Mostrar mensagens com a etiqueta Cerca Velha. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cerca Velha. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Porto. Parte I: Conhecida como a Cidade Invicta. A cidade que deu o nome a Portugal, desde muito cedo (c. 200 a.C.), quando se designava de Portus Cale, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense

Cortesia de reocities

A cidade do Porto é conhecida como a Cidade Invicta. É a cidade que deu o nome a Portugal, desde muito cedo (c. 200 a.C.), quando se designava de Portus Cale, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense. É ainda uma cidade conhecida mundialmente pelo seu vinho, pelas suas pontes e arquitectura contemporânea e antiga, o seu centro histórico, classificado como Património Mundial pela UNESCO.
Segundo o «Itinerário de Antonino», a estrada romana de Olissipo a Bracara Augusta (Via XVI) oferecia nesse passo do Douro uma estação. Não há unanimidade quanto à sua localização, na margem esquerda ou na direita. O mais provável seria a estação estar repartida nas duas margens. Os cavalos das mudas ficariam nos dois altos e os próprios mensageiros teriam de um lado e outro o seu albergue. No Século IV assiste-se a uma fase de expansão da cidade em direcção ao vizinho Morro da Cividade e à zona ribeirinha, tendo sido encontrados mosaicos romanos do século IV na Casa do Infante.

Tiago Ramos
Cortesia de asaquenaovoa-interiores
No final da época imperial o topónimo Portucale abrangia já ambas as margens e, mais tarde, passou a designar toda a região circundante. No Século V assistimos à invasão dos suevos e, em 585 e seguintes, durante o reino visigótico, verifica-se a emissão de moeda em Portucale e a presença de um bispo portucalense no III Concílio de Toledo, em 589.
O Porto do século XII, com uma só paróquia, a , era um burgo episcopal organizado em função da catedral, que começou a ser construída neste século, no local onde anteriormente tinha existido uma pequena ermida. Em redor, um conjunto de ruas, vielas, pequenos largos e becos ocupavam a plataforma superior da Pena Ventosa. As vertentes próximas foram também desde cedo habitadas e ligadas entre si por ruas, ruelas ou serventias que, sabiamente adaptadas à topografia, tanto seguiam o traçado das curvas de nível (por ex. a actual Rua das Aldas) como as cortavam perpendicularmente (por ex. a actual Rua da Pena Ventosa).

Cortesia dediscoverportugal2day
Outro importante elemento que condicionou a estrutura da malha urbana do burgo medieval foi a Cerca Velha ou Cerca Românica reconstruída no século XII sobre fundações de muros anteriores. Durante muito tempo conhecida por Muralha Sueva, está hoje identificada como obra de origem romana. O século XIII representou um período de expansão em que o Porto cresceu para fora da Cerca Velha em várias direcções:
  • Em redor da Pena Ventosa, terrenos antes de quintais, hortas, pomares, soutos e matas passaram a ter casas ligadas por ruas e vielas. Ainda hoje nalgumas ruas desta área subsistem designações de referências rurais, como por exemplo a Rua do Souto;
  • No sopé da escarpa que dava acesso à Porta das Verdades, próximo da margem ribeirinha, também se desenvolve casario, ruas, escadas e vielas, como por exemplo a Rua da Lada;
  • Na margem direita do rio da Vila o povoado crescia pela beira-rio de São Nicolau, por exemplo pela Rua da Reboleira ou pela Rua dos Banhos, acabando por atingir o «arrabalde» de Miragaia, pequeno núcleo de pescadores e construtores de barcos desde há muito ligados à vida do rio e do mar.

Cortesia de exames
Assim, foram surgindo dois pólos de povoamento:
  • Na zona alta, no morro da Pena Ventosa, em redor da Sé;
  • Na zona baixa, na Ribeira, na margem do Douro próximo da foz do rio da Vila, ligados por uma malha urbana que se foi adensando.
O eixo mais antigo que ligava os dois aglomerados seguia pela Rua «Detrás da Sé» (actual Rua de D. Hugo), pela Porta das Verdades e pelas Escadas do Barredo, segundo o caminho mais curto, mas de declive muito acentuado. Mais tarde, desenvolveu-se outro eixo de melhor acessibilidade constituído pelas Ruas dos Mercadores, Bainharia e Escura, ligando à Porta de São Sebastião.
Ao longo do século XIV o Porto teve uma grande expansão do povoamento ao longo da margem ribeirinha do Douro, reflectindo a crescente importância das actividades comerciais e marítimas.
A cidade sente, assim, necessidade de um espaço amuralhado mais vasto que o da Cerca Velha. Os primeiros a apresentarem essa reivindicação foram burgueses com casas e negócios extramuros e portanto menos protegidos.

Cortesia de lowcostportugal
Em meados desse século, ainda no tempo de D. Afonso IV, começou a ser construída uma nova cintura de muralhas que ficou praticamente concluída por volta de 1370. Esta Cerca Nova ou Muralha Gótica tem sido correntemente designada por Muralha Fernandina porque, apesar de iniciada com D. Afonso IV, o seu grande impulsionador, só ficou concluída no reinado de D. Fernando.

Postigo do Carvão, única porta da Muralha Fernandina que chegou até hoje.
Cortesia de wikipédia
Ruela da Ribeira
Cortesia de wikipédia
O traçado da Cerca Nova seguia pela margem ribeirinha do Douro até ao limite com Miragaia, subia pelo Caminho Novo e São João Novo até ao cimo do Morro do Olival; depois tomava a direcção leste passando junto às hortas do bispo e do cabido e continuava para Cimo de Vila; a seguir contornava os morros da Cividade e da Sé por nascente e descia pela escarpa dos Guindais até à Ribeira, próximo da saída do tabuleiro inferior da actual Ponte Luís I.

Cortesia de janelar
O Foral Novo de D. Manuel I, concedendo privilégios à cidade do Porto e datado de 1517, inicia um período de crescente desenvolvimento económico e urbano.
A partir de 1521, por iniciativa do rei, começou a ser aberta, através das hortas do bispo e do cabido e em terrenos da Misericórdia, a Rua de Santa Catarina das Flores, actual Rua das Flores. Construída para enobrecer a cidade, tornou-se elegante, aristocrática e ainda de importante actividade comercial. Ligando o Largo de São Domingos ao Convento de São Bento da Avé-Maria, permitia um acesso directo entre dois pólos citadinos de grande movimento, a Ribeira e a Porta de Carros. Este novo eixo de circulação vai ser vital para a progressiva urbanização da margem direita do rio da Vila.
Por meados do século XVI construiu-se uma ponte de pedra para atravessar este rio, substituindo uma anterior de madeira, o que permitiu a ligação da nova Rua de Santa Catarina das Flores à Rua da Bainharia e deu origem ao desenvolvimento da Rua da Ponte Nova. No rio da Vila, um pouco mais para jusante, havia uma outra ponte mais antiga, a de São Domingos.
Devido à concorrência do eixo da Rua das Flores, a velha Rua dos Mercadores perdeu progressivamente características de rua de grande comércio, habitada por burgueses de posses que viviam nas suas casas-torre medievais.

Continua.

Cortesia da CMPorto/wikipédia/JDACT

domingo, 29 de agosto de 2010

O Museu da Cidade: Projecto Integrado de Estudo e Valorização da «Cerca Velha» de Lisboa

Cortesia do Museu da Cidade

«Cerca Velha» de Lisboa
Localização: Vertente Sul da colina do Castelo.

Cortesia do MdaC

As descrições mais antigas deste importante sistema defensivo datam do séc. XI, altura em que a cidade de Lisboa se encontrava sob o domínio muçulmano. Os recentes trabalhos arqueológicos desenvolvidos ao longo do seu traçado comprovaram, no entanto, que alguns dos seus alinhamentos remontam ao período romano. Com uma extensão aproximada de 2 km, em parte demolida ou camuflada pelas construções, conserva ainda visíveis troços e torres de grande monumentalidade, sobretudo nos lanços oriental e ribeirinho. Durante séculos foi a única estrutura defensiva da cidade, moldando e condicionando a malha urbana que chegou até aos nossos dias. Continua a ser um elemento marcante na paisagem urbana actual, não só como um importante testemunho do passado mas também como um organismo vivo em constante interacção com as vivências daqueles que hoje habitam a cidade (por exemplo, o local das antigas portas continua a servir de ligação entre o espaço intra-muros e a área exterior).

Arco de Jesus, antiga porta do Furadouro
Cortesia do MdaC
Foi classificada como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910, com a designação de Castelo de S. Jorge e restos das cercas de Lisboa.

Este projecto multidisciplinar, coordenado pelo Museu da Cidade e no qual participam diversos serviços da autarquia de Lisboa e outras entidades externas, apresenta uma base de investigação científica cujos resultados constituirão uma mais valia para a valorização/divulgação do monumento. Deste modo, de entre outros objectivos, pretende-se:
  • Estabelecimento de um programa de valorização da muralha que consistirá na criação de um percurso pedonal devidamente identificado com sinalética orientadora e informativa; instalação de suportes informativos complementares nos locais de maior complexidade interpretativa; encaminhamento do público para pontos estratégicos – Observatórios – onde poderão percepcionar o traçado da muralha muitas vezes apenas fossilizado na malha urbana actual; disponibilização de material de divulgação diverso;
  • Confirmar ou infirmar o traçado proposto na obra do Olisipógrafo Augusto Vieira da Silva; esclarecer a origem e cronologia dos traçados conhecidos e sua evolução; confirmar a origem e localização de algumas portas e a orientação dos principais eixos viários; contribuir para o conhecimento da estruturação e evolução da malha urbana;
  • Dar continuidade aos trabalhos multidisciplinares que o Museu da Cidade tem vindo a desenvolver desde 2001, alguns inseridos em obras municipais, outros realizados já no âmbito do estudo, conservação e integração da muralha para fruição pública. De salientar as acções conseguidas através do apoio de entidades privadas, cuja sensibilização e interesse por esta temática, tem vindo a crescer.
  Rua da Judiaria, troço de muralha com cubelo.
Modelação 3D da «Cerca Velha»
 reconstituição paleotopográfica da colina do castelo
Cortesia do MdaC
 
Cortesia do Museu da Cidade/JDACT