terça-feira, 3 de agosto de 2010

Luzia - Luísa Grande: Uma das mais brilhantes e cultas escritoras portuguesas dos fins do século XIX e das primeiras décadas do XX. Foi considerada, «O Eça de Queirós de Saias». Segundo as suas palavras, «é fácil e doce a nossa vida. Não corre mais tranquilo um rio manso»

(1875-1945)
Portalegre
Cortesia de Luísa Lopes da Silva
Luísa Susana Grande de Freitas Lomelino Dias, foi uma escritora que viveu na Ilha da Madeira durante muitos anos. Embora tivesse nascido no Alentejo, Luísa Grande passou grande parte da infância na Ilha da Madeira, Quinta das Cruzes, em companhia dos avós maternos. Casou com Francisco João de Vasconcelos, de quem se divorciou aos 36 anos. O divórcio só foi possível depois da Proclamação da República, oficialmente, em 1911, aproveitando e beneficiando da Lei da República de 3 de Novembro de 1910.

Cortesia de falcaodejade
Além duma educação esmerada e de ter visitado várias cidades europeias, Luísa Grande foi uma das mais brilhantes e cultas escritoras portuguesas dos fins do século XIX e das primeiras décadas do XX. Ficou considerada, «O Eça de Queirós de Saias», numa época em que as mulheres tinham extrema dificuldade em se afirmar, publicamente, como autoras literárias. Utilizando nos seus trabalhos o pseudónimo de «Luzia», Luísa Grande Lomelino Dias, só bastante tarde começou a escrever e a publicar, incentivada pela sua talentosa amiga, também escritora e investigadora, Maria Amélia Vaz de Carvalho, que foi casada com o célebre poeta Gonçalves Crespo. Contudo, depois de ter publicado o seu primeiro livro Luzia jamais deixou de escrever, mesmo após ter adoecido e ficado cega.
Deste modo divulgou entre outras obras:
  • Rindo e Chorando (1922);
  • Cartas do Campo e da Cidade (1923);
  • Os Que se Divertem – A Comédia da Vida; (1931);
  • Almas e Terras Onde eu Passei (1936);
  • Uma Rosa de Verão (1940).

Comentando a forte relação da escritora com a Ilha da Madeira, José Martins S. Conde, no livro «Luzia: O Eça de Queirós de Saias», referiu que «quando uma amiga de Lisboa lhe escreve e pergunta:
  • Quando voltas? Não te agarres. Tu és de cá, não és de lá…Luzia responde: - Eu já mal sei donde sou. Como certas plantas em todos os terrenos deito raízes. Onde chego, julgo sempre que vou ficar. Sinto-me já amadeirada. Tenho o meu lugar em todas as mesas de «bridge». Pertenço a todas as associações».

Por sua vez, Luís Peter Clode mencionou no «Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses», que «embora nascida no Continente, na cidade de Portalegre, a Ilha da Madeira era para Luísa Grande a sua terra adoptiva e onde passou a maior parte da vida». (…) Acrescentou ainda, que segundo um biógrafo da escritora «os seus livros não são uma obra de mocidade. Não há nela a inquietação, o entre abrir de sonhos, os passos irreflectidos e audazes de quem marcha na vida, supondo levar na mão um facho de triunfo. A sua obra é sobretudo evocadora para o fio de luar das suas recordações».

http://bmfunchal.googlepages.com/assim_foi_Luzia.pdf

Numa primeira carta endereçada à sua jovem amiga Maria Amélia, escrita em 4 de Abril de 1919, no Funchal, «Luzia» exaltava o clima da Ilha da Madeira: - «Chove e faz sol. O céu está cinzento, azul, cor-de-rosa, verde, doirado…Um céu inverosímil, sobre uma terra inverosímil, onde se pisam flores…E toda a Madeira rescende como o teu lenço, Maria. «Estou talvez no Paraíso… Sim, foi certamente aqui que Adão e Eva comeram aquela deliciosa maçã que tanto lhes amargou depois… «Aqui os nossos antepassados venerandos trocaram a monotonia da perfeição sem fim pela doce vida imperfeita, onde as rosas são mais belas porque se fanam, onde a hora é mais querida porque foge, onde se tem sede de eternidade porque se morre…Aqui conheceram a mortal tristeza e o mortal amor… «Por isso os madeirenses andam sempre enamorados de …seja lá do que for, que a gente afinal gosta é da ilusão» …In Rui Nepomuceno.
Animada, Luísa Grande, incitava a amiga, tentando convence-la a fazer as malas para visitar a Madeira, e afiançava: - «É fácil e doce a nossa vida. Não corre mais tranquilo um rio manso».
E sempre aguçando a sua lupa conservadora e aristocrata, mas temperada por uma fresca ironia, Luísa Grande, a «Luzia», confidenciava à amiga as transformações significativas que ia verificando no tecido urbanístico do Funchal.

Cortesia de verportalegre
Passou o resto dos seus dias a viajar entre Paris, Lisboa e Funchal.
Morre aos 70 anos de idade. 
 
Cortesia de Luísa Lopes da Silva/Rui Nepomuceno/JDACT