Cortesia da foriente
Um negócio de política internacional. As relações com o Brasil, a Holanda e a China
«Se, devido à paragem não programada no Brasil, o embaixador escreve directamente em 28 de Maio de 1727 um papel de apresentação ao governador do Rio de Janeiro, Luís Vahia Monteiro, para o responsável político de Batávia, ao invés, o mesmo D. João V redigira em Portugal duas cartas antes da saída da embaixada. A paragem de tipo técnico na ilha flamenga à procura de um guia local que conduzisse os lusitanos a Macau, através do insidioso mar chinês, resultou portanto menos casual e mais programada em relação à permanência no Rio de Janeiro. O interesse de Portugal para com os holandeses, sobretudo quando se atenuaram as desinteligências com a Vereenigde Oost-Indische Compagnie, referia-se em particular ao comércio com a cidade de Batávia, onde os macaenses negociavam chá em troca principalmente de pimenta. O contacto com a Batávia ao longo do tempo ‘transformar-se-ia numa estreita dependência à medida que outros mercados no Mar da China Meridional se fechavam aos Portugueses’.
Cortesia de foriente
Após a interdição, na China dos Ching, ao comércio externo em 1717, a ilha holandesa revelara-se uma fonte de negócio para os mercadores independentes portugueses em Macau que tinham assumido também a função de traficantes por parte de Cantão. A missão de Alexandre Metelo de Sousa e Meneses penetra exactamente nesta dura e complicada situação comercial do Este do continente euro-asiático.
Mas em particular, incumbe ao legado do rei tratar negócios directamente com a China, na esperança de continuar a manter com este império boas relações políticas, económicas e religiosas. Metelo tinha de moderar a tensão política, temperar o novo monarca manchu e ajustar as condições diplomáticas com o desejo de conservar intactos os interesses de ambas as partes e de favorecer uma recíproca colaboração atenta às necessidades comuns.
Objectivos e resultados da embaixada
Os objectivos desta ingrata, difícil e, ao mesmo tempo, considerável e complexa missão que o enviado da Coroa tinha de atingir assentavam, fundamentalmente, com graduais e diferentes matizes, nestes pilares:
- Agradecer os apoios recebidos até aquela altura por parte do imperador Kangxi. O rei escreve na carta enviada através de Metelo: «tendo na minha lembrança o m.to q. favorecia (Kangxi) aos meus vassallos q. rezidião nesse Imperio, e a grande propenção q. mostrava p.ª tudo o q. tocava aos interesses desta Coroa». O embaixador, referindo ao rei o êxito da missão, sublinha que comunicou ao imperador os agradecimentos pelo «bem» com que «sempre tratou os seus vassalos assistentes naquelle Imperio, e em Macau»;
- Mostrar gratidão pelos presentes que Kangxi enviara a D. João V, «no acto de attenção que o Imperador fez em mandar ao meu Monarcha hum grandiozo mimo, poz a ElRey meu amo em hum grande reconhecimento»; «obrigado ao Imperador defunto, pela lembrança do mimo que lhe mandou pelo Padre Magalhães»;
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- Enviar ao novo soberano presentes do mesmo teor dos que o rei D. João V recebera do imperador Kangxi «gratificar-lho com o riquíssimo prezente de trinta caixões de exquisitas preciosidades»; «o acto da attenção que faz em mandar a Sua Magestade hum grande mimo»; «mandar-lhe com a remessa de hum inestimavel mimo»;
- Manifestar a Yongzheng o profundo pesar pelo óbito do seu pai Kangxi «cumprimentar o Imperador reinante com o pezame da morte do seu pae»; «que com a notticia do dito Imperador ser falecido (o Rei) ficara summamente sentido»;
- Apresentar cumprimentos, congratulando-se pela elevação de Yongzheng ao trono «mandar felicitar ao Imperador da China, da sua exaltação ao trono»; «dar (...) os parabéns da sua exaltação ao throno»; «este negocio se dirige a dar os parabens ao Imperador da sua assumpção ao throno»; «comprimentar o Imperador Reinante»;
- Assegurar com o novo imperador a boa correspondência de amizade já encaminhada durante o período de regência de Kangxi, o mesmo rei na sua carta de 29 de Março de 1725 escreve: «meu mui claro e amado Amigo (...) q. como Irmão m.to amo, e prezo (...) o meu desejo é de continuar a mesma boa amizade, e correspondencia co a sua real pessoa»; e Metelo ecrescenta: «que o Rey N. Sñr. fazia tam grande estimação da amizade de S. Mag.de Imperial (...) congratula-lo por se achar digno sucessor do Imperio de seu Pay»; «tinha que pedir da parte de ElRey (...) que quizesse se conservasse entre ambos os reinos aquella reciproca amizade, e correspondencia que houve no reinado do Imperador defunto», «e cultivar a amizade do mesmo Imperador»;
In Mariagrazia Russo, Embaixada de D. João V de Portugal ao Imperador Yongheng, da China, 1725-1728, Fundação Oriente, 2005, António V. Saldanha, 2005, ISBN 972-785-083-9.
Continua
Cortesia de F. Oriente/JDACT