segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Retrato de Miguel Corte Real: As honras desta grande descoberta vão para o Doutor Américo da Costa Ramalho, especialista em Cultura Helénica e Humanista. Foi este académico que descobriu um elogio em latim, contemporâneo de Miguel Corte Real, escrito pelo poeta italiano Cataldo Sículo

Pintura de Gaspar Corte Real
Cortesia de dightonrock
Com a devida vénia a Manuel Luciano da Silva, publico algumas das sua palavras.
Todas as honras desta grande descoberta vão direitinhas para o Doutor Américo da Costa Ramalho, Professor da Universidade de Coimbra e especialista em Cultura Helénica e Humanista, em Portugal.
Foi este académico que descobriu um elogio em latim, contemporâneo de Miguel Corte Real, escrito pelo poeta italiano Cataldo Sículo, que residia temporariamente em Lisboa e foi publicado na colectânea POEMATA, em 1502.

Cortesia de booksgoogle
Miguel Corte Real foi à procura do irmão em Maio de 1502. Nem um nem outro jamais voltaram a Portugal. Que eu saiba não há pintura nenhuma de Miguel Corte Real. Nunca ninguém tinha analisado este poema em relação ao navegador Miguel Corte Real. Logo no começo da sua monografia o Professor Costa Ramalho alerta-nos:

Prof. Américo da Costa Ramalho 
Cortesia de uc
«Não há dúvida nenhuma de que se trata do famoso Miguel Corte Real e traz, pelo menos, um subsídio histórico para sua biografia, até hoje não aproveitado». O poema consta de quarenta e quatro versos dedicado a «michaele curie regalis» ou seja a Miguel Corte Real. Vamos rever a tradução do referido poema feita pelo Professor Costa Ramalho: O título do poema é como acima se disse -- «Dedicado a Miguel Corte Real». Nos primeiros versos o poeta expressa a sua «humildade poética» mas ao mesmo tempo revela bem claro o nome do protagonista como sendo descendente dos famosos Corte Reais. Diz o poema:

«Foge-me o talento e a eloquência, apodera-se de mim o terror, quando tento dizer os feitos de tão grande capitão».
«É aquele que tem o nome do príncipe celeste dos cavaleiros e a quem os antepassados legaram o apelido de Corte Real».
«Tudo quanto faz é digno de triunfos, digno de ser posto em tábua de cedro».
«Avô e bisavô o tornaram nobre pelo sangue. E ele os adorava em todas as virtudes».
«Ele tudo realiza, segundo o pensamento de quem lho ordena (o Rei)».
«Cavaleiro ilustre, ora actua como soldado, ora veste armas ligeiras. Em qualquer caso, a sua presença significa victória».

E agora vêm os versos que nos dão em pormenor a aparência, o retrato físico e o carácter do famoso navegador Miguel Corte Real:

«É amável com pessoas amáveis, brando com brandos amigos, mas com os arrogantes torna-se bastante ríspido».
«Não aprendeu as belas letras na infância, mas ensinado pelo seu talento tudo sabe».
«De aspecto, é sereno e belo, e mais belo é o seu íntimo. Da sua boca eloquente jorra uma graça variada».
«Gosta de dar muito, com mão larga, a quem o merece e piedosamente se esforça por não prejudicar a quem o não merece».

Qual era a posição oficial de Miguel Corte Real? É Cataldo Sículo que nos informa:

«Talvez queiras saber qual é o ofício deste Senhor?
«O Rei confia-lhe todos os encargos. Principalmente como porteiro-mor do palácio sobre as muralhas, é ele quem, no meio do silêncio geral, manda trazer os alimentos».
«A este homem tão leal confia D. Manuel com razão os seus segredos, tão grande é a virtude que nele reside, tão grande a honra».

E agora vem a parte guerreira de Miguel Corte Real que era totalmente desconhecida:

«Passou às costas africanas em navios. Era o comandante. Preparava-se para aí conquistar uma fortaleza, pondo-lhe cerco».
«Fosse inveja, fosse o fado iníquo, a multidão dos companheiros entrega-se a vergonhosa fuga, sob a pressão do inimigo».
«Ele com uma pequena força , faz frente aos africanos que se precipitam ao ataque e retira coberto de sangue, depois de grande morticínio».

E o poeta Cataldo conclui o seu poema comparando o heroísmo de Miguel Corte Real aos heróis da Antiga Grécia. O Professor Costa Ramalho faz uma análise pormenorizada dos vários dados revelados neste poema. Explica a origem do nome Corte Real que foi dado à Vasco Eanes, um dos antepassados de Miguel, pelos grandes serviços prestados à Corte Real presidida pelo Rei D. Duarte.

Confirma a posição de porteiro-mor da Casa Real, portanto uma das posições mais altas na Corte Portuguesa. Explica que o verso que diz que Miguel Corte Real «Não aprendeu as belas letras na infância», isso não quer dizer que o navegador era analfabeto! Quer dizer, sim, que Miguel Corte Real não sabia Latim. E o Professor Costa Ramalho acrescenta que isto é muito importante para darmos razão ao facto de Miguel Corte Real não ter deixado nenhuma mensagem em latim gravada na Pedra de Dighton. Esta conclusão é igual à que afirmei no meu livro «Portuguese Pilgrims and Dighton Rock» publicado em 1971.

Infelizmente a mensagem que o psicólogo-historiador, Prof. Delabarre da Universidade de Brown, sugeriu em 1928 de que Miguel Corte Real tinha deixado na Pedra de Dighton uma mensagem em latim = "V(oluntate) Dei Hic Dux Ind(orum)", significando: " Chefe dos Indios aqui", é uma FANTASIA que continua a ser repetida em muitas notas de rodapé, que na realidade são aquilo a que eu chamo "notas de chulé"!

Outra análise importante do poema de Cataldo é o facto de ficarmos a saber que Miguel Corte Real também foi guerreiro nas campanhas de Norte Africa. Isto é muito importante para explicar a assinatura duma carta dele em 1501 dirigida ao Rei D. Manuel, que o próprio historiador Henry Harrisse teve dificuldade em entender porque não tinha dados que explicassem que Miguel Corte Real jamais tinha estado em Málaga, Espanha, no ano antes de partir para a América do Norte, em 10 de Maio de 1502, à procura do irmão Gaspar Corte Real que não tinha regressado a Lisboa da sua segunda viagem em 1501.

O Professor Costa Ramalho conclui o seu trabalho desta maneira:

«Durante anos, a teoria prevalecente foi a do psicólogo, tornado historiador, Professor Edmund Burke Delabarre, que , descobriu o nome de Miguel Corte Real, o Escudo Português e a data de 1511. Posteriormente (1951), um professor universitário de Português, José Dâmaso Fragoso, (na New York University), revelou a existência de heráldica lusa no rochedo, três cruzes da Ordem de Cristo. E um médico de origem portuguesa, estabelecido nos Estados Unidos, o Dr. Manuel Luciano da Silva, tem sido o ardente propagandista da teoria de que o rochedo de Dighton é um documento histórico da presença de Miguel Corte Real nas costas da América do Norte. Ele nega a mensagem em latim, reduzindo o texto da inscrição ao nome do navegador e a uma data, 1511, além de um Escudo Português e três Cruzes da Ordem de Cristo».

Manuel Luciano da Silva, médico
Cortesia de atlanticconference
Fez, no dia 18 de Dezembro de 1998, 80 anos que o Professor Delabarre lançou a teoria portuguesa das inscrições portuguesas gravadas na Pedra de Dighton. Durante estas oito décadas todas as investigações só têm servido para consolidarem cada vez mais a Teoria Portuguesa da Pedra de Dighton. Claro que fiquei satisfeito com este artigo original do Professor Costa Ramalho que chegou a ser «Visiting Professor» de Português na «New York University», entre 1959-1962. Devo realçar ainda mais a importância da investigação original do Professor Costa Ramalho pelo facto de ser baseada na análise dum documento contemporâneo de Miguel Corte Real. In Manuel Luciano da Silva (médico).


A Pedra de Dighton
Cortesia de topazio1950
Cortesia de Manuel Luciano da Silva/JDACT