Cortesia de comunesanmartinobuonalbergo
O cepticismo público sobre o aquecimento global pode estar a crescer, mas o consenso científico está mais sólido do que nunca. As alterações climáticas provocadas pelo homem são reais e nós continuamos a ignorá-las. Mas se esta questão é clara (e devia ser) existe uma outra questão igualmente grande e importante que permanece em aberto:
- o que fazer?
Uma solução que surge cada vez com maior frequência parece, certamente, sensata. O mundo devia cortar drasticamente a quantidade de gases com efeito de estufa que emite para a atmosfera todos os dias. Em concreto, dizem-nos que o objectivo devia ser uma redução de 50% nas emissões globais de dióxido de carbono até meados do século. Até os seus apoiantes admitem que alcançar este objectivo não vai ser fácil - e estão certos. De facto, estão tão certos que estão errados. Permitam-me que explique.
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«A nossa dependência dos combustíveis que emitem dióxido de carbono é enorme. É esmagadora. Apesar de toda a conversa sobre energia solar, eólica e outras fontes de energia verde muito promovidas, elas representam apenas 0,6% do consumo mundial de energia. A maioria da energia renovável resulta da queima de madeira e de biomassa dos habitantes do Terceiro Mundo. Os combustíveis fósseis representam mais de quatro quintos do consumo mundial de energia. Assim, para reduzir as emissões globais de CO2 até meio do século, temos, obviamente, que começar a obter muito mais energia de fontes que não emitem carbono».
Cortesia de fondosypantallas
Podemos fazer isso? De acordo com a Agência Internacional de Energia, isto é o que é preciso para alcançar o objectivo de reduzir as emissões em 50% até 2050:
- 30 novas centrais nucleares;
- 17.000 moinhos de vento;
- 400 centrais de biomassa;
- Duas centrais hidroeléctricas da mesma dimensão da barragem das Três Gargantas na China;
- 42 centrais a carvão e gás com tecnologia de captura de carbono que ainda está por desenvolver.
Esta lista não descreve o que precisaríamos de construir entre hoje e 2050, mas o que precisaríamos de construir todos os anos até 2050! Mais, mesmo que o conseguíssemos fazer (o que é obviamente impossível), o impacto na temperatura global só seria perceptível em 2050. De acordo com os mais conhecidos modelos de economia ambiental, todas estas infra-estruturas acabariam por reduzir a temperatura global em apenas um décimo de um grau centígrado (um quinto de um grau Fahrenheit), e evitariam o aumento do nível do mar em apenas um centímetro.
Não é um resultado muito eficiente. De facto, o custo estimado destes projectos - cerca de 5 biliões de dólares anualmente até 2050 - são tão grandes face aos possíveis benefícios que não faz sentido sequer chamar-lhe uma solução.
Cortesia de rinconsolidario
Felizmente, existe uma forma melhor e mais inteligente de lidar com o aquecimento global. E se, em vez de gastarmos biliões de dólares a tentar construir um número impossível de centrais eléctricas - ou, muito provavelmente, condenar milhões de pessoas em todo o mundo a continuarem na pobreza ao tentarmos tornar os combustíveis fósseis demasiado caros para serem usados - nos dedicássemos a tornar a energia verde mais barata?
Actualmente, os painéis solares são demasiado caros - cerca de 10 vezes mais do que os combustíveis fósseis em termos do custo unitário por energia produzida - que apenas os ocidentais bem-endinheirados, bem-intencionados (e, normalmente, bem-subsidiados) podem dar-se ao luxo de instalar. Mas imaginem onde poderíamos chegar se conseguíssemos melhorar a eficiência das células solares por um factor de dez - por outras palavras, se pudéssemos tornar os painéis solares mais baratos do que os combustíveis fósseis. Não teríamos que forçar (ou subsidiar) ninguém para deixar de queimar carvão ou petróleo. Todos - incluindo os indianos e os chineses, iriam mudar para alternativas mais baratas e limpas - e os objectivos de emissões globais seriam, automaticamente, alcançados.
Podemos alcançar este milagre tecnológico nos próximos 20 a 40 anos? Numa palavra, sim. O preço da energia solar tem vindo a cair nos últimos 30 anos - cerca de 50% em cada década - e poderíamos acelerar esta queda ainda mais com grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Quão grandes? Se estivermos disponíveis a dirigir apenas 0,2% do PIB mundial (cerca de 100 mil milhões de dólares por ano) para a pesquisa e desenvolvimento da energia verde, acredito que poderíamos alterar radicalmente as regras do jogo não só na energia solar mas também numa ampla variedade de outras tecnologias de energia alternativa.
Esta fé no potencial do progresso tecnológico surpreende alguns activistas ambientais, que a consideram ingénua e mesmo ilusória. Mas é real? Pensem num dos milagres dos tempos modernos - o computador pessoal. Estes aparelhos não se tornaram produtos domésticos porque o governo norte-americano subsidiou a compra ou forçou a subida dos preços das máquinas de escrever e das calculadoras. O que aconteceu foi que o governo norte-americano, em grande parte devido à corrida espacial, investiu muito dinheiro na pesquisa e desenvolvimento na área da física e da engenharia electrónica. Os avanços alcançados permitiram não só que Neil Armstrong chegasse à Lua em 1969, mas também tornaram possível que a Apple introduzisse o primeiro Mac em 1976 e a IBM apresentasse o primeiro PC cinco anos mais tarde.
Cortesia de wellnessclub
Podemos fazer o mesmo com a energia verde. Esqueçam os subsídios às tecnologias ineficientes ou a possibilidade de tornar os combustíveis fósseis demasiado caros para serem usados. Em vez disso, devemos financiar a pesquisa básica que vai tornar a energia verde demasiado barata e fácil de resistir. In JORNAL DE NEGÓCIOS, 02 Agosto2010, Bjorn Lomborg, tradução de Ana Luísa Marques.
Bjørn Lomborg é autor dos livros «The Skeptical Environmentalist» e «Cool It». Actualmente é director do Centro de Consenso de Copenhaga, e professor na Copenhagen Business School.
Project Syndicate, 2010, http://www.project-syndicate.org/
Cortesia de Jornal de Negócios, Ana Luísa Marques/JDACT