sábado, 26 de maio de 2012

A Alma Secreta de Portugal. A nova Idade Média e o Declínio do Ocidente. «Portanto, o símbolo é uma manifestação no mundo sensível da 'vida psíquica' que ocorre no 'plano mítico' da Natureza. O transitório é símbolo de uma evolução orgânica, de um organismo. As culturas são organismos. Quem fizer desfilar diante do seu espírito, as formas dessas culturas conseguirá descobrir a protoforma da cultura»


Cegada nas ruínas do Carmo
Lima de Freitas, 1986
jdact

«Uma Nova Idade Média - Reflexões sobre os destinos da Rússia e da Europa”, relacionando a nova Idade Média com “a queda do princípio legítimo do poder e do princípio jurídico das monarquias e das democracias e a sua substituição pelo princípio da força, da energia vital, das uniões e dos grupos sociais espontâneos.
É curioso que mais tarde tenha escrito:
  • Tenho uma percepção aguda dos destinos históricos, o que me parece bizarro, porque detesto a História.
Mas já antes das reflexões de Berdiaeff, Oswald Spengler finalizaria em 1922 a sua obra monumental; A Decadência do Ocidente. Vale a pena seguir a sua exposição dos conceitos de "culturas como organismos" e dos "protofenómenos": 
  • O primeiro plano visível de toda a história é o que se produziu em consequência do processo de devir [da dimensão tempo]. 
À visão histórica, esse último somente se revelará onde as formas políticas ou económicas, as batalhas ou as artes, as ciências ou as divindades, a matemática ou a moral forem símbolos, expressões de uma alma. Todas as coisas transitórias são apenas símbolos. Por exemplo, podemos afirmar que a alma humana é a 'ideia' que se manifesta no corpo humano e lhe dá vida, sendo este o símbolo daquela. Portanto, o símbolo é uma manifestação no mundo sensível da 'vida psíquica' que ocorre no 'plano mítico' da Natureza. Recordemos René Guénon: "Os acontecimentos históricos, como todos os demais factos, têm valor de símbolos, expressão de verdades de outra ordem às quais correspondem. Voltando ao raciocínio de Spengler, salientamos que o conceito de 'protofenómeno' tem uma relação directa com a nossa filosofia das 'formas mentais' e das 'ideias', ou seja, no 'laboratório da Nafureza, (história humana incluída), antes de uma ideia se manifestar em toda a sua complexidade passa sempre pela sua proto-história, ou seja, acontecem manifestações mais simples (mas onde a matiz essencial já está realizada, o 'ideal formal') dessa ideia, manifestações arcaicas, que servem para verificar o resultado da ligação entre essa ideia e o mundo sensível. Nesse período 'proto-histórico', essa forma mental vai melhorando os seus contornos até que surja o tempo histórico da sua realização onde se concretiza com todas as suas potencialidades possíveis e sob inúmeras manifestações particulares.
"O transitório é símbolo de uma evolução orgânica, de um organismo. As culturas são organismos. Quem fizer desfilar diante do seu espírito, as formas dessas culturas conseguirá descobrir a protoforma da cultura, que como ideal formal serve de fundamento a todas as culturas particulares e suas realizações particulares e suas realizações por diferentes que sejam. A cultura é o protofenómeno de toda a história universal [...].
Um protofenómeno é aquele em que se patenteia aos nossosolhos a ideia do devir em toda a sua pureza. No seu espírito, Goethe [génio que formulou este termo do ‘protofenómeno’] visionava com absoluta nitidez a ideia da protoplaita, encontrando-a na figura de qualquer planta originada casualmente e mesmo nas plantas apenas formais. Na sua investigação dos intermaxilare partiu do protofenómeno do tipo vertebrado. Em outros campos, serviram-lhe de "ponto de partida a estratificação geológica, ou a folha, como protoforma de todos os órgãos vegetais, ou ainda da metamorfose das plantas, como imagem primordial de qualquer evolução orgânica». In Paulo Loução, A Alma Secreta de Portugal, Ésquilo Edições & Multimédia, 2004, ISBN 972-8605-15-3.

Cortesia de Ésquilo/JDACT