria a
libertação das parcelas de luz perdidas nas trevas do corpo. Acreditavam na
reencarnação: se alguém falhasse nesta vida teria uma próxima chance de
conseguir seu intento. A cruz de Cristo, para eles, era um símbolo falso, pois
não teria havido uma morte real (física), já que Jesus era um ser espiritual.
Seu serviço eclesiástico era
composto de uma leitura do evangelho, um breve sermão, uma bênção e a Oração do
Senhor. Esse serviço podia ser feito em qualquer lugar. Essa abordagem simples
da liturgia teria, segundo alguns estudiosos, antecipado a simplicidade de
seitas protestantes de épocas posteriores.
Maniqueísmo:
a origem do catarismo
Uma das doutrinas que deu origem
ao catarismo foi o maniqueísmo. O maniqueísmo é uma religião de origem
persa, que deve seu nome ao lendário Manés, ou Manion Manique (215-276), da
Babilónia, que teria vivido nos primeiros séculos da nossa era, talvez no
século III. Manés, que se dizia filho da luz, seguia os ensinamentos de
Zoroastro e defendia uma reforma religiosa que procurasse a transcendência e a
libertação das ilusões da vida terrena e corpórea. Tinha um pensamento
dualista, ou seja, para ele o mundo material era ruim, enquanto o espiritual
era o bom. São dois reinos: o da luz, dominado por Deus, identificado como
Ormuzde ou Ahura Mazda, e o das trevas, de domínio de Satã, Ahrimã ou Anrô
Mainiu.
O ser humano, preso por Satã,
deveria lutar sem descanso para se libertar das trevas e readquirir a luz. Sua
libertação só poderia acontecer mediante uma vida austera, passando por três
selos ou modificações: o selo da boca (jejum), o da mão (abstenção
do trabalho) e o do ventre (castidade).
O maniqueísmo conquistou a
atenção de homens como Santo Agostinho. Um de seus mais famosos discípulos foi
Madek, do século VI, que afirmava que todo o mal do mundo era causado pelo
desejo de posse de fortuna e mulheres. Por isso, pregava que esses mesmos itens
deviam ser de posse comum, ou seja, de usufruto de todos. Essa doutrina se
estendeu da África do Norte até a China e, embora fosse combatida tanto pela
Igreja quanto pelos governos dos países onde entrava, se prolongou até a Idade
Média, quando ressurgiu com os cátaros.
Organização
da Igreja cátara
Sabe-se pouco sobre o modo como
os cátaros se organizavam. O que chegou até nós dá uma ideia vaga, mas
consistente. Tinham duas classes ou graus. A primeira, que englobava os
leigos, era conhecida com o nome de crentes ou auditores. A segunda era
composta pelos perfeitos ou eleitos, que enfrentavam um período de prova de
dois anos.
Os crentes tinham regras para
fazer seu jejum e não podiam comer carne, ovos ou leite. A principal obrigação
dessa casta era adorar e alimentar os perfeitos. Os crentes jamais poderiam
aspirar ascender à casta dos perfeitos, considerados de alto nível.
No leito de morte, podiam receber
o consolamentum ou
baptismo espiritual, que combinava características de baptismo, confirmação e
ordenação. Caso não morressem, eram colocados em regime de fome.
Os perfeitos tornavam-se membros
dessa casta depois do período mencionado, no qual renunciavam a todos os bens
terrenos e viviam comunalmente com outros da mesma classe. Evitavam as
tentações da carne isolando-se completamente do convívio com o sexo oposto,
além de fazer voto para nunca dormirem nus. Eram completamente contra a união
sexual, pois perpetuava a vida e aprisionava mais um espírito no mundo espúrio
material. Praticavam o jejum absoluto três vezes por ano, condenavam o serviço
militar e tinham o suicídio como ideal de santidade, sendo sua forma mais
perfeita a endura, onde
passavam fome até morrer.
Uma pessoa podia ingressar na
igreja catara por meio de dois ritos de iniciação. O primeiro era a conveneza, palavra de
origem ocitânia, a língua dos cátaros, que significa acordo ou pacto, um
acordo por meio do qual o crente era consolado na hora da morte mesmo que não
estivesse consciente e em condições de recitar o Pai-Nosso em voz alta». In
Sérgio Pereira Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, Editora Gutenberg,
2013, ISBN 978-856-538-385-1.
Cortesia de EGutenberg/JDACT
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