sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poesia. Poemas da Hora Presente. Lília da Fonseca. «Ela era a mulher sozinha com um mundo nos braços, um filho de um homem que não era o seu marido. E as mulheres, tão piedosas, caridosas, voltaram todas a cara à mulher sozinha com um filho de um homem que não era o seu marido»


Cortesia de wikipedia

Caminheiros
Ó meu irmão de sonho,
cantemos a manhã
na noite em que marchamos
assombrados!

Que horas são?
meia-noite? duas, três horas?
às quatro canta o galo
e às cinco um raio fulvo tinge os horizontes!

E se cantarmos cantarão connosco
os que à estrada se fizerem
e como nós caminham assombrados.

Ó meu irmão de sonho
põe na minha mão a tua mão
e, através de todos os cansaços,
vamos. . .
não ouves pela estrada o rumor dos outros passos?!

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Mulher
Ela era a mulher sozinha
com um mundo nos braços, um filho
de um homem que não era o seu marido.

E os homens
que se julgavam honestos
e bons chefes de família,
zelosos das suas filhas,
marcaram sua presença
naguela vida sem esteio!

Não para lhe darem trabalho...
foram falar-lhe ao ouvido.

E as mulheres,
tão piedosas, caridosas,
voltaram todas a cara
à mulher sozinha com um filho
de um homem que não era o seu marido.

Mas tudo ficou na mesma,
nessa harmonia de sempre…
As mulheres, mais caridosas,
graves, em seu fato escuro,
os homens, sempre zelosos
da sua honra…

E pelas sombras da noite
mais uma flor desfolhada
no monturo

Poemas de Lília da Fonseca, in ‘Poemas da Hora Presente’


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