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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Patrícia Verdugo. Salvador Allende: O crime da Casa Branca. «Em 27 de Junho de 1970, o Comité 40 aprovou uma nova prestação de trezentos mil dólares. O relatório da Comissão Church diz que na acta consta que "os funcionários do Departamento presentes na reunião apoiaram este de má vontade". O relatório fala da compra de uma emissora de rádio, de subsídios para "El Mercurio", de apoio a uma associação de empresários»

Cortesia de bbcco
«Com a entrada na cena chilena do Comité 40, levantam-se as interrogações. Quem era, quem o formava, para que existia? É imperioso determo-nos neste tema porque este organismo e os seus homens serão os principais protagonistas da tragédia chilena.
Comité 40 era um organismo de «facto» que recebeu este nome durante o governo de Richard Nixon (antes teve outros) e integravam-no:
  • o presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior, general George Brown;
  • o subsecretário da Defesa, Williams Clements;
  • o subsecretário de Estado para os Assuntos Políticos, Joseph Sisco,
  • o director da CIA.
O presidente do Comité 40 foi Henry Kissinger, assistente do presidente em Assuntos de Segurança Nacional. O propósito fundamental deste comité, segundo revelou o Relatório Church, era aprovar e:
  •  «exercer controlo político sobre as acções encobertas no exteríor».

Cortesia de glnning

Exercer controlo político para quê? Para que essas acções sejam tão «encobertas», tão clandestinas, que, no caso de serem descobertas:
  • «pudessem ser desautorizadas no futuro, ou negadas de modo verosímil pelo governo dos Estados Unidos, ou, pelo menos, pelo presidente».
Foi o que aconteceu no caso chileno: as acções «encobertas» foram descobertas. E não houve como desautorizá-las ou negá-las. Em Setembro de 1974, o então presidente Gerald Ford teve de admitir perante os jornalistas a participação encoberta dos Estados Unidos no Chile. E quase três décadas depois, no ano 2003, o Secretário de Estado Colin Powel voltou a lamentar o sucedido:
  • «O que aconteceu ao senhor Allende, não é uma parte da história dos Estados Unidos de que nos orgulhemos. Agora temos uma maneira mais responsável de tratar essas questões».
Não conhecemos ainda em pormenor o que fez a CIA para sabotar a candidatura de Allende. O relatório fala da compra de uma emissora de rádio, de subsídios para «El Mercurio», de apoio a uma associação de empresários. Mas o milhão de dólares gastos antes da eleição, para influir nos seus resultados, mostram um gigantesco leque de noticiaristas, comentaristas, e jornalistas devidamente «estimulados» para se empenharem a fundo contra o candidato Allende.
Cortesia de waldemarneto

E é inevitável deduzir que esses dólares também estiveram por detrás dos primeiros sinais de violência, dos estranhos «activistas» que começaram com pancada, pedradas, acções «relâmpago» inclusivamente «coquetéis molotov», turvando o até então sadio clima político.
Em 27 de Junho de 1970, o Comité 40 aprovou uma nova prestação de trezentos mil dólares. O relatório da Comissão Church diz que na acta consta que «os funcionários do Departamento presentes na reunião apoiaram este de má vontade».
O relatório fala igualmente de «assistência» a candidatos específicos, embora o Comité 40 tenha decidido não apoiar a candidatura do ex-presidente Jorge Alessandri. Detenhamo-nos neste ponto de particular interesse para o futuro desenrolar dos acontecimentos». In Patrícia Verdugo, Salvador llende o Crime da Casa Branca, Campo das Letras, 1ª edição, Setembro 2005, ISBN 972-610-971-X.

Cortesia de Campo das Letras/JDACT

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Patrícia Verdugo. Salvador Allende: O crime da Casa Branca. «... reuniu-se em Washington o Comité 40 que aprovou uma primeira prestação de 125 mil dólares para financiar «operações de sabotagem» contra Allende. Essa foi a primeira das «acções encobertas» de sabotagem que o Comité 40 aprovou para o Chile entre 1970 e 1973»

(1908-1973)
Valparaíso, Chile
Cortesia de waldemarneto

«Já estamos no verão chileno de 1970, em finais de Janeiro. Aos 61 anos, Salvador Allende inicia a sua 4ª campanha eleitoral para a presidência do Chile. Víamo-lo contente, estreitando mãos, abraçando gente, fazendo longos discursos para explicar o seu projecto político. Era incansável. Dormitava por breves momentos no automóvel, no comboio ou no avião e chegava às concentrações fresco como uma alface recém-colhida.

Nesse aspecto chegava a ser insuportável, deitasse-se tarde ou cedo, levantava-se sempre de madrugada e começava a trabalhar como se aquele fosse o último dia. Nas suas campanhas eleitorais nunca houve ninguém que aguentasse o seu ritmo de trabalho. E os que tentaram desistiram a meio caminho – recorda o jornalista Carlos Jorquera, seu secretário para a imprensa. «Venceremos, venceremos, mil correntes teremos que quebrar» era a frase-chave do seu hino eleitoral que milhares de gargantas entoavam em coro, em grandes e pequenas praças. Allende tinha uma grande facilidade de comunicação com as massas. Já a comunicação directa com ele não era tão fácil como a que tinha com as massas. Era-lhe mais fácil explicar uma coisa a dez mil pessoas do que a uma só, recordou Osvaldo Puccio, seu secretário privado.

Cortesia de glnning
Era como se o Chile inteiro, incluindo as crianças, estivesse mobilizado para a campanha eleitoral. Por Allende, por Tomic, pelo ex-presidente direitista Jorge Alessandri. Os comícios nas praças e as marchas pelas ruas eram festas colectivas, em que as pessoas saltavam, gritavam, erguiam bandeiras e cartazes sem qualquer receio pela sua segurança pessoal. Era, parecia ser, um país sem medo. Não se registavam agressões entre partidários dos diferentes candidatos e todos se sentiam com o direito de se manifestarem em público com alegria. Assim começou o ano de1970.

Mas esse mesmo povo fervoroso nada sabia do que estava a passar-se em Washington. Ali, quase todas as análises dos serviços secretos apontavam na mesma direcção: de nada servia apoiar economicamente a campanha do candidato da direita Alessandri. Parecia-lhes inútil. E era tamanha a força eleitoral da esquerda, incluindo a dos progressistas da democracia cristã que iriam votar em Tomic, que não restava outro caminho senão a sabotagem. Diagnóstico semelhante era o do poderoso chileno Agustín Edwards, dono do império jornalístico de El Mercurio. E fê-lo saber ao seu grande amigo David Rockefeller, em Março de 1970. Assim consta nas Memoírs escritas depois pelo magnata norte americano: «o meu amigo Agustín Doonie Edwards» disse-me que, se ganhasse Allende, «o Chile transformar-se-ia noutra Cuba, num satélite da União Soviética». Por isso, continua, «insistiu em que os Estados Unidos tinham de impedir a eleição de Allende. E a preocupação de Doonie era tão grande que o pus em contacto com Kissinger».
Cortesia de bbcco
Assim, em 25 de Março de 1970, reuniu-se em Washington o Comité 40 que aprovou uma primeira prestação de 125 mil dólares para financiar «operações de sabotagem» contra Allende. A acta da reunião regista que o subsecretário de Estado Alexis Johnson não esteve de acordo e anunciou que «se distanciava da operação». O seu ponto de vista era consequente com a posição do Departamento de Estado nos meses anteriores, posição que o relatório da Comissão Church resume assim: «um triunfo de Allende não era o mesmo que um triunfo comunista».

No entanto, esta análise mais séria da chancelaria dos USA nada pôde contra o preconceito grosseiro e primário da CIA, do Pentágono e mesmo da Casa Branca. um preconceito que o relatório ao senado resumiu pelas palavras do então embaixador dos Estados Unidos, Edward Korry:
  • «Um governo de Allende seria pior do que um governo de Castro».
Essa foi a primeira das «acções encobertas» de sabotagem que o Comité 40 aprovou para o Chile entre 1970 e 1973! Acções que tiveram um orçamento de quase nove milhões de dólares e que puseram em marcha o novo plano de intervenção no Chile». In Patrícia Verdugo, Salvador Allende, O Crime da Casa Branca, Campo das Letras, 1ª edição, Setembro 2005, ISBN 972-610-971-X.

Cortesia de Campo das Letras/JDACT