quinta-feira, 21 de julho de 2011

Leituras. Parte X: César Videira: Memória Histórica de Castelo de Vide. «Assim, ocorre naturalmente perguntar: quando se fundou a vila de Castelo de Vide? É coeva, anterior ou posterior à existência da monarquia portuguesa a sua fundação? Para, de algum modo, poder mais ou menos satisfatoriamente, responder a esta interrogação, que desde logo acode à mente, cumpre em primeiro lugar volver um olhar retrospectivo…»


(1848-1917)
Castelo de Vide
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A Vila Antiga.
«A natural curiosidade, que a todos domina, de explicar tudo o que nos rodeia, conduz, por via de regra, a investigações inúteis, quando vão demasiado longe as aspirações humanas, intentando devassar a origem das coisas. Mas não há resistir a esta ânsia de saber: todos se precipitam com igual ardor neste caminho escabroso e difícil. Vencê-lo é quase sempre impossível, porque as dificuldades sobrevêm a cada passo, opondo irresistíveis embaraços aos que, mais ousados que prudentes, se aventuram a estes ínvios e enredados atalhos, que não raro afastam em vez de aproximar da meta desejada. O cansaço e o desalento vêm, alfim, como resultado infalível de tão temerários cometimentos.

Sem embargo, a lição, tantíssimas vezes repetida, mostra-se improficua: não aproveita a ninguém. O espírito, insatisfeito sempre e ávido de luz, avança de contínuo, entregando-se a novas aventura. Apesar de conhecedor desta verdade inegável, aqui estou eu, desejando explicar a origem de Castelo de Vide, envolvido em iguais dificuldades.

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Em superá-las não acredito certamente; mas da tentativa de o conseguir também não desisto. Vou na esteira dos que se abalançam a empresas idênticas. O exemplo é contagioso. Na impossibilidade, pois, de caminhar à luz clara do Sol da história, tactearei à claridade indecisa e vaga da noite do passado o caminho da verdade, até que a cerração das trevas se faça completa, tolhendo-me de todo o passo.

Assim, ocorre naturalmente perguntar: quando se fundou a vila de Castelo de Vide? É coeva, anterior ou posterior à existência da monarquia portuguesa a sua fundação? Para, de algum modo, poder mais ou menos satisfatoriamente, responder a esta interrogação, que desde logo acode à mente, cumpre em primeiro lugar volver um olhar retrospectivo sobre as diferentes camadas sociais, que pisaram o solo da Península Ibérica, e o estado em que ela se encontrava ao tempo em que o reino de Portugal se desmembrou da monarquia leonesa, convertendo-se em nacionalidade autónoma e independente, para tornar compreensível a resposta.


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Muito pela rama o farei, porque não cabem desenvolvimentos largos em tão comezinho trabalho, ainda que eu pudesse dar-lhos.
Parece que, em migrações sucessivas e originárias da Ásia, suposto berço da humanidade, vieram para a Península, em primeiro lugar, os iberos, e depois os celtas, cujo encontro, na parte central dela, produziu os povos mistos, que se chamaram celtiberos. Foram estes, segundo se crê, os primitivos habitantes da Península, onde vieram encontrá-los, mais tarde, outros povos, assim europeus, como africanos, atraídos pela fama da fertilidade do seu solo e riqueza de suas minas, depois de descoberta por audazes navegadores, que abicaram às praias desconhecidas deste ponto do globo. Pouco mais ou menos, guardadas as diferenças dos tempos, o que sucedeu connosco a respeito da Índia. A Espanha foi, nos tempos antigos, o campo aberto à exploração dos povos colonizadores, ou dos que, arrastados por simples lucros passageiros, demandavam as praias peninsulares em náuticas aventuras.
Entre as nações mais adiantadas, que, por este modo, puseram pé em território ibérico, contam-se os fenícios, gregos, cartagineses e romanos». In César Videira, Memória Histórica da Muito Notável Vila de Castelo de Vide, Edições Colibri e CIDEHUS-EU, 3ª edição 2008, ISBN 978-972-772-802-2.

Cortesia de Edições Colibri/JDACT