sábado, 30 de abril de 2011

Lennie Nichaus. George Garanian: «Aclamado como um compositor de bandas sonoras dos filmes de Clint Eastwood. No entanto, sempre soube explorar o jazz... Um dos primeiros músicos a chamar a atenção do ocidente para o jazz de qualidade produzido na Rússia»

Cortesia d ejazzprofessional
Cortesia de leftthisyear










JDACT

Natália Correia: A intelectual, a poetisa e activista social açoriana, autora de extensa e variada obra com predominância para a poesia

Cortesia de publico
Cortesia de lerletrasup 

De Amor nada mais Resta que um Outubro
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia
 
Cortesia de lugarvelhosobreiras 
Quanto mais Amada mais Desisto
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia

JDACT

Matthew Halsall: Jazz. Um dos mais brilhantes talentos do Reino Unido. Trompetista expressivo que se inspira no jazz espiritual dos anos 60


Cortesia de israbox






JDACT

A Bela Poesia: David Mourão-Ferreira. «Da curva de entretanto à entrada do poço, de soletrar em mim a ler nas tuas mãos como é rápido e lento e recto e sinuoso o percurso que vai do tempo ao coração»

Cortesia de mrdebrassi
Cortesia de dn

Do Tempo ao Coração
E volto a murmurar. Do cântico de amor
gerado na Suméria às novas europutas
Do muito que me dás ao muito que não dou
mas que sempre conservo entre as coisas mais puras

De uma genebra a mais num bar de Amsterdão
a não perder o pé numa praia da Grécia
De tantas tantas mãos que nos passam pelas mãos
a tão poucas que são as que nunca se esquecem

De ter visto o começo e o fim da Via Ápia
De ter atravessado o muro de Berlim
De outros muros que não aparecem no mapa
De outros muros que só aparecem aqui

ao barro deste céu que te modela os ombros
ao sopro deste céu que te solta o cabelo
ao riso deste céu que vem ao nosso encontro
quando sabe que nós não precisamos dele

Da pertinaz presença. E da longevidade
do corvo do chacal do louco do eunuco
ao rouxinol que morre em plena madrugada
à rosa que adormece em caules de um minuto

Do que foi noutro tempo a saúde no campo
à lepra que nos rói a paisagem bucólica
Do tempo ao coração minado pelo cancro
Dos rins ao infinito incubado na cólera

Do tempo ao coração mas com pausa na pele
como «Roma by night» entre dois aviões
como passar o Verão numa vogal aberta
como dizer que não que já não somos dois

Dos rins ao infinito. A este que não outro
Ao que rola dos rins. Ao que vai rebentar-te
na câmara blindada e nocturna do útero
E nos transfere o fim para um pouco mais tarde

Da curva de entretanto à entrada do poço
De soletrar em mim a ler nas tuas mãos
como é rápido e lento e recto e sinuoso
o percurso que vai do tempo ao coração.
David Mourão-Ferreira

Cortesia de emocao

JDACT

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Guimarães. Paço dos Duques de Bragança: Parte II. «Ao confiscar a casa para a coroa, D. João II nomeou carpinteiros para as obras do Paço de Guimarães. É o que consta de uma carta de 20 de Dezembro de 1490, em que o carpinteiro João Domingos renuncia esse cargo a favor do seu genro Afonso Anes, também carpinteiro»

Cortesia de monumentoportugues

Paço dos Duques de Bragança
Guimarães

«Pouco, pouquíssimo se conhece da história destes grandes Paços ducais, construídos, segundo se crê, sobre os fundamentos do velho palácio dos reis de Leão e do Conde D. Henrique.
Que foi o conde de Barcelos, D. Afonso, quem os mandou edificar, é ponto incontroverso.
  • Quando?
  • Que arquitecto os delineou?
  • Como era o seu risco inicial?
  • Que influências nacionais ou estrangeiras o inspiraram?
  • Quando terminaram as obras?
  • Chegaram a concluir-se?
  • Porquê e quando se arruinaram?

Cortesia de olhares

Perguntas a que a sombra dos séculos e a escassez da documentação conhecida não permitem dar claras respostas. Escreve Alfredo Guimarães:
  • «A disposição para construir em Guimarães um edifício de semelhantes e raras proporções adveio a D. Afonso dos conhecimentos da vida palaciana europeia. … a inferioridade da sua situação oficial entre ele e os seus irmãos, os Ínclitos Infantes e, comummente, a ambição de vir a ser… o que pudesse ser… na ordem em que a fortuna conduzisse os acontecimentos nacionais. … o mestre da traça, que podemos dizer se chamava Antom, lançou-se no delineamento de um Paço. … os Paços não são uma obra de visão normanda, mas sim a obra de um normando ou, pelo menos, de um francês. … assim, chegamos à conclusão segura de que a planta dos Paços dos duques foi executada em Guimarães entre 1420 e 1442…».

Cortesia de civiluminho

O alicerce documental das opiniões de Alfredo Guimarães é uma escritura de emprazamento de casas na rua Sapateira, feito pelo Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da oliveira, em 15 de Maio de 1460, de que foi uma das testemunhas o Mestre Antom de pedraria.
Estranha-se o silêncio dos documentos sobre este suposto arquitecto dos paços, começados a construir quase 40 anos antes, e habitados havia 27 pela corte ducal, quando se lavrou aquela escritura de emprazamento. Mais, «que a influência do traçado é italiana, embora o estilo seja o gótico francês … já tradicional no país». Alfredo Guimarães, mantendo a sua opinião, escreve ainda:
  • «Na traça de Mestre Antom e sob a vedoria de Joahne Steuez, o edifício começou a construir-se pela frontaria, aquela que mais tare, em 1666 os frades capuchos de Guimarães haviam de apear para a construção do seu convento. …O edifício foi erguido inteiramente, e assim deveria estar quando, em 26 de Janeiro de 1480 faleceu nele, com perfumes de santidade, a virtuosa Senhora que foi a primeira Duquesa de Bragança».

Cortesia de nonasnonas

Ao confiscar a casa para a coroa, D. João II nomeou carpinteiros para as obras do Paço de Guimarães. É o que consta de uma carta de 20 de Dezembro de 1490, em que o carpinteiro João Domingos renuncia esse cargo a favor do seu genro Afonso Anes, também carpinteiro.
O certo é que os condes já viviam em Guimarães e provavelmente naqueles paços em 1433, porque aí datou D. Afonso a carta que endereçou a seu pai sobre nova empresa de África, que o infante D. Henrique então planeava.
O 1º duque de Bragança morreu em 1461 e a sua viúva continuou vivendo em Guimarães, até fim dos seus dias, em 26 de Janeiro de 1480. Não consta que a duquesa ali fizesse quaisquer obras». In Boletim 102, Dezembro de 1960, DGIMN, Paço dos Duques de Bragança, Guimarães.

Cortesia do IGESPAR/JDACT

Matemática. Parte XVI. Trigonometria

Cortesia de anossaescola

Cortesia de aa

Na imagem, encontram-se duas mãos, que representam a multiplicação de 9 por 4.

Como é que isso se faz?
Contar pelos dedos, hoje em dia já não é uma regra, o avanço tecnológico «não permite», dizem, tal atrevimento. No entanto, em «eras» referentes ao passado, por exemplo na Idade Média, na Universidade ensinava-se como efectuar, com os dedos, cálculos longos e por vezes complexos. Se as adições são perceptíveis e por isso mesmo, evidentes, já o mesmo não se pode dizer das multiplicações.
Vejamos, então, como se faz a multiplicação representada em cima que, curiosamente, era a mais fácil de todas, a multiplicação por nove:
  • Enumeramos os dedos das duas mãos abertas, começando pelo dedo mindinho da mão esquerda. Dobramos o dedo correspondente ao número pelo qual queremos multiplicar nove (neste caso, n = 4). Deste modo, dobramos o dedo número quatro. Que obtemos? O valor 9 x 4. À esquerda do dedo dobrado há tantas dezenas quantos os dedos (neste caso 3 x 10 = 30) e à direita do mesmo dedo dobrado há tantas unidades quantos os dedos (neste caso 6). Que se faz agora? A seguinte adição: 30 + 6 = 36. De facto, 9 x 4 = 36.
Experimentem e exemplifiquem com outro qualquer dedo.


Com a colaboração do amigo Armando Araújo, um «notável» em Artes Gráficas, continuo a publicar algumas noções de Matemática.

Cortesia de atractor


JDACT/Com a colaboração de AA

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Castelo de Vide: Memórias Paroquiais. Os seus arredores em 1758, Parte IV. Freguesia de São João Baptista

Cortesia deficcino

Com a devida vénia a Ruy Ventura, Arquivo do Norte Alentejano. Memórias Paroquiais de Castelo de Vide (Memória nº 222, volume 10, folhas 1461 a 1489).

Castelo de Vide em 1758, (folhas 1461 a 1476)
Notícia da muito sempre leal, nobre, grande e notável vila de Castelo de Vide.

CASTELO DE VIDE EM 1758
«João Furtado de Mendonça, baptizado em São João, em 23 de Julho de 1639, e por sua mãe dos Vidais e Torres, foi na Guerra da Aclamação mestre de campo do terço do Algarve e com ele e com os de Castelo de Vide e de Campo Maior ganharam na Batalha do Ameixial um monte, desalojando dele aos castelhanos. E depois ganharam o monte em que estava Dom João de Áustria e o desalojaram e ganharam a artelharia. E conseguindo avanço, obrigaram a fugir para Arronches. Achou-se na batalha de Montes Claros com o seu terço, que, junto com os mesmos dois que o acompanharam na do Ameixial, ficaram no lado direito aonde sofreram a força da batalha e obraram maravilhas. A cavalaria castelhana os confundiu e, tornando-se a refazer, pelejaram tão destemidamente que foi princípio da vitória na Guerra da Grande Liga. Foi mestre de campo, general conselheiro de guerra e governou esta província.
Belchior do Crato, sargento-mor do Regimento desta praça, morreu na batalha do Montijo.

Cortesia de aquemealemtejo
João do Crato da Fonseca, natural desta vila, comissário de cavalaria com seis companhias, tomou um comboio que vinha para Arronches, pondo em fugida a cavalaria que o guardava. Consta de Portugal Restaurado, tomo 2º, livro 6º, fl. 424. Achou-se na batalha do Ameixial. Morreu na batalha, general da Artilharia do Algarve.
Francisco Mendes Homem, seu irmão, foi mestre de campo do Regimento desta praça e tenente do mestre de campo, general governador de Valência de Alcântara e de Castelo de Vide.
Mateus Caldeira, irmão dos sobreditos, foi capitão de cavalos muito valoroso. Morreu comissário da Cavalaria da Corte.
João Rodrigues Mouzinho, natural desta vila, capitão voluntário de cem moços solteiros voluntários. Achou-se nas Linhas de Elvas e foi o primeiro que as rompeu.Na Guerra da Quádrupla Aliança, Luís de Barros Castelo Branco, capitão de cavalos valoroso, morreu governador de Portalegre.
Diogo de Barros Castelo Branco, capitão de cavalos, é ao presente governador desta praça com patente de coronel. E outros muitos».

Cortesia de naturlin
A amizade de JC e SB.
Cortesia de Ruy Ventura. JDACT

Luís de Camões. Os Lusíadas. Canto II: Parte II. «... «Ó caso grande, estranho e não cuidado! Ó milagre claríssimo e evidente, ó descoberto engano inopinado, ó pérfida, inimiga e falsa gente! ...»

Cortesia de institutocamoes

OS LUSÍADAS
Canto II

( ... )
Convoca as alvas filhas de Nereu,
Com toda a mais cerúlea companhia,
Que, porque no salgado mar nasceu,
Das águas o poder lhe obedecia;
E, propondo-lhe a causa a que deceu,
Com todos juntamente se partia
Pera estorvar que a armada não chegasse
Aonde pera sempre se acabasse.

Já na água erguendo vão, com grande pressa,
Com as argênteas caudas branca escuma;
Cloto co peito corta e atravessa
Com mais furor o mar do que costuma;
Salta Nise, Nerine se arremessa
Por cima da água crespa em força suma;
Abrem caminho as ondas encurvadas,
De temor das Nereidas apressadas.

Nos ombros de um Tritão, com gesto aceso,
Vai a linda Dione furiosa;
Não sente quem a leva o doce peso,
De soberbo com carga tão fermosa.
Já chegam perto donde o vento teso
Enche as velas da frota belicosa;
Repartem-se e rodeiam nesse instante
As naus ligeiras, que iam por diante.

Põe-se a Deusa com outras em direito
Da proa capitaina, e ali fechando
O caminho da barra, estão de jeito
Que em vão assopra o vento, a vela inchando;
Põem no madeiro duro o brando peito,
Pera detrás a forte nau forçando;
Outras em derredor levando-a estavam
E da barra inimiga a desviavam.
Quais pera a cova as próvidas formigas,
Levando o peso grande acomodado
As forças exercitam, de inimigas
Do inimigo Inverno congelado;
Ali são seus trabalhos e fadigas,
Ali mostram vigor nunca esperado:
Tais andavam as Ninfas estorvando
À gente Portuguesa o fim nefando.

Torna pera detrás a nau, forçada,
Apesar dos que leva, que, gritando,
Mareiam velas; ferve a gente irada,
O leme a um bordo e a outro atravessando;
O mestre astuto em vão da popa brada,
Vendo como diante ameaçando
Os estava um marítimo penedo,
Que de quebrar-lhe a nau lhe mete medo.

A celeuma medonha se alevanta
No rudo marinheiro que trabalha;
O grande estrondo a Maura gente espanta,
Como se vissem hórrida batalha;
Não sabem a razão de fúria tanta,
Não sabem nesta pressa quem lhe valha:
Cuidam que seus enganos são sabidos
E que hão-de ser por isso aqui punidos.

Ei-los sùbitamente se lançavam
A seus batéis veloces que traziam;
Outros em cima o mar alevantavam
Saltando n’ água, a nado se acolhiam;
De um bordo e doutro súbito saltavam,
Que o medo os compelia do que viam;
Que antes querem ao mar aventurar-se
Que nas mãos inimigas entregar-se.

Assi como em selvática alagoa
As rãs, no tempo antigo Lícia gente,
Se sentem porventura vir pessoa,
Estando fora da água incautamente,
Daqui e dali saltando (o charco soa),
Por fugir do perigo que se sente,
E, acolhendo-se ao couto que conhecem,
Sós as cabeças na água lhe aparecem:

Assi fogem os Mouros; e o piloto,
Que ao perigo grande as naus guiara,
Crendo que seu engano estava noto,
Também foge, saltando na água amara.
Mas, por não darem no penedo imoto,
Onde percam a vida doce e cara,
A âncora solta logo a capitaina,
Qualquer das outras junto dela amaina.

Vendo o Gama, atentado, a estranheza
Dos Mouros, não cuidada, e juntamente
O piloto fugir-lhe com presteza,
Entende o que ordenava a bruta gente;
E vendo, sem contraste e sem braveza
Dos ventos ou das águas sem corrente,
Que a nau passar avante não podia,
Havendo-o por milagre, assi dizia:

– «Ó caso grande, estranho e não cuidado!
Ó milagre claríssimo e evidente,
Ó descoberto engano inopinado,
Ó pérfida, inimiga e falsa gente!
Quem poderá do mal aparelhado
Livrar-se sem perigo, sàbiamente,
Se lá de cima a Guarda Soberana
Não acudir à fraca força humana?
( ... )

Cortesia de straightworldbank

Cortesia do Instituto Camões/Biblioteca Digital/JDACT

A Bela Poesia: Fernando Pessoa. «Ri e olha de repente para fins de não olhar, para onde nas folhas sente o som do vento a passar...»

Cortesia de germinaliteratura

Tenho Tanto Sentimento
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa
 
Cortesia d emanuthinkerfree
Sorriso Audível das Folhas
Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?
Fernando Pessoa
 
JDACT

Séneca. Esperança: «Crê no que te agrada. Mesmo que o temor reuna maior número de sufrágios, inclina-a sempre para o lado da esperança. deixa de afligir o coração, e figura-te, sem cessar, que a maior parte dos mortais, sem ser afectada, sem se ver seriamente ameaçada por mal algum, vive em permanente e confusa agitação»

Cortesia de ovelhadejave

O Temor Combate-se com a Esperança
«Não haverá razão para viver, nem termo para as nossas misérias, se fôr mister temer tudo quanto seja temível. Neste ponto, põe em acção a tua prudência; mercê da animosidade de espírito, repele inclusive o temor que te acomete de cara descoberta. Pelo menos, combate uma fraqueza com outra: tempera o receio com a esperança. Por certo que possa ser qualquer um dos riscos que tememos, é ainda mais certo que os nossos temores se apaziguam, quando as nossas esperanças nos enganam.
Estabelece equilíbrio, pois, entre a esperança e o temor; sempre que houver completa incerteza, inclina a balança em teu favor:
  • crê no que te agrada. Mesmo que o temor reuna maior número de sufrágios, inclina-a sempre para o lado da esperança;
  • deixa de afligir o coração, e figura-te, sem cessar, que a maior parte dos mortais, sem ser afectada, sem se ver seriamente ameaçada por mal algum, vive em permanente e confusa agitação.
É que nenhum conserva o governo de si mesmo, deixa-se levar pelos impulsos, e não mantém o seu temor dentro de limites razoáveis. Nenhum diz:
  • Autoridade vã, espírito vão: ou inventou, ou lho contaram.
Flutuamos ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas, fazemos certezas que nos aterrorizam. Como a justa medida não é do nosso feitio, instantaneamente uma inquietude se converte em medo». In Séneca, «Dos Reveses».

Cortesia de katrix
Sem Medo nem Esperança
Li no nosso Hecatão que pôr termo aos desejos é proveitoso como remédio aos nossos temores. Diz ele: «deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança». Perguntarás tu como é possível conciliar duas coisas tão diversas. Mas é assim mesmo, amigo Lucílio:
  • embora pareçam dissociadas, elas estão interligadas. Assim como uma mesma cadeia acorrenta o guarda e o prisioneiro, assim aquelas, embora parecendo dissemelhantes, caminham lado a lado
À esperança segue-se sempre o medo. Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. As feras fogem aos perigos que vêem mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz»! In Séneca, «Cartas a Lucílio».

Cortesia de O Citador/JDACT

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Daniel Innerarity: O Futuro e os seus Inimigos. «Se as utopias modernas pensaram o futuro em termos fundamentalmente de renovação da sociedade, a actual retórica do futuro parece tê-lo restringido ao âmbito das inovações técnicas e da expansão dos mercados»

jdact 

«É neste contexto que se inserem a falta de ambição colectiva das nossas sociedades, a extenuação do desejo, o nosso medo difuso, o retrair-se para os interesses individuais, a carência de perspectivas. Poderíamos dizer que o processo triunfou sobre o projecto, o post sobre o pro, e que o tom dos comportamentos de antecipação é de mais de prevenção e precaução do que de prospectiva e projecto. 
O movimento contemporâneo, a incessante adaptação à mudança que nos é exigida, é vivido segundo uma lógica da sobrevivência, não da esperança. À força de se explicar que as «grandes narrativas» morreram, o lugar delas foi ocupado pela defesa dos «direitos adquiridos», o vazio deixado pela imaginação do futuro foi preenchido pela preocupação do instante; e onde não se prepara o futuro a política limita-se a gerir o presente

Cortesia de armacaodepera
Quem são, então, os inimigos do futuro que têm de ser desmascarados?
Para começar, convém que se saiba que é preciso descobri-los, em primeiro lugar, entre os que poderiam parecer os seus mais ardentes partidários:
  • onde quer que se proceda à sua banalização,
  • entre aqueles que promovem uma aceleração improdutiva,
  • insensível aos custos da modernização.
Os assaltos ao futuro partem das mais diversas trincheiras, e os contragolpes provêm de instâncias insuspeitadas. Onde há verdadeiramente futuro, deveríamos estar perante o desconhecido e o surpreendente, mas não parece ser esse o caso de certa retórica da inovação que utiliza a linguagem da necessidade. Este uso inflacionário da palavra resulta de ela ter sido monopolizada pela sua acepção técnica e mercantil. Tem-se a impressão de que a antevisão do futuro só se realiza actualmente mediante promessas tecnológicas e previsões de crescimento económico.
Se as utopias modernas pensaram o futuro em termos fundamentalmente de renovação da sociedade, a actual retórica do futuro parece tê-lo restringido ao âmbito das inovações técnicas e da expansão dos mercados». In Daniel Innerarity, O Futuro e os seus Inimigos, Teorema 2011, ISBN 978-972-695-960-1. 

Cortesia  de Teorema/JDACT

A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino. Jaime Cortesão: «Tudo isto se deu em vida de D. João I, e um destes actos do longo plano, que então iniciávamos, a tentativa da conquista das Canárias com uma forte armada, foi de grande dispêndio para o erário real. D. Pedro é certo que procurou contrariar com prudentes razões a empresa infeliz de Tânger»

Cortesia de historia

«O infante D. Henrique foi sóbrio e austero de virtudes. Não adorava o fausto e o bulício da corte; e Cadamosto vai encontrá-lo, em 1454, na Raposeira, onde «por ser remota do tumulto das gentes e propícia à contemplação do estudo, ele habitava de preferência». Esta solicitude em buscar auxiliares e hóspedes de toda a Nação revela, pois, antes preocupaçõesde investigador científico; e, à luz das mais vastas possibilidades de conhecimento e informação, devemos estudar os seus desígnios. Ainda hoje se debatem e debaterão, opiniões contrárias sobre a espécie de causas que provocaram o movimento dos Descobrimentos portugueses e sobre a amplitude do plano respectivo em tempo do infante D. Henrique.

Cortesia de livrariaultramari 
A nosso ver, e antes de mais nada, essas divergências provêm quer da credibilidade de certos historiógrafos que tomam à letra o relato das crónicas oficiais, esquecendo que as conveniências do Estado obrigavam com frequência a uma política de sigilo, quer duma incapacidade, por carência de erudição ou de imaginação criadora, para abranger no seu complexo de ambições comerciais, sentimentos religiosos, ideias científicas e preparação técnica, todos os factores, de cujo feixe espectral clarearam as luzes do Renascimento.
Há, para ter uma visão completa, tanto quanto possível, que fazer a crítica das fontes oficiais e completá-las com toda a espécie de documentos acessórios e quantas vezes de origem clandestina.
Num pequeno estudo, tentámos demonstrar que o plano dos Descobrimentos é obra dum escol nacional, dentro do qual há que assinalar os principais responsáveis na direcção política da Nação, durante os três primeiros quartéis do século XV, ou sejam:
  • D. João I,
  • D. Duarte,
  • o regente D. Pedro,
  • D. Afonso V,
  • D. João II.

Cortesia de wikipedia
«Os primeiros e definitivos passos no caminho da expansão marítima deram-se durante o reinado de D. João I. Logo três anos depois de Ceuta, começávamos a ocupar e povoar:
  • o arquipélago da Madeira;
  • a breve trecho seguiam-se as primeiras tentativas de descobrimento ao longo da costa de África;
  • em 1424 o infante D. Henrique dirigia uma expansão de conquista, aliás pouco frutuosa, contra as Canárias;
  • cerca de 1431, iniciava-se o reconhecimento do arquipélago dos Açores.
Tudo isto se deu em vida de D. João I, e um destes actos do longo plano, que então iniciávamos, a tentativa da conquista das Canárias com uma forte armada, foi de grande dispêndio para o erário real».
D. Pedro é certo que procurou contrariar com prudentes razões a empresa infeliz de Tânger. «Isto não impediu que ele enquanto ocupou a regência do Reino, durante os dez anos da menoridade de D. Afonso V, facilitasse por vários modos a empresa do irmão navegador, premiasse os navegantes que mais longe levavam as suas explorações, que ele próprio enviasse navios seus ao descobrimento e se ocupasse de colonização da ilha de S. Miguel». In Jaime Cortesão, A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino, Portugália Editora, Lisboa 1965.

Cortesia de Portugália Editora/JDACT

terça-feira, 26 de abril de 2011

Páginas Desconhecidas: A Poesia revolucionária e A Morte de D. João. «Vai o poeta observando à musa os obstáculos que o seu coração de homem de bem, e a sua consciência de homem sensato, opõem a esse modo de pensar, e a musa respondendo, até que afinal, perdida a esperança, foge. À musa dos lamartinianos, entretanto, nunca em seus dias ousou empregar em serviço próprio a ironia, essa alegre companheira, e consoladora íntima de todos os bons espíritos»

Cortesia de ephemerajpp

«D. João e a sua morte são a filosofia do subjectivo e a do objectivo: a moralidade do facto está no momento solene da história do espírito, não no castigo do devasso. A devassidão e os crimes de D. João são metade só do homem, e metade necessária à outra do heroismo e do louco amor. Não é o facto de D. João ser malvado que importa a sua condenação; o que o condena é a razão por que ele é malvado, razão necessária de malvadez. O herói é por força um facínora.
O humanismo que respira o «Quijote» é a atmosfera embalsamada em que vive a Renascença. Na Morte de D. João respiramos sim o século XIX, mas a antitese é incompleta porque não foi profunda a compreensão do herói. O autor viu D. João com olhos de artista, e logo notou como com a guitarra ele conquistava todas as moças, como as perdia todas, como era um poço de imundícies; e foi a esse herói da literatura que deitou por terra

Cortesia de prof2000
O herói literário, o D. João romanesco, é porém só uma das faces literárias do romantismo; a outra deita raízes pelo século XVIII. Tem por um dos avós ao abade de Saint-Pierre, é boa metade de Rousseau, e dá o tom a Robespierre; tinham ambos nascido para abades, mas uma ironia da sorte fez, de um, filósofo, do outro, ditador. 
O lado propriamente literário da revolução moral do nosso tempo, eis o que o artista da Morte de D. João sentiu e disse em versos memoráveis. A musa dos lakistas aparece-lhe e manda-lhe cantar coisas que vão já, com efeito, cantadas, choradas, grunhidas, e ditas afinal em todas as vozes de todos os animais bipedes que têm enchido as livrarias modernas, com os produtos do seu astro apaixonado ou sensível.

Cortesia de letrassuspeitas 
Vai o poeta observando à musa os obstáculos que o seu coração de homem de bem, e a sua consciência de homem sensato, opõem a esse modo de pensar, e a musa respondendo, até que afinal, perdida a esperança, foge. À musa dos lamartinianos, entretanto, nunca em seus dias ousou empregar em serviço próprio a ironia, essa alegre companheira, e consoladora  íntima de todos os bons espíritos. A ironia não se compadece, é verdade, com as regras literárias da contemplação do vazio, das lamentações ao luar, e dos cânticos de erotismo amoroso:

Se há estrelas no céu e rosas pelo monte,
Se sabes ler Petrarca e ler Anacreonte,
Se a tua amante é bela e se o teu sangue é novo,
Deixa espingardear o coração do povo, 
Deixa morrer Catão, deixa insultar a luz,
Deixa queimar Voltaire, deixa matar Jesus...

Não cessam de cantar por isso as cotovias.
Que o Pontífice lamba os pés das monarquias,
Que Tartufo conspire e D. João seduza,
Que a treva inunde a escola e a honra empenhe a blusa,
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Que nos importa a nós? Que importa o bem e o mal,
As velhas dissensões, a luta, o dogma, a crítica?
Os rouxinóis não têm opinião política, 
As flores não vão ler as obras de Proudhon...  

In J. Oliveira Martins, Páginas Desconhecidas, A Poesia Revolucionária e a Morte de D. João, Seara Nova 1948, Lisboa.

Cortesia de Seara Nova/JDACT

O Livro de Cale. Carlos Cordeiro: «A constituição da nacionalidade portuguesa não foi, contudo, apenas obra individual de uma família portucalense, ainda que esta se tenha mantido no poder durante cerca de 200 anos. Foi também importante a contribuição de um grupo de poderosos infanções que ao longo do século X e XI, cimentou uma posição política e social...»

Cortesia de wikipedia 

«As primeiras referências históricas sobre o Condado Portucalense surgem já em finais do século IX. Todavia, as menções ao local cuja denominação daria origem ao nome do condado datam de há cerca de 2 mil anos. Com efeito, já no século I a. C., o historiador romano Salústico menciona a existência de uma civitas identificada como Cale. Esta denominação aparece mais tarde, no século II, no Itenarário de Antonino, que situa a povoação algures no caminho que ligava Liaboa a Braga. Associada, mais tarde, a um ponto de passagem entre as duas margens do Douro, Cale parece ter sido um porto de abrigo, situado na foz do rio, a cuja designação os romanos juntaram o vocábulo portus. Outro documento datado do século V, atribuído ao bispo Idácio, reporta a detenção em Portucale, por ordem do rei visigodo Teodorico, do monarca suevo Requiário.
A localização precisa do lugar, envolvida em alguma polémica após a descoberta das actas do Concílio de Lugo no século VI, que mencionavam a existência de um «Portucale castrum novum», situado na margem direita do rio, e de um «Portucale castrum antiquum», na margem esquerda, não prejudica, porém, a asserção de que do topónimo Cale tenha derivado Portucale, que, por sua vez, terá dado origem ao nome do Condado Portucalense.

Estátua de Vímara Peres. Porto
Cortesia de wikipédia 
Arrasadas por uma das campanhas de Almançor no final do primeiro quartel do século IX, as fortificações suevas do burgo portucalense seriam reconstruídas pelo trisavô de Egas Moniz, Moninho Viegas. Cerca do ano 865, a povoação de Portucale seria a mais importante da área que abrangia os territórios do Minho e algumas terras a sul do rio, recuperada aos mouros pelo conde Vimara Peres, oriundo da poderosa família dos Mendes. Estes, que se manifestaram com êxito no apoio à coroação do rei de Leão, representavam um dos baluartes defensivos dos territórios até ao Mondego e tiveram protagonismo na fundação de Portugal. Uns oram, outros guerreiam, outros trabalham. Do ponto de vista social, é ao clero, à nobreza e ao Povo que correspondem, essas atribuições. Era esta a ordem que organizava o medievo cristão, na segunda metade do século XI, na zona setentrional da Península Ibérica.
Em Portucale, no exercício de estratégias de coligação, revelar-se-ia capital o protagonismo de algumas famílias de infanções:
  • os Sousa,
  • os Bragança,
  • os Maia,
  • os Baião,
  • os Ribadouro, entre outros.

Cortesia de asleiturasdocorvo
A constituição da nacionalidade portuguesa não foi, contudo, apenas obra individual de uma família portucalense, ainda que esta se tenha mantido no poder durante cerca de 200 anos. Foi também importante a contribuição de um grupo de poderosos infanções (antigo título de nobreza inferior ao de rico-homem, nota de JDACT) que ao longo do século X e XI, cimentou uma posição política e social significativa, deu provas de uma capacidade de iniciativa e concretizou o exercício de poderes públicos a nível regional e local.
Para a concretização dessa realidade contribuiu, não só o esforço de organização e iniciativa de toda uma comunidade, mas também a gesta de algumas figuras ímpares em empenho e em audácia. Os nomes de alguns figuram no Livro de Cale.
Dele despontam ameaças, ódios, traição e morte. Por ele, transcendem-se ousadias, ultrapassam-se limites, fundam-se propósitos. Com ele, reconciliam-se solidariedades, criam-se amizades, unem-se paixões». In Carlos Cordeiro, O Livro de Cale, Publicações Europa-América 2010, edição nº 103583/9344.

Cortesia de Publicações Europa-América/JDACT

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Aristóteles. Sartre: «A democracia surgiu quando, devido ao facto de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si. ...Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana, os deuses deixam de poder seja o que for contra esse homem»

Cortesia de postais

In Memoriam
FJSM e FJAB

Para vós que «adormeceram». Aqui na «terra» todos os amigos com muita saudade.










JDACT

A Cidade Romana de Ammaia: «Reconstrução preliminar em 3D da porta sul de Ammaia: «uma entrada ladeada por duas torres ligadas pelo Arco de Aramenha, que no século XVIII foi levado para Castelo de Vide e mais tarde foi destruído»


 Cortesia de fundacaocidadedeammaia

«Ammaia, a das ruínas» chamava-lhe já no século IX o muladi Ibn Maruan. Ao longo dos séculos, a cidade romana junto à actual Marvão foi ficando cada vez mais em ruínas. A Fundação Cidade de Ammaia acaba de receber um prémio pelo trabalho de redescoberta que ali tem realizado - só a porta sul, o fórum e as termas foram escavados, mas novas tecnologias permitem radiografar o solo e «ver» toda a cidade sobre a qual passeamos. In Alexandra Prado Coelho.


Cortesia  da fundacaocidadedeammaia

Reconstrução preliminar em 3D da porta sul de Ammaia: uma entrada ladeada por duas torres ligadas pelo Arco de Aramenha, que no século XVIII foi levado para Castelo de Vide e mais tarde foi destruído. M. KLEIN 7 REASONS.

http://www.cm-marvao.pt/cultura/historia/cidade.htm
http://128934ed.110mb.com/

Cortesia de nortealentejano


Cortesia da Fundação Cidade de Ammaia/Jornal Público/JDACT

Rui Gonçalves Moura: O efeito de estufa urbano. «Na cidade forma-se, acima das coberturas, uma camada urbana de ar (urban boundary layer). Essa camada tem uma espessura da ordem de 200 a 300 metros durante a noite. Durante o dia, pode ser superior a 500 metros»

Cortesia de ruimoura

(1930-2010)
Cortesia de autoextincaobnode

In Memoriam a Rui Moura.

O «efeito de estufa» urbano.
«Os estudos da evolução das temperaturas máxima, mínima e média das cidades mostram, de um modo geral, que foram as mínimas que se elevaram progressivamente. Esta tendência verificou-se, sobretudo, a partir dos anos 1950.
Foram pois as temperaturas nocturnas que subiram. As temperaturas nocturnas, mais do que as diurnas, marcam mesmo a evolução da temperatura média. De facto, de um modo geral, a temperatura máxima não apresenta uma clara evolução de subida.
Todas estas conclusões têm justificação nas urbanizações citadinas. T. R. Oke no livro Boundary Layer Climates apresenta as seguintes causas principais para estas conclusões:

Cortesia de ruimoura
  • O espaço urbano produz uma diminuição do albedo em relação ao espaço circundante (donde uma absorção relativamente mais elevada da radiação solar);
  • A poluição contida no interior do volume urbanizado conduz a uma atenuação da radiação solar directa da ordem de 5 % a 10 %;
  • No entanto, essa redução é compensada por um aumento da radiação difusa devida à poluição (no infravermelho, as partículas em suspensão aumentam a difusão);
  • O armazenamento do calor (que se acumula no Inverno com o excesso da actividade humana diurna e a respectiva emissão antropogénica) provoca um desfasamento térmico de uma a duas horas (em relação ao ritmo cósmico diurno);
  • Os edifícios citadinos fazem com que haja uma diminuição da velocidade do vento em razão da rugosidade das superfícies que encontra no seu trajecto.
Estas causas traduzem-se no efeito de temperaturas mais elevadas na parte central dos aglomerados urbanos que formam uma ilha de calor urbano decrescente do centro para a periferia. O efeito desta ilha de calor evidencia-se sobretudo à noite.

Albedo
Cortesia de ruimoura
Na cidade forma-se, acima das coberturas, uma camada urbana de ar (urban boundary layer). Essa camada tem uma espessura da ordem de 200 a 300 metros durante a noite. Durante o dia, pode ser superior a 500 metros.
O estrato inferior da camada, ou camada de superfície, é turbulento (especialmente de dia) em razão das trocas permanentes de calor e humidade. A camada de superfície é estável durante a noite. Durante o dia, pelo contrário, apresenta-se como uma camada mista instável.
A camada de superfície nocturna é quente e o ar poluído está concentrado nas baixas camadas em razão da relativa estabilidade do ar. Ela adensa-se durante o dia e torna-se instável. A taxa de poluição diminui com o acréscimo do volume de ar correspondente.

Ilha de calor urbano (Marcel Leroux)
Cortesia de ruimoura
As condições óptimas para a formação da cúpula de calor encontram-se presentes durante a noite. Tanto de dia como de noite, as condições óptimas são favorecidas pelos seguintes factores:
  • Pelo ar anticiclónico (que reduz a espessura da camada urbana, nomeadamente de noite, e concentra a poluição);
  • Pelo tempo claro (a nebulosidade nivela as condições urbanas e rurais);
  • Pelo vento fraco ou calmo (que não dispersa a poluição).
Já se viu anteriormente que estas são condições que se encontram numa estabilidade anticiclónica provocada pelas aglutinações dos anticiclones móveis polares.
A alteração térmica introduzida pela urbanização das cidades (urban bias) é estimada em valores divergentes consoante as fontes. O extremo superior aponta para metade do valor indicado para a subida do índice «temperatura média global» no século passado.
Mas acima destes fenómenos locais está a dinâmica da circulação geral da atmosfera. Será esta que analisaremos, oportunamente, em relação ao espaço aerológico regional que interessa a Portugal». In Mitos Climáticos, mensagem de 2010, Janeiro 19.

Rui Gonçalves Moura morre aos 80 anos de idade.
JDACT

A Infanta D. Maria de Portugal. As suas Damas: «... a respeito das mulheres instruídas que conviveram com Cataldo Sículo e dele receberam cartas e versos, das quais D. Leonor (1488-1563) foi provavelmente a que faleceu mais tarde, temos de admitir que havia um movimento de interesse pela nova cultura entre as damas da corte, antes de 1520, ano em que o humanista já teria deixado de viver. Ao número dessas senhoras pertenceram, a rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã do rei D. Manuel, e a infanta D. Joana, irmã de D. João II»

Cortesia de wikipedia 

«... O livro do Sabelico chama-se Enneades seu Ehapsodia historiarum e foi D- Leonor de Noronha quem aportuguesou o título em eneyda, sem com isto pretender criar qualquer confusão com o poema de Vergílio. Por outro lado, Enneades é uma palavra derivada do grego «nove», porque cada um dos onze livros das Enneades está dividido em nove partes. ... a respeito das mulheres instruídas que conviveram com Cataldo Sículo e dele receberam cartas e versos, das quais D. Leonor (1488-1563) foi provavelmente a que faleceu mais tarde, temos de admitir que havia um movimento de interesse pela nova cultura entre as damas da corte, antes de 1520, ano em que o humanista já teria deixado de viver. Ao número dessas senhoras pertenceram, a rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã do rei D. Manuel, e a infanta D. Joana, irmã de D. João II.

Cortesia de absoluteastronomy 
Também não tem fundamento afirmar que a rainha D. Leonor, terceira mulher de D. Manuel, e mãe da Infanta, foi a impulsionadora do humanismo da corte no pouco tempo que viveu entre nós, e que sua irmã, D. Catarina, mulher de D. João III, não era muito instruída. Há provas em contrário desta afirmação. E no séquito que veio de Castela um conjunto de personalidades, cuja acção se fez sentir na vida cultural do país, como os irmãos Pedro e Rodrigo Sanches, Julião de Alba, Turíbio Lopes outros mais.
António de Castro, que promoveu a edição das obras de Cataldo Parísio Sículo, não foi discípulo do humanista italiano nem publicou as suas obras completas. Esta edição de António de Castro, se foi de facto impressa, não chegou até nós. Tudo o que temos é a publicação no século XVIII, a partir de António de Castro (manuscrito? livro impresso?), da parte dos versos de Cataldo, com cortes, por vezes, nas peças publicadas. Fez essa publicação D. António Caetano de Sousa no volume VI, das Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa.  

Trabalho de impressão de Valentim Fernandes
Cortesia de tipografos
De um modo geral, pode dizer-se que na edição das Provas não está metade sequer da obra poética de Cataldo e que lá faltam por completo os dois volumes de Epistolae e todas as Orationes menos uma. O primeiro volume de Epistolae et Orationes foi acabado de imprimir por Valentim Fernandes da Morávia, em Lisboa, em 21 de Fevereiro de 1500, o segundo, cerca de 1514. Das Orationes, D. António Caeteno reimprimiu a Oratio habita a Cataldo in aduentu Elisabet Principis Portugaliae ant ianuam Eburae; pronunciada pelo humanista em 28 de Novembro de 1490; e das Epistolae apenas a dirigida ao princípe D. Afonso, filho de D. João II, que precede os Prouerbia Cataldi.
Quanto a António de Castro, editor de Cataldo, a origem das confusões a seu respeito, como em tantos outros casos, esteve na Biblioteca Lusitana de Barbosa Machado, livro certamente útil, mas pleno de erros de facto e de erros tipográficos». In Prefácio de Américo da Costa Ramalho, A Infanta D. Maria de Portugal e as suas Damas, edição fac-similada, Carolina Michaelis de Vasconcelos, Biblioteca Nacional 1994.


Cortesia de Biblioteca Nacional/JDACT