Cortesia de jcnomundoatua
Globalização
«Tenho uma amiga que estuda a vida comunitária na África central. Há alguns anos, visitou pela primeira vez uma região remota, onde queria começar a fazer trabalhos de campo. No dia da chegada, foi convidada para uma festa em casa de uma família local. Foi, na esperança de descobrir qualquer coisa sobre a forma de passar o tempo daquela comunidade isolada. Em vez disso, tudo se resumiu a ver o filme Basic Instinct num vídeo. Na altura, o filme ainda nem sequer estava a ser exibido nos cinemas de Londres.
Estas situações revelam qualquer coisa acerca do mundo em que vivemos. E o que revelam não tem nada de trivial. Não se trata apenas de as pessoas incluírem aparelhagens moderna, vídeos, televisores, computadores pessoais e coisas do género, na suas maneiras habituais de viver. Vivemos num mundo de transformações, que afectam quase tudo o que fazemos. Para o melhor ou para o pior, estamos a ser empurrados para uma ordem global que ainda não compreendemos na sua totalidade, mas cujos efeitos já se fazem sentir em nós.
A palavra «globalização» pode até nem ser muito elegante ou atractiva. Mas ninguém, absolutamente ninguém, que pretenda progredir neste início de século a pode ignorar. Nestes tempos mais recentes, não estive em nenhum país em que a globalização não estivesse a ser discutida. Na França, a palavra é mondialisation. Na Espanha e na América Latina, globarización. Na Alemanha dizem grobalisierung.
Cortesia de lofs9
A divulgação da palavra por toda a parte é a melhor prova da evolução que ela representa. Nenhum guru da gestão a dispensa. Nenhum discurso político fica completo sem se referir a ela. Contudo, até finais dos anos 80, o termo quase não era usado, nem na literatura académica nem na linguagem corrente. Apareceu não se sabe de onde, para chegar a quase todos os sítios.
Dada esta popularidade súbita, não é de surpreender que o significado do termo nem sempre seja claro, como não devemos estranhar que houvesse uma reacção intelectual contra ele. A globalização tem algo a ver com a tese de que agora vivemos todos num único mundo.
Mas como, exactamente?
E será a ideia realmente válida?
Nos debates que irromperam nestes anos mais recentes, o conceito de globalização tem sido definido em termos contraditórios por diversos pensadores. Há quem renegue totalmente o conceito. A estes, darei o nome de cépticos.
Cortesia de globalizacaoetecnologia
De acordo com os cépticos, toda esta conversa acerca da globalização não passa disso mesmo, de conversa. Quaisquer que sejam os seus benefícios, preocupações ou dificuldades, a economia global não é assim tão diferente da que existia em períodos antecedentes. O mundo continua o mesmo, está assim desde há muitos anos.
Para a maioria dos países, argumentam os cépticos, o comércio externo representa apenas uma pequena percentagem do rendimento nacional. Além disso, uma boa parte das trocas económicas é feita entre regiões, sem implicar a existência de um verdadeiro sistema de comércio a nível mundial. Por exemplo:
- a maior parte do comércio dos países da União Europeia é feita com os outros países membros. O mesmo se pode dizer de outros blocos económicos, como os da Ásia-Pacífico ou da América do Norte.
Há outras pessoas que adoptam posições muito diferentes. Vou chamar-lhes radicais. Para os radicais a globalização é um facto bem concreto, cujos efeitos se fazem sentir por toda a parte. O mercado global está, segundo eles dizem, muito mais desenvolvido do que estava em épocas recentes, nos anos 60 e70, por exemplo, e é indiferente às fronteiras nacionais. As nações perderam uma boa parte da soberania que detinham e os políticos perderam muita da sua capacidade de influenciar os acontecimentos». In O Mundo na Era da Globalização, Anthony Giddens 1999, Editorial Presença 2ª edição, Abril 2000, ISBN 972-23-2573-6.
Cortesia da Editorial Presença/JDACT