quinta-feira, 5 de maio de 2011

Carla Alferes Pinto: A Infanta dona Maria de Portugal, o Mecenato de uma Princesa Renascentista. Parte III. «1946 marca o início de uma preocupação de ordem mais historicista na análise da figura de D. Maria. Durval Pires de Lima, fascinado com a complexa e imbricada estória das ofertas de casamento à Infanta escreve um artigo relatando a esquecida proposta de Henrique VIII...»

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«José Maria Rodrigues, mesmo antes do fim da década, desenvolve - e defende até ao fim da vida - a hiperbólica tese dos amores camonianos pela Infanta. Esta ideia era essencialmente baseada no estudo da personalidade e da obra lírica de Luís Vaz de Camões, considerando que o alto pensamento do poeta não poderia ser dirigido a outra que não a culta e bela filha de D. Manuel. A tese infantina teve alguns reflexos no panorama das letras internacionais mas foi muito criticada internamente, talvez com o mesmo exagero com que foi defendida por Rodrigues.
E em 1909, Joaquim de Araújo publicou em Génova um pequeno opúsculo com o objectivo de enriquecer algumas informações fornecidas por Carolina Michaelis de Vasconcelos, nomeadamente no que dizia respeito às suas relações com França. Vieram, então, à estampa algumas cartas em francês e o retrato cópia da Abadia de St. Vaast, pela primeira vez impresso.

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1946 marca o início de uma preocupação de ordem mais historicista na análise da figura de D. Maria. Durval Pires de Lima, fascinado com a complexa e imbricada estória das ofertas de casamento à Infanta escreve um artigo relatando a esquecida proposta de Henrique VIII e imaginando uma pretensa esterilidade da princesa. Em 1950, o conde de Vila Franca dedica-lhe algumas linhas na monografia. intitulada, D. João I e a Aliança Inglesa;  mas o grande contributo seguinte para o enriquecimento em torno do conhecimento desta personagem foi a dissertação de doutoramenro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Toulouse escrita por Joaquim Veríssimo Serrão e publicada em 1955. Esta monografia refere, documentadamente, um aspecto até então quase ficcional da vida da Infanta
  • a sua fortuna no Sul de França.
Além do levantamenro da documentação existente, Veríssimo Serrão fez uma análise cuidada das relações económicas e políticas que a herdeira da rainha D. Leonor teve de enfrentar nas terras além-Pirenéus, abrindo caminho a uma série de questões que são colocadas e, julgamos, minimamente respondidas.

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Mais recentemente, a publicação de uma outra tese de doutoramento sobre As regências na menoridade de D. Sebastião, de Maria do Rosário Themudo Barata (1992), trouxe um valioso contributo sobre o entendimento das ambições e desempenhos políticos de D. Maria, fechando um ciclo de contributos aleatórios que propiciavam a realização de uma extensa monografia sobre tão rica personagem.
Uma última menção para o facto de haver um número muito reduzido de documenros referentes à infanta D. Maria, nomeadamente no que diz respeito à sua casa. A presença de D. Maria - que se adivinha mais do que se vê - foi propositadamente apagada, a ponto, julgamos, de se provocar uma sangria nas provas escritas no período coincidente, com o momento em que D. João III separa a casa real da sua (c. 1537).
É provável que existam nos arquivos portugueses mais testemunhos ainda não idendficados e, certamente, nos arquivos espanhóis. Sabemos, por exemplo, que Frei Miguel Pacheco (?-1668), regular da Ordem de Cristo no Convento da Luz, se deslocou a Madrid para tratar de problemas relacionados com a fortuna da Infanta. Nessa cidade exerceu o cargo de administrador do Hospital de Santo António dos Portugueses, o que justificaria a instituição de uma verba para as obras do hospital a debitar nos cadernos de D. Maria». In A Infanta dona Maria de Portugal, o Mecenato de uma Princesa Renascentista, Fundação Oriente, ISBN 972-9440-90-5.

Cortesia da Fundação Oriente/JDACT