Cortesia de canasecestos e marvao
Enquadramento Teórico
«Ao abordar o tema das artes e ofícios tradicionais relacionados com o
castanheiro e a castanha, é importante lembrar alguns conceitos gerais e características
principais associadas ao artesanato, ao artesão e ao castanheiro.
O artesanato não encerra em si uma definição objectiva e formal,
existindo várias interpretações, como resultado do seu carácter abrangente.
Contudo, aceita-se como fundamental da actividade artesanal, a transformação de
matérias-primas em objectos, com recurso a um “saber-fazer tradicional”, no
qual se conjugam o conhecimento empírico, a competência, a habilidade, a
mestria e o sentido estético.
O artesão possui este “saber-fazer” e transmite aos seus produtos o seu
cunho pessoal, permitindo a identificação de diferentes estilos e expressões
culturais dentro da mesma forma de artesanato. De acordo com a legislação portuguesa, (…) "considera-se artesão o trabalhador que,
isoladamente, em unidade de tipo familiar ou associado, transforma
matérias-primas e produz ou repara objectos, ao qual se exige um certo sentido
estético e habilidade ou perícia manual, podendo, no entanto, usar máquinas
como auxiliares de trabalho, […]".
As matérias-primas principais utilizadas pelos artesãos ligados a artes
e ofícios tradicionais, são o castanheiro e a castanha. No concelho de Marvão, a existência de castanheiros e de castinçais, perde-se
no imemorial dos tempos. Mas constituirá o artesanato e, nomeadamente, a cestaria de castanho, património
cultural? Sim!
A expressão património cultural abrange um conjunto de situações praticamente
ilimitadas. Com efeito, é hoje usual dizer que tudo é “cultural”.
- Constitui património cultural o conjunto de objectos executados em pedra, em madeira, em ferro, em tecido, em tela, em betão, em vidro, em faiança em muitos outros materiais e que, dotados de valor formal, cromático, plástico, compositivo, técnico ou iconográfico, constituem, além disso, testemunhos da vida colectiva do povo português ao longo de séculos através de um itinerário por vezes muito difícil.
O património cultural não se restringe ao conjunto de monumentos
arquitectónicos, podendo ser definido de acordo com critérios mais latos que
incluam os costumes ligados às fainas produtivas, os instrumentos de trabalho,
e as múltiplas manifestações culturais e artísticas. Este conceito está
dependente daquilo que se entende por cultura, distinguindo-se dela por
especificar elementos, objectos ou formas que possuem um significado e consideração
particular.
- A cultura é entendida como um "conjunto de modelos comportamentais, de usos e costumes, de instrumentos e de objectos, usados por uma população geralmente confinada a um espaço geográfico definido".
É usual, para facilitar a compreensão, classificar a cultura como
cultura erudita e cultura popular. Da cultura erudita fariam parte as
"artes nobres", nomeadamente a pintura, a escultura, a arquitectura
urbana, a música, a dança, o teatro e o cinema. A cultura popular, que para
muitos é sinónimo de fácil, vulgar, inferior ou até mesmo ordinário e para
outros, pelo contrário, é tudo aquilo que corre entre o povo, de forma viva, funcional,
fazendo parte das suas necessidades diárias, aliado ao trabalho, à festa e ao
lazer, constituindo manifestações de alegria e de dor, de crenças, de
necessidades colectivas, ligadas à faina diária, pertenceriam as "artes
menores" onde podemos incluir os usos e costumes sociais, as tradições
sociais e religiosas, as superstições e crenças, a medicina popular, as
práticas mágicas e bruxaria, as danças e jogos populares, a culinária, o artesanato
e objectos de uso diário, os trajes populares, etc.
O património cultural distingue-se por especificar numa determinada
cultura alguns elementos, alguns objectivos e algumas formas consideradas
particularmente significativas, recebendo por isso uma consideração especial.
A cestaria do castanho, designadamente as cestas e canastras,
constituem peças do património cultural de Marvão, não só pelo seu valor
artístico, mas porque nos explicam uma forma de trabalho existente no concelho
em determinado período, e à qual estão associadas outras formas locais
contemporâneas ligadas à castanha e ao castanheiro. O valor das cestas e
canastras como peças patrimoniais estão na sua capacidade de testemunho de
elementos simbólicos, de instrumentos pedagógicos. É uma forma de cultura,
porque se baseia numa realidade precisa e concreta, resultante de um processo histórico
e os seus elementos têm relações múltiplas e explicam-se e completam-se uns aos
outros. A coerência interna da cultura como um todo é apenas relativa, na medida
em que não é fixa nem imóvel, mas constitui uma realidade dinâmica.
Cortesia de pdevalongo
Poderemos entender a cultura como um "conjunto de modelos de
comportamentos, de usos e costumes, de instrumentos e objectos, usados por uma
população, geralmente confinada num espaço geográfico definido".
A cultura e o património cultural marcam a identidade de um povo. Para
evitar que esta identidade se perca, considerando a vulnerabilidade e
mutabilidade a que está sujeita, é necessário promover a defesa e preservação do
património cultural. Não restando dúvidas que o artesanato do castanho é um
valor cultural que faz parte do património cultural dos marvanenses.
De um modo geral, para preservar um determinado
património cultural, é usual seguir um percurso que passa por promover e
divulgar o conhecimento desse património, pela promoção do seu uso e por uma
acção de educação e promoção da consciência e utilização desse património». In Henrique
Videira, Ibn Maruán, Revista
Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.
Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT