Cegada nas ruínas do Carmo
Lima de Freitas, 1986
jdact
«Uma Nova Idade Média - Reflexões sobre os destinos da Rússia e da
Europa”, relacionando a nova Idade Média com “a queda do princípio legítimo do
poder e do princípio jurídico das monarquias e das democracias e a sua
substituição pelo princípio da força, da energia vital, das uniões e dos grupos
sociais espontâneos.
É curioso que mais tarde tenha escrito:
- Tenho uma percepção aguda dos destinos históricos, o que me parece bizarro, porque detesto a História.
Mas já antes das reflexões de Berdiaeff, Oswald Spengler finalizaria em
1922 a sua obra monumental; A Decadência do Ocidente. Vale a pena seguir a sua
exposição dos conceitos de "culturas como organismos" e dos
"protofenómenos":
- O primeiro plano visível de toda a história é o que se produziu em consequência do processo de devir [da dimensão tempo].
À
visão histórica, esse último somente se revelará onde as formas políticas ou
económicas, as batalhas ou as artes, as ciências ou as divindades, a matemática
ou a moral forem símbolos, expressões de uma alma. Todas as coisas transitórias
são apenas símbolos. Por exemplo, podemos afirmar que a alma humana é a 'ideia'
que se manifesta no corpo humano e lhe dá vida, sendo este o símbolo daquela.
Portanto, o símbolo é uma manifestação no mundo sensível da 'vida psíquica' que
ocorre no 'plano mítico' da Natureza. Recordemos René Guénon: "Os
acontecimentos históricos, como todos os demais factos, têm valor de símbolos,
expressão de verdades de outra ordem às quais correspondem. Voltando ao raciocínio
de Spengler, salientamos que o conceito de 'protofenómeno' tem uma relação
directa com a nossa filosofia das 'formas mentais' e das 'ideias', ou seja, no
'laboratório da Nafureza, (história humana incluída), antes de uma ideia se
manifestar em toda a sua complexidade passa sempre pela sua proto-história, ou
seja, acontecem manifestações mais simples (mas onde a matiz essencial já está
realizada, o 'ideal formal') dessa ideia, manifestações arcaicas, que servem
para verificar o resultado da ligação entre essa ideia e o mundo sensível.
Nesse período 'proto-histórico', essa forma mental vai melhorando os seus contornos
até que surja o tempo histórico da sua realização onde se concretiza com todas
as suas potencialidades possíveis e sob inúmeras manifestações particulares.
"O transitório é símbolo de uma evolução orgânica, de um
organismo. As culturas são organismos. Quem fizer desfilar diante do seu espírito,
as formas dessas culturas conseguirá descobrir a protoforma da cultura, que
como ideal formal serve de fundamento a todas as culturas particulares e suas
realizações particulares e suas realizações por diferentes que sejam. A cultura
é o protofenómeno de toda a história universal [...].
Um protofenómeno é aquele em que se patenteia aos nossosolhos a ideia
do devir em toda a sua pureza. No seu espírito, Goethe [génio que formulou este
termo do ‘protofenómeno’] visionava com absoluta nitidez a ideia da
protoplaita, encontrando-a na figura de qualquer planta originada casualmente e
mesmo nas plantas apenas formais. Na sua investigação dos intermaxilare partiu
do protofenómeno do tipo vertebrado. Em outros campos, serviram-lhe de
"ponto de partida a estratificação geológica, ou a folha, como protoforma
de todos os órgãos vegetais, ou ainda da metamorfose das plantas, como imagem
primordial de qualquer evolução orgânica». In Paulo Loução, A Alma Secreta de
Portugal, Ésquilo Edições & Multimédia, 2004, ISBN 972-8605-15-3.
Cortesia de Ésquilo/JDACT