sábado, 19 de março de 2011

A Bela Poesia: Pedro Homem de Mello. «Deu-me frutos duradoiros a paz, a fortuna, o amor. As musas vieram pôr na minha fronte os seus loiros... A vida foi passando, foi passando...E nunca mais vieste!»

Cortesia de afifedigital 

Canção à Ausente
Para te amar ensaiei os meus lábios...
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lábios!

Para tocar-te ensaiei os meus dedos...
Banhei-os na água límpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!

Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silêncio...
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!

E a vida foi passando, foi passando...
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.

A vida foi passando, foi passando...
E nunca mais vieste!
Pedro Homem de Mello
 
Ironia
De tanto pensar na morte
Mais de cem vezes morri.
De tanto chamar a sorte
A sorte chamou-me a si.

Deu-me frutos duradoiros
A paz, a fortuna, o amor.
As musas vieram pôr
Na minha fronte os seus loiros...

Hoje o meu sonho procura
Com saudade a poesia
Dos tempos em que eu sofria...

— Que triste coisa a ventura!
Pedro Homem de Mello
 
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