Cortesia de civilizacao
Raíz Comum
Da desordem nunca
erguerei um verso.
Bem sei
que na bela superfície de um momento,
existe o alento
da Poesia.
Mas é do futuro,
é do instante que serve
a continuidade da vida
em sentimento,
que desejo o meu poema.
O Homem,
sofrido a prosseguir
na sua eternidade construída,
eis o meu tema.
Cortesia de civilizacao
Ó que imenso dissipar
Ó que imenso dissipar
Ppr assim gostar de tudo!
Com o meu ser estendido,
tenso ao apelo do mundo,
pulsando seu movimento
vou erguendo esta prisão.
Os pés retidos, imóveis,
pelos choques de atracção
com a alma paralisada
contendo tanta largueza
e aspectos da vastidão.
Por que ter tantos sentidos,
o sentimento tão apto
e o coração vulnerável?
Por que sentir sem repouso
num existir que é um rapto
exausto de comunhão?
Uma pobreza qualquer,
pobreza em voz, em beleza,
em querer, em perceber,
uma pobreza qualquer
onde eu possa enriquecer.
Poemas de Lupe Garaude, in «Raíz Comum»
Editora Civilização Brasileira
Exemplar nº 0157, 1959/JDACT