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«Que ele próprio fosse homem de estudo se depreende das palavras de Azurara. Noites a fio sem dormir, passava a trabalhar e tudo nos leva a crer que maiormente se dedicou aos estudos de astronomia e geografia. Azurara e Cadamosto, que viveram na sua intimidade, concordam em afirmar os seus grandes estudos e competência, e mais designadamente «acerca dos movimentos dos corpos celestiais». Do aeu interesse pelos estudos astronómicos se infere também, pelo grande número de físicos, quase todos judeus, que teve ao seu serviço. Com efeito, naquela época, a ciência médica e astronómica, melhor diríamos, astrológica, coincidiam por via de regra, nos mesmos indivíduos. Só assim se explica que entre 1440 e 1450 os documentos mencionem uns 5 físicos do Infante. Temos poe certo que esta junta astronómica coincide com a elaboração das primeiras regras de astronomia náutica em Portugal.
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Dos seus estudos de geografia implicitamente se conclui pelas referências de Azurara, de Diogo Gomes e ainda dos cronistas posteriores. E indício igual podemos tirar da origem e qualidade de muitos dos colaboradores estrangeiros, que chamou para seu lado. Azurara afirma:
- Sua casa foi um geral acolhimento de todolos bons do reino e muito mais dos estrangeiros... que comunalmente se achavão em sua presença desvairadas nações de gentes, tão afastadas do nosso huso que quasi todos o haviam por maravilha...
Das crónicas e documentos sabemos que teve a seu serviço, além de muitos judeus, numerosos genoveses, venezianos, flamengos, alemães, castelhanos, ingleses, franceses, um dinamarquês, moiros, canários, abissínios e índios.
Dentre esses estrangeiros alguns convém assinalar:
- Jaime de Maiorca, mestre cartógrafo da escola então nomeada;
- António da Nole, duma família de cartógrafos genoveses émulos dos malhorquinos;
- Cadamosto e Patrício de Conti, um navegador, outro cônsul de Veneza, o grande empório do comércio das especiarias;
- Valarte, vassalo do rei da Noruega, país que monopolizava o comércio com a Islândia e a Gronelândia;
- Um mercador de Orão, cidade que mantinha um tráfico directo com os grandes portos comerciais do Índico, como Calecut e Malaca;
- Abissínios do reino do Preste João e índios.
Deste enumerado, ainda que sumário, é fácil supor a vastidão dos conhecimentos e do horizonte geográfico pelo Infante abrangidos.
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Sobre um desses nomes vale a pena determo-nos tão eloquentes são os ensinamentos que a sua obra nos oferece. Não restam dúvidas sobre a identidade de Jaime de Maiorca. Uma notável monografia de Gonçalo de Reparaz, Filho, publicada na Biblos, revista da Faculdade de Letras de Coimbra, terminou com a debatida questão, identificando sem sombra de dúvida Jaime de Maiorca com Jaffuda, filho de Abraham Cresques, o cartógrafo de Maiorca, autor do célebre Atlas de 1375-77, que se guarda na Biblioteca de Paris.
Esse Atlas, obra tanto de arte como de ciência, constitui só por si a mais elequente das ilustrações ao desígnio do Infante D. Henrique. Pintado em pergaminho fino colado sobre 7 tábuas, longas e deslumbrantes de cor, representa as terras a esse tempo conhecidas e constitui uma espécie de políptico do Mundo. Essa representação vai desde as ilhas Órcades, a Noruega, a Rússia e a Sibéria, ao Norte, até além do Cabo Bojador e ao ocano Índico, ao Sul; e desde os Açores, a Madeira e as Canárias, a Ocidente, até a cidade de Cambalec (Pequim), no Extremo Oriente.
Por toda a parte, nos 3 continentes, se lêem legendas, cujo conjunto constitui um pequeno mas precioso compêndio de notícias de geografia física, comercial e política». In Jaime Cortesão, A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino, Portugália Editora, 1965.
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