O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Oitenta anos depois da chegada de José Régio a Portalegre, o poeta continua a ser recordado como um dos «expoentes máximos» da cidade, através de várias exposições e conferências que evocam a sua passagem pelo Alto Alentejo.
Em 1929, quando foi colocado como professor de Português/Francês naquela cidade, existia apenas em Portalegre, como lugares de convívio, um teatro, o Grémio Transtagano, um campo de futebol, uma praça de touros e o café Central. Mas, foi na sua casa, «velha, grande, tosca e bela», que o professor José Reis Pereira (José Régio) deu asas à sua escrita, aos seus livros e ao colecionismo de arte sacra, entre outras atividades. Maria José Maçãs, responsável pela Casa Museu José Régio, recordou, em declarações à Agência Lusa, que o poeta gostava de permanecer por casa, no seu “casulo”, como descreve em diversas obras. «Além de escrever, dormia, lia e tomava algumas refeições, não muitas, porque ia à Pensão 21, de que a casa era dependência, e na sua casa recebia os amigos», sublinhou.
«Naquela casa, à qual quis como se fora feita para morar nela», escreveu a maior parte da sua obra literária.
Em Portalegre permaneceu por mais de 30 anos, desenvolvendo, a par do ensino e da escrita, uma constante procura de obras de arte, principalmente de arte popular, dando-lhe valor no devido tempo.
«A casa foi um dos elementos que o fez ficar em Portalegre, porque, como sabemos, achou que vinha desterrado para um lugar que ficava e fica a mais de duas léguas da estação de caminhos de ferro», salientou. Para assinalar a chegada de José Régio a Portalegre está patente ao público no castelo da cidade, até ao dia 19 de Setembro, uma exposição com vários objetos do poeta. No Castelo de Portalegre têm também sido apresentadas várias conferências sobre o escritor, com a participação de amigos de José Régio. O município da cidade, que está também associado a esta efeméride, recordou durante as últimas festas da cidade, em Maio, a figura do poeta com um conjunto de iniciativas.
A autarquia recriou o ambiente que se vivia no Café Central, nos anos 30 do século XX, através da dramatização de palavras de José Régio e promoveu um baile à antiga.
Cortesia da Rádio Portalegre.
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