quinta-feira, 13 de maio de 2010

Amadeu Canário: Um médico, um amigo. Um «Notável» Castelovidense

(1908-1995)
Cortesia de conversas entre jovens e pessoas menos jovens
A Ciência pode ser encarada sob dois aspectos diferentes. Ou se olha para ela tal como vem exposta nos livros de ensino, como coisa criada, e o aspecto é o de um todo harmonioso, onde os capítulos se encadeiam sem contradições. Ou, por outro lado, se procura acompanhá-la no seu desenvolvimento progressivo, assistir à maneira como foi sendo elaborada. Deste ponto de vista, o aspecto é totalmente diferente. Descobrem-se hesitações, dúvidas, contradições, que só um longo trabalho de reflexão e apuramento consegue eliminar. Mesmo que surjam outras hesitações, outras dúvidas, outras contradições, o longo trabalho de reflexão e experiência de Ciência Viva tudo ultrapassa.
Era assim o Dr. Amadeu Ferreira Canário. Tenho esse conhecimento pessoal. A sua tenacidade por encontrar o verdadeiro diagnóstico, sem necessitar de outros atributos complementares tão em voga nos dias de hoje.

Amadeu Canário nasceu em Castelo de Vide, na rua do Marmelo. Licenciou-se em Ciências Médicas pela Faculdade do Campo Mártires da Pátria, em Lisboa.  Exerceu medicina na «grande aldeia» de Lisboa, mas regressou à sua terra natal no início da década de 40.
Pegando nas palavras de RR e com a devida vénia, reproduzo algumas frases do seu texto.
«... chegou a Castelo de Vide por volta de 1942, onde exerceu a sua vida de médico até à reforma. Ao que nos contaram um dos primeiros casos que assistiu ainda estudante, foi um homem que sofreu um AVC. Foi chamado a casa deste e não dispondo de outros meios logo ali lhe fez uma sangria. Foi este um dos milhares episódios que o Dr. Canário assistiu como médico, num tempo em que os clínicos iam a casa dos utentes, fosse de dia ou de noite, chovesse ou escaldasse o sol». É caso para se dizer que o médico Amadeu Canário foi, em muitos episódios, o Dr João Semana, das Pupilas do Sr. Reitor de Júlio Dinis.
«...o Dr. Amadeu Canário granjeava de muita popularidade e confiança, tendo exercido várias funções. Foi assim que para além de Director das Termas da Fonte da Vila (possuía o curso de Hidrologia), foi também médico Hospital da Misericórdia, da Casa do Povo, da Caixa de Previdência, do Centro de Saúde... Muitas vezes praticou actos de pequena cirurgia, sendo a sua mão muito segura e cheia de confiança no uso do bisturi. Outros tempos...»

«Em termos políticos refira-se que o Dr. Amadeu Canário, no início da década de 60, foi Vereador da Autarquia Castelovidense. E depois do 25 de Abril foi o nome mais votado pela multidão que se encontrava no Cine-Teatro Mouzinho da Silveira, numa sessão do MFA e onde se pedia que se escolhessem os nomes para dirigirem a Câmara em plena Revolução de Abril. Foi assim que o Dr. Amadeu Canário chegou a Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Castelo de Vide. Um mandato, digamos assim, que se estendeu até final de 1977 e que ficou para a história, sendo certo que neste período muito se fez pelo concelho. Um tempo áureo em que as sessões da Câmara eram assistidas por muitos munícipes que por vezes apresentavam sugestões muitas delas radicais e revolucionárias. Mas com bom senso a Comissão presidida por Amadeu Canário lá ia fazendo o seu melhor em prol de todos. Por exemplo foi nesta altura que se comprou a casa ao lado da torre do Relógio (onde hoje está o arco novo) ou se deram arranjos nos jardins».

Era na sua Quinta do Arco, no sopé da Serra de São Paulo, que passava os  momentos de lazer, na sua grande parte, e quando os doentes não o procuravam para as curas de última hora. O Dr. Amadeu Canário viveu na Rua da Alfândega, será sempre assim denominada... onde se vislumbra a Serra de São Paulo, que segundo RR, «de onde se tem uma das visões mais bonitas da Serra de São Paulo».

Morre aos 87 anos de idade. Toda a comunidade perdeu um médico que sempre soube fazer o bem. Um AMIGO que partiu. Que deixou saudade na Farmácia do João, no Café Central... Um «Notável» que nasceu numa vila que assim se denomina.
(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí! 
Biblioteca Nacional de Portugal. Ecos antigos : conversas entre jovens e pessoas menos novas / realizado pelos Alunos do 8o A da Escola Básica Integrada Garcia d'Orta ; [dir.] Deolinda Maria Francisca Mota de B. Regala; Autor(es): Escola Básica Integrada Garcia d'Orta (Castelo de Vide);Publicação: Castelo de Vide: Escola Garcia d'Orta, imp. 1995;DESCR. FÍSICA: 45, [1] p. : il. ; 25 cm ;ASSUNTOS: Portugueses -- Castelo de Vide (Portugal) -- Entrevistas -- [Trabalhos escolares];CDU: 316.3(=1.469.511)(047.53);371.5(469.331)(05)

Com a cortesia de RR/Jornal Fonte Nova/JDACT

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