Cortesia de ateneulivros
Soneto
Quando cuido senhora, quanto escrevo
Tudo em vossos fermosos olhos leo,
Neles, ante quem tudo é escuro e feo,
Aprendo, e vejo como amar-vos devo.
Vejo, que ò vosso amor todo me devo,
Mas não vos sei amar, e assi m'enleo
Que não sei se vos amo, ou se o receo,
E a julgar em mim isto náo m'atrevo.
Em vós cuido, em vós falo o dia e hora,
Mouro por ver-vos, ir-vos ver não ouso
Por não ver quanto mais devo do que amo.
Ò sol e à sombra o vosso nome chamo,
Fora destes cuidados não repouso,
S'isto é amor vós o julgai senhora.
Cortesia de shopcosis
Soneto
Rosto que a branca rosa tem vencida
E ante quem a vermelha é descorada,
Olhos, claras Estrelas, que espantada
Tem alma, aceso o peito, presa a vida.
Cabelos, puros raios, que abatida
Deixam da Manhã clara a luz dourada,
Divina fermosura, acompanhada
Da virtude a poucos concedida.
Palavras, cheias d'alto entendimento,
Raro riso, alto assento, casto peito,
Santos costumes, vivo e grave esprito.
Divino e repousado movimento,
E muito mais qu'esta em minh'Alma escrito,
Me tem num puro amor todo desfeito.
Cortesia da Fundação Calouste Gulbenkian/JDACT