sábado, 21 de janeiro de 2012

Guimarães. Barroso da Fonte. As Duas Cabeças: «Continuando a citar Luis Filipe Thomaz para chamar a atenção de que o Infante […] “o estratego e aventureiro, cruzado e desvendador do mar ignoto, místico e cientista, figurava como ideólogo e obreiro principal de todo o processo de descobrimentos e expansão”»

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Afonso viuvou em 1414 e, em 1415, participou na tomada de Ceuta, de parceria com seu pai, seu sogro e seus irmãos.
Em 1420 casou com D. Constança de Noronha, quando ele ia completar 50 anos de idade. Ela tinha somente 16 anos, o que, diga-se, foi uma verdadeira frustração para tão simpática e virtuosa noiva que, talvez por isso, resolveu devotar-se à religião. De facto D. Constança de Noronha, dedicou-se, de alma e cotação, à Ordem de S. Francisco e, depois de enviuvar (em 1461), transformou o Paço dos Duques em enfermaria e casa dos pobres. Falecia em 26 de Janeiro de 1480 como “santa Senhora Duquesa”.
Afonso foi nomeado 1º duque de Bragança, em 1442 e falecia em Chaves, em Dezembro de 1461. Sucedia-lhe no cargo seu segundo filho, Fernando que fixou residência em Arroiolos. Com a morte de Afonso e de D. Constança, o Paço Ducal de Guimarães entrava em ruína que se prolongou até 1807, ano em que foi transformado em quartel militar.

Infante Henrique. Homem do Mar
Dos oito filhos da “Inclíta Geração”, (casamento do Mestre de Avis com D. Filipa, filha do duque de Lencastre), o infante Henrique foi uma figura preponderante pela sua tendência para o mar. Nasceu exactamente há 617 anos (fará 618 anos no pf mês de Março). Sabemos que João I teve dois filhos, de amores com Inês Pires. Aconteceu em Veiros, aí nascendo Afonso (que viria a ser o 8º conde de Barcelos e genro de Nuno Álvares Pereira) e D. Beatriz que casou (em 1405) com o conde de Arundel, Tomaz Fritz Alán (de Inglaterra). Para além destes dois filhos, extra matrimónio, teve mais nove, (destes, os seus que chegara à idade adulta seriam lembrados como a Ínclita Geração) a saber:
  • D. Branca (1388-1389) e Afonso (1390-1391), morrem antes de completarem um ano de idade;
  • Duarte, (1391-1438) futuro Duarte I;
  • Pedro, (1392-1449) regente do Reino;
  • Henrique, (1394-1460) o “Navegador”;
  • D. Isabel (1397-1471);
  • D. Branca (1398), morreu criança;
  • João (1400-1442), condestável de Portugal e avô de Manuel I e de Isabel de Castela;
  • Fernando (1402-1443), morreu no cativeiro em Fez.
Realçamos, aqui, a personalidade do infante Henrique pela sua propensão para os Descobrimentos e sobretudo porque completa, em 2012, precisamente 618 anos do seu nascimento.

 
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Foi na cidade do Porto que Henrique veio ao mundo, numa quarta--feira de cinzas, em 4 de Março de 1394. Um jornal semanário identificava assim o chamado Homem ao mar:
  • “celebram-se agora os […] do nascimento do Infante D. Henrique. Navegador, descobridor, obcecado em combater os mouros e senhor dos mares nunca dantes navegados. Tinha mau génio, gostava de cozido de vaca, não bebia vinho e morreu virgem. Rico também”.
E noutra passagem, escreve a jornalista:
  • “alguns dizem que ele foi um asceta, outros um eunuco sem virilidade nenhuma. Zurara, o seu cronista, garante que «a terra o recebeu virgem». Sublinha-se ainda, que, no parecer do historiador Luis Filipe Thomaz se “Henrique teve alguma obsessão foi a da guerra aos mouros”.
A mesma fonte invoca Vitorino Nemésio para dizer que o infante Henrique cresceu numa época em que “vários motivos se opunham a um conhecimento exacto da Terra e à sua exploração. Os principais (motivos) eram a ignorância e o tipo de mentalidade”.
Continuando a citar Luis Filipe Thomaz para chamar a atenção de que o Infante tinha uma tendência para a crítica da visão aceite em que “o estratego e aventureiro, cruzado e desvendador do mar ignoto, místico e cientista, figurava como ideólogo e obreiro principal de todo o processo de descobrimentos e expansão. Um homem ambicioso, pronto a abraçar todos os projectos, sagaz, astuto no impor aos outros os seus desejos”.
A imagem do infante Henrique está profundamente ligada aos descobrimentos de que foi o maior obreiro. Preocupou-se com a astrologia, com a astronomia, com a matemática e com a ciência náutica. Rodeou-se de sábios, de físicos hebraicos e de comerciantes italianos.

NOTA: Em termos de historiografia, a orientação sexual do infante tem sido questionada, nomeadamente a partir da tese de doutoramento do professor Fernando Bruquetas de Castro, da Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, "Reis que Amaram como Rainhas", prémio de melhor tese de doutoramento em Espanha no ano 2000. O autor apresenta-o como homosexual desde a nascença, argumentando que, embora todos os escritos o apresentem como um homem casto, em adolescente era tímido e pouco dado a experiências sexuais, o que terá causado suspeitas já à época. Na batalha de Ceuta (1415) perdeu um dos seus mais amados companheiros, pelo qual chorou e fez luto durante meses. Os pais e os irmãos pediram-lhe que fosse comedido e que abandonasse o luto, mas o infante insistiu até que a própria mãe ficou incomodada, e posteriormente, o rei D. Duarte chegou a adverti-lo para que "não desse mais prazer aos homens para lá do que se deve fazer de forma virtuosa.


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Esteve profundamente ligado às principais praças do norte de África, as quais ajudaram à dilatação da fé cristã pelo espírito de cruzada. Com os reis que governaram na sua geração compartilhou a tarefa dos Descobrimentos. Sabe-se que desde 1457 a 1460 viveu em Sagres, na vila do Infante, por ele mesmo mandada construir. Contudo foi em Lagos que ele montou o quartel general para a grande aventura que soube realizar, com êxito, nunca igualado.
Primeiramente foi a caravela, depois a nau e o galeão. Com a caravela foi-lhe possível enfrentar as águas agitadas do Atlântico, seguindo a costa, quer na viagem até ao cabo Bojador, quer no regresso a Portugal. Numa fase posterior, os seus seguidores usaram a nau e o galeão. Mas tal só foi possível, graças ao domínio da técnica posta em prática pelo Infante, o pai da revolução marítima e o grande artífice dos Descobrimentos. Henrique começou por comandar, na Tomada de Ceuta, em 1415, as tropas que, a mando do Pai, recrutara nas Beiras. Desde aí não mais sossegou. Aferrado aos ideais da guerra santa, tudo fez para que a epopeia dos Portugueses chegasse aos confins do mundo.

Sabe-se quanto sofreu com o desastre de Tânger (1417), no qual foi feito refém seu irmão mais novo, infante Fernando que viria a morrer, anos mais tarde, no cativeiro, em Fez. O infante que nasceu há 617 anos, no Porto, chegou a propor a entrega de Ceuta pela troca do irmão (?, jdact). Também se esclarece:
  • Desde a derrota “Henrique nunca mais voltou a ser o mesmo. Dali em diante, trajando embora roupa talhada no alto guarda roupa da corte, usou para sempre o luto”. Como recordaria Nemésio «a trágica imolação de seu irmão é como uma sombra indispensável ao seu retrato (apenas?)»
O infante Henrique viria a falecer na vila de Sagres em 18 de Novembro de 1460, com 66 anos de idade. Dizem as crónicas, que morreu sozinho, nobre e muito rico em bens, casas e títulos. Deixou tudo menos obra escrita. E cita a jornalista do semanário:
  • «Gomes Eanes de Zurara que o descreveu assim: tinha agudeza de engenho, fortaleza de coração e nunca acolheu luxúria nem avareza, passando toda a vida em limpa castidade, recebendo-o a terra virgem».
In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT