(1390-1472)
Lagos
Cortesia de revistaantigaportuguesa
Soeiro da Costa foi um navegador português. Um dos Doze de Inglaterra.
De acordo com os dados disponíveis, não há prova de sua filiação mas é provável ser filho ou neto de Afonso Lopes da Costa, que é atestado em Lagos em 1401. Segundo os mesmos dados, Soeiro da Costa teve um filho de nome Afonso e descendia de outro Soeiro, na linha de Afonso Lopes, que provinha dos alcaides-mores de Évora. É provável que um dos seus antepassados seja Gonçalo da Costa, que viveu no século XII.
Deste modo, pertencia à classe da pequena nobreza, de fidalguia antiga mas sem títulos. Seus ancestrais foram alcaides-mores de Évora, nos séculos XIII e XIV, e depois pequenos proprietários rurais no Algarve.
Soeiro da Costa é um dos heróis semilendários do episódio narrado nos Lusíadas, e conhecido como a saga dos Doze de Inglaterra. A lenda é a seguinte:
Os Doze de Inglaterra é o nome atribuído a uma história metade lenda metade verdade que é contada por Fernão Veloso e que terá acontecido no reinado de D. João I de Portugal e que demonstra uma história típica da conduta da Hora e comportamento da Cavalaria medieval.
É uma história cavalheiresca passada na Europa medieval, que conta que doze damas inglesas foram ofendidas por doze nobres, também ingleses que alegavam que elas não eram dignas do nome «damas» visto as vidas que levavam e desafiavam quem quer que fosse para as defender com a força da espada. As damas em questão viram-se na necessidade de pedir ajuda a amigos e parentes, tendo todos eles recusado a ajuda. Já não sabendo mais o que fazer decidiram pedir ajuda e conselho ao Duque de Lencastre que tinha combatido pelos portugueses contra o reino de Castela e conhecia bem os portugueses. Assim este indicou-lhe doze Cavaleiros lusitanos capazes de defender a honra das referidas Damas. Logo que tiveram conhecimento do possível apoio, cada uma das Damas escreveu a cada um dos doze cavaleiros portugueses e até ao rei D. João I. Junto com as cartas chegou também o pedido do Duque de Lencastre.
Mediante o escrito nas cartas toda a corte se sentiu ofendida, e visto que o povo português era um povo cavalheiro e defensor da honra, logo se deu a partida dos Doze para Inglaterra.
O «Magriço»
Cortesia de travassos
Onze dos Cavaleiros terão seguido por mar, mas o mais valente de todos, conhecido como «O Magriço», decidiu seguir no seu cavalo por terra para «conhecer terras e águas estranhas, várias gentes e leis e várias manhas», garantindo no entanto que estaria presente no local e na data certa.
Acontece que, quando chegou o dia do tornéio «O Magriço» não estava presente para desespero dos seus companheiros que se viam reduzidos a onze cavaleiros contra os doze cavaleiros de Inglaterra.
As damas estavam já vestidas de preto, visto que toda uma hora se estava a perder. Mas no último momento e para alegria dos seus companheiros ele apareceu e o combate foi travado com glória para os portugueses que ganharam o confronto.
Depois de terminadas as contendas foram recebidos pelo duque de Lencastre no seu palácio que lhes ofereceu muitas festas e horas como prova de apreço e gratidão. Esses doze cavaleiros ficaram desde então conhecidos como os Doze de Inglaterra.
Torneio dos Doze de Inglaterra
Autoria de Jaime Martins Barata
Cortesia de jaimemb
Antes da partida para Inglaterra, os doze cavaleiros portugueses reuniram-se em Seia.
Descrição: (in Os Lusíadas contados às crianças e lembrados ao povo, adaptação em prosa de João de Barros – Livraria Sá da Costa).
Descrição: (in Os Lusíadas contados às crianças e lembrados ao povo, adaptação em prosa de João de Barros – Livraria Sá da Costa).
Os Doze de Inglaterra é o nome atribuído a uma história metade lenda metade verdade que é contada por Fernão Veloso e que terá acontecido no reinado de D. João I e que demonstra uma história típica da conduta da Honra e comportamento da Cavalaria medieval.
«Iam os nossos portugueses, nesse momento, descansados e bem dispostos. E tão descansados, tão descuidados dos possíveis perigos, que o nosso conhecido Veloso, marinheiro engraçado e esperto, a pedido dos seus companheiros começou a contar, para os distraír, a famosa história de Magriço ou dos «Doze de Inglaterra». Encostado à amurada do navio, à luz das estrelas, e enquanto a frota cortava as ondas serenas, Veloso falava, alegremente. E dizia: - No tempo de D. João I, quando o reino de Portugal já estava sossegado e liberto dos espanhóis, deu-se na Inglaterra uma grande questão entre doze damas e doze cavaleiros. Tanto se envenenou essa questão, que por fim os cavaleiros declararam que as damas nem o nome de damas mereciam. «Grande injúria, já se sabe, injúria que elas não podiam perdoar. Mas não ficou aí o feio caso! Mais afirmaram os fidalgos ingleses que se alguém quisesse defender as damas do insulto recebido, ali estavam todos para matar com lança e espada os audaciosos que a tal se atrevessem. «E a verdade é que, entre os seus compatriotas, nenhum se atreveu a aceitar o desafio, receosos da valentia, da importância e do nome que tinham os cavaleiros insultadores... «As pobres damas, coitadas! choravam e maldiziam a sua triste sorte! «Não sabendo como se poderiam vingar da ofensa recebida, foram pedir conselho e ajuda ao Duque de Lencastre, guerreiro inglês que tinha combatido com os portugueses contra Castela, e cuja filha, D. Filipa, casara com D. João I. «O Duque de Lencastre, logo lhes aconselhou que chamassem cavaleiros da nossa terra para as desagravar, tanta ousadia, boa educação e coragem tinha conhecido e apreciado nos portugueses. «E indicou-lhes imediatamente o nome de doze bravos, seus amigos de Portugal, capazes de combaterem e morrerem por elas. «Mandam as senhoras inglesas um emissário a Lisboa, trazendo cartas de cada uma das damas par a cada um dos nossos valentes portugueses. «Chegam as cartas, com a notícia espantosa. E tanta indignação causou entre nós a conduta dos doze ingleses, que até o Rei D. João I desejava ir castigá-los... «Mas o Rei é o Rei: - tem de governar o seu povo, e não sai da sua terra quando lhe apetece... «Arma-se um navio no Porto e embarcam nele os fidalgos lusitanos. «Mas só onze, embarcaram. O mais valente, chamado Magriço, decidiu ir por terra, prometendo, no entanto aparecer no momento próprio. Queria dar o seu passeio, antes de chegar a Inglaterra.
«Um belo dia, os onze portugueses desembarcam em Londres, onde são muito bem recebidos e tratados.
«Aproxima-se a hora do combate. Ninguém tem medo, dos nossos. Só uma coisa os preocupa: - a demora de Magriço, que anda não se sabe por onde. «Parára na Flandres, e por lá se divertia, sempre lembrado, no entanto, do dia do torneio... Ou não fosse ele um leal e honrado português! «Mas o dia do torneio alvoreceu, e Magriço ainda não estava em Londres! A dama, a quem ele vinha defender, veste-se de luto, certa já de que não teria paladino. «Vai a côrte inglesa toda para o campo de combate. O Rei senta-se no seu trono e as outras pessoas à volta dele. «Os cavalos dos combatentes espumam já. «O sol rutila nas lanças. A ansiedade de todos é enorme. «Mas do lado dos ingleses há doze cavaleiros, e do nosso lado - só onze!... «Onde estaria, perguntam todos, o descuidado Magriço?
«De repente, grande alvoroço se produz e toda a gente olha para a entrada do campo. «É Magriço que entra, montado no seu cavalo, vestido e pronto para o combate. «Cumprimenta o Rei, fala às damas, abraça os companheiros, que rejubilam, e toma lugar ao lado deles. «A sua dama logo ali mesmo se enfeita com luxuosos arminhos, que são adornos de festa. «Dá sinal a trombeta do combate e os cavaleiros espoream os cavalos, largam as rédeas, abaixam as lanças. «Faísca a terra sob as patas dos animais, que mordem os freios de ouro. O chão parece tremer todo, sacudido. «O coração de quem olha os cavaleiros estremece, tão violenta é a luta. «O aço das armas torna-se vermelho com o sangue do inimigo. «Uns, caíndo, parecem voar dos cavalos até ao chão... «Outros, derrubados e arrastados, açoitam com os penachos dos elmos as ancas dos ginetes... «Morrem alguns. O resto fica ferido. E, depois de porfiada peleja, os portugueses vencem inteiramente os adversários, com aprumo e galhardia raras. «A soberba inglesa sofreu assim um duro golpe, mas as damas ficaram desafrontadas da injúria sofrida, graças à coragem e audácia dos nossos, que não hesitaram em bater-se pela honra alheia... «Mais uma vez triunfou o espírito guerreiro e cavalheiresco, e a força invencível da gente da nossa terra. O Duque de Lencastre, para lhes agradecer, albergou no seu palácio os portugueses. E, enquanto eles não regressaram a Portugal, todos os dias lhes ofereceu divertimentos, bailes e jantares, onde nunca faltavam as doze damas. À volta, segundo contam, ainda Magriço e um seu companheiro tiveram alguns desafios, o primeiro na Flandres e o segundo na Alemanha. Não deixavam nunca de pôr à prova a sua valentia e destreza no manejo das armas...». Queria Veloso continuar a sua narração, quando o mestre do navio lhe pediu, e aos seus ouvintes, para estarem alerta...É que se anunciava já a tempestade que Baco projectara desencadear... De facto, uma nuvem negra corria sobre a frota, e o vento crescia com enorme violência».
Torneio dos Doze de Inglaterra
Autoria de Jaime Martins Barata
Cortesia da CMSeia
- D. Álvaro Vaz de Almada (depois Conde de Avranches);
- Alvaro Gonçalves Coutinho, dito “o grão Magriço”;
- João Fernandes Pacheco e Lopo Fernandes Pacheco (filhos de Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de D. Inês de Castro);
- Alvaro Mendes Cerveira e Rui Mendes Cerveira, também irmãos;
- João Pereira Agostim;
- Soeiro da Costa;
- Luis Gonçalves Malafaia;
- Martim Lopes de Azevedo;
- Pedro Homem da Costa;
- Rui Gomes da Silva e Vasco Anes da Costa, dito “Corte Real.”
A base histórica para tal narrativa está, possivelmente, no fato de diversos dentre esses cavaleiros terem, na juventude, peregrinado como cavaleiros andantes pela Europa, lutando em diversos conflitos.
Assim, diz o cronista Gomes Eanes de Zurara (1410-1474) na sua Crônica dos feitos da Guiné, “Ca hera hi Sueiro da Costa, alcaide daquella villa de Lagos, o qual era homem nobre e fidalgo, criado de moco pequeno na camara delrrey dom Eduarte [D. Duarte] e que se acertava de seer em muy grandes fectos; ca elle fora na batalha de Monvedro [Monviedro]], com elrrey dom Fernando dAragom contra os de Vallenca, e assy no cerco de Vallaguer [Balaguer], em que fezerom muy grandes cousas, e foe com elrrey Lancaraao [Ladislau], quando barrejou a cidade de Roma; e andou com elrrey Luis de Proenca [de Provença], em toda a sua guerra. E esteve na batalha da Ajancout [ Azincourt ], que foe hua muy grande e poderosa batalha entre elrrey de Franca e elrrey de Jngraterra. Efora ja na batalha de Vallamont, cabo de Caaes, com o conde estabre de Franca contra oduque dOssestre, e na batalha de Monseguro [Montségur], em que era o conde de Fooes [Foix] e o conde dArminhaque [d'Armagnac], e na tomada de Samsooes [Soissons] e no decerco de Ras [Rheims?] e assy no decerco de Cepta [Ceuta] Nas quaaes cousas sempre provou, coomo muy vallente homem darmas.” (Algumas datas, para se precisar a cronologia: em 1411 acontece a batalha entre Luiz de Anjou, rei de Provença e Ladislau de Durazzo, rei de Napoles; em 27.2.1412 ocorre a batalha de Murviedro; de 1.8.1413 a 31.10.1413, o cerco de Balaguer; entre 1412 e 1413, a batalha de Montségur; em 1414, o cerco de Roma; em 25.10.1415, a batalha de Azincourt; e em 1418-1419, o cerco de Ceuta.)
Soeiro da Costa terá nascido cerca de 1390, muito provavelmente em Lagos, tendo sido seu avô (pai?) Afonso Lopes da Costa, que recebeu em 1384, do Mestre de Aviz, o prazo de uma azenha em Tavira e em 1401 se atesta em Lagos. Em seguida vemos, já com vinte anos ou quase, Soeiro da Costa batendo-se nos principais campos de batalhas de começos do século XV, como o fizeram também Álvaro Vaz de Almada e o grão Magriço. Nos documentos, Soeiro da Costa aparece pela primeira vez em 8 de Maio de 1433, quando D. Duarte o nomeia para o cargo de almoxarife de Lagos, dizendo-o “seu criado.” Em 18 de Maio de 1439, D. Afonso V chama-o alcaide em Lagos no acto em que lhe concede uma tença anual de 200 mil libras. Está como alcaide-mor e almoxarife até 1450, embora o seu genro Lançarote da Ilha apareça como almoxarife em 11 de abril de 1443. Soeiro da Costa renuncia à alcaidaria-mor de Lagos em 1452.
Soeiro da Costa explora a costa da África, e envolve-se em diversos conflitos navais. O rio Soeiro deve-lhe o nome. Soeiro da Costa morre em 1472
Um pouco mais de esclarecimento: «Foi um dos 12 fidalgos, que foram a Inglaterra capitaneados por Álvaro Gonçalves, o Magriço, no ano de 1390, em defesa das damas inglesas, que tinham sido gravemente ofendidas por 12 cavaleiros daquela nação, e pelejaram valentemente ficando vencedores. Em Castela e em França distinguiu-se notavelmente em muitos feitos de armas. Achou-se na batalha de Monviedro em 1412 pelejando no exército de Fernando I de Aragão, e no cerco de Balaguer com o mesmo monarca em 1413, em que ficou prisioneiro o conde de Urgel. Acompanhou o conde Luís de Provença em toda a sua guerra, e assim assistiu à batalha de Azincourt, que se deu entre os reis de França e de Inglaterra e à de Vallemont, à de Monsegur, e à tomada de Soissons. Na conquista de Ceuta foi um dos heróis que muito auxiliaram D. João I. Tantas acções de cavalaria já o fizeram célebre na Europa, e estando bem firmados os créditos do infante D. Henrique pelos sucessos dos seus descobrimentos, a cidade de Lagos, contra as murmurações dos críticos, quis fazer novo armamento no ano de 1445, para destruir a ilha de Arguim, que muitos prejuízos causava, e entregou juntas 14 velas ao capitão Lançarote, que fora criado do infante D. Henrique, no foro de seu moço da câmara, e era almoxarife de Lagos, por mercê do mesmo infante. Soeiro da Costa, apesar de já ter avançada idade mas que não afrouxara como militar aguerrido, ofereceu-se generosamente, e lhe foi dada a capitania de uma delas; as quais, todas reunidas a mais 12, com que os de Lisboa e da ilha da Madeira, nesta facção mais de honra que de interesse, nada quiseram ceder aos de Lagos, saíram daquele porto a 10 de Agosto do referido ano de 1445. Separadas as caravelas por um forte temporal que sobreveio, cada uma com incerto rumo buscava sítio diverso ao longo da costa; mas como prudentemente, Lançarote havia determinado; no caso de tempestade, demandarem a ilha das Graças para se reunirem, ali se foram juntando umas ás outras, e chegadas depois a Arguim, entraram na ilha, afugentando todos os habitantes, podendo apenas lançar mão a 12 homens, que destemidos se arriscaram com as armas na mão a defender-se, combatendo com os nossos, dispostos a morrerem e não a renderem-se. Nesta acção mostrou Soeiro da Costa, qual seria o seu esforço em lances mais arriscados, e não contente com a vitória, com a espada tinta em sangue infiel, como quem prezava mais a religião que o valor militar, pediu que o armassem cavaleiro, para de novo se alistar naquela conquista do Evangelho, e havendo recusado outras vezes esta honra na Europa e de mãos reses; agora a requeria em memoria daquele triunfo, aceitando-a da mão de Álvaro de Freitas, comendador de Aljezur, tendo a glória de o acompanhar o capitão Diniz Eanes de Gram, escudeiro do infante D. Pedro e sobrinho de Gonçalo Pacheco, que fora anteriormente criado do infante D. Henrique, e então já aposentado no oficio de tesoureiro-mor da Casa de Ceuta, que recebeu conjuntamente a mesma dignidade de cavaleiro. Lançarote seguiu viagem, ambicioso de maior gloria, e Soeiro da Costa retirou-se para o reino, acometendo de passagem Cabo Branco e a ilha de Tider, recolhendo-se a Lagos vitorioso, e com muitas prezas que trazia. Soeiro da Costa foi casado com D. Mécia Simões, filha de Gil Simões, alcaide-mor de Estói, de quem teve uma filha, que casou com o capitão Lançarote». In Dicionário Histórico, transcrito por Manuel Amaral.
Cortesia de Jaime Martins Barata/CMLagos/Dicionário Histórico/Arquivo Histórico/wikipédia/JDACT