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Com a devida vénia a Belmiro Jordão e Fernando José Teixeira.
História e Arte
A Irmandade de Nossa Senhora da Penha e a Imagem de Nossa Senhora do Ó
«Celebrando-se os 144 anos (e alguns meses) da primeira reunião para a instituição da Irmandade de Nossa Senhora da Penha e os 64 anos (e 4 meses) da inauguração do Santuário da Penha, decidi lembrar que em 1871, uma imagem de "Nossa Senhora do Ó", existente na igreja conventual de S. Francisco de Guimarães, foi cedida aos devotos da Senhora da Penha para aí ser colocada à devoção dos fiéis.
Mas comecemos esta história pelo princípio. Diz o Abade de Tagilde que já no século XVI existia na igreja conventual de S. Francisco de Guimarães, um altar dedicado a Nossa Senhora do Ó, facto que foi confirmado em 1692 pelo Padre Torquato de Azevedo ao dizer que Pedro Lagarto e sua mulher instituíram um vínculo com jazigo nobre atrás da capella de Nossa Senhora do Ó, da igreja de S. Francisco. O mesmo Padre Torquato escreveu que na parede sul da igreja conventual existia “a capela de Nossa Senhora do Ó, administrada por seus confrades, e anexa à albergaria do Anjo”. Pouco tempo depois, em 1726, o Corregedor Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, no capítulo que dedicou ao Convento de S. Francisco de Guimarães, escreveu que “no corpo da igreja, da parte da epistola, abaixo da capela dos Santos Mártires, que está no cruzeiro, fica a capella de Nossa Senhora de Ó, de que são administradores os seus confrades e recolhem seus foros”. Esta localização é preciosa porque localiza o altar abaixo da capela dos Mártires de Marrocos (que então se encontrava no local hoje ocupado pelo altar do Senhor da Paciência), no lugar onde hoje se encontra o Altar de Nossa Senhora da Conceição.
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Mas pouco tempo aí permaneceu, pois já lá não estava em 1737. Consta do Tombo das Rendas de Nossa Senhora do Ó, lavrado nesse ano, que esse altar estava então entre o altar de S. João Evangelista e o de Nossa Senhora da Embaixada. Como sabemos por outras fontes que o altar de S. João estava abaixo do altar dos Mártires de Marrocos, no transepto da igreja, e o altar de Nossa Senhora da Embaixada estava levantado no local hoje ocupado pelo altar de Nossa Senhora do Socorro, podemos concluir que em 1737 o altar de Nossa Senhora do Ó estava colocado no local onde hoje está a Árvore de Jessé.
Porque foi feita a mudança?... não o sabemos.
Através do Tombo de 1738, ficámos a saber que no altar dessa Confraria achava-se uma Árvore de Jessé, tendo ao centro a imagem de "Nossa Senhora do Ó", de pé, de vulto, dourada e estofada, com uma coroa de prata. A árvore de Jessé volta a ser referida no inventário da Confraria de 1777, mas dessa vez que qualquer referência a "Nossa Senhora do Ó":
- “…um Altar com uma Senhora com uma árvore de Jessé com doze Reis de pau, pintados, e seu retábulo, e uma sanefa de pau, de talha, e dourada, que custou 60$000”. A omissão do nome de Nossa Senhora do Ó foi certamente intencional, indicando que no alto da Árvore de Jessé já não estava a imagem da Senhora do Ó.
Uma pesquisa aturada do arquivo da Confraria não nos forneceu informações adicionais, mas tivemos mais sorte na busca que empreendemos no arquivo da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco de Guimarães. No Livro 6º de termos, a folhas 120v, lê-se que no dia 24 de Abril de 1871 foi presente à Mesa Administrativa da Ordem Terceira o pedido de uma comissão de devotos de Nossa Senhora da Penha, pedindo a imagem de Nossa Senhora do Ó, cedendo o Senhor Lucínio Fernandes da Trindade (director da Philarmónica Vimaranense) para o lugar daquela, a imagem de Santa Cecília. Esse pedido foi deferido. E a imagem de Nossa Senhora do Ó, que outrora coroava a Árvore de Jessé da igreja de S. Francisco, e então se venerava no pequeno altar entre o arco da capela-mor e o arco de acesso à capela de Santa Ana, cedeu o seu lugar à linda imagem de Santa Cecília, que ainda hoje lá se encontra.
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Não conhecemos as vicissitudes que a imagem da Senhora do Ó sofreu depois de abandonar a igreja de S. Francisco e nem sequer dispomos de qualquer descrição sua. Talvez a documentação em poder da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo da Penha possa fornecer elementos que dêem continuidade a esta história». In Fernando José Teixeira, Agenda Franciscana, Venerável Ordem Terceira de São Francisco, Guimarães, 2007.
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