Estátua de Vimara Peres.
O ramo portucalense do qual descendia D. Teresa
encontrava-se registado nos cartulários dos mosteiros com árvores genealógicas
que às vezes chegavam à oitava geração. Era a melhor forma de evitar
controvérsias na altura de realizar a divisão de bens ou colmelum. Graças a esses
pergaminhos, ela sabia que descendia directamente de Vimara Peres, repovoador
do Porto por volta de 868 e fundador da cidade de Guimarães.
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«Houve, porém, uma continuidade na actuação do conde Henrique e de seu
filho Afonso, o primeiro rei português, que importa salientar, quer nos
sentidos militar e estratégico, quer relativamente à política e à
administração. E qual o papel de D. Teresa na orientação e condução dos negócios
públicos do condado e futuro reino? Uma análise serena e crítica dos documentos
e dos factos históricos que chegaram até nós permite a recusa das
simplificações, percebendo-se que houve por parte de D. Teresa uma preocupação e
uma atitude de independência e de autonomia, perante a sua irmã D. Urraca e as
ambições de Santiago de Compostela, que ou se tornou equívoca em determinado
momento ou assumiu o risco, considerado perigoso pelos barões de Entre Douro e
Minho, de se deixar envolver nas querelas galegas, que poderiam conduzir à
impossibilidade de cortar o cordão umbilical relativamente à monarquia de Leão
e Castela.
Como tem salientado José Mattoso, não podemos esquecer que os elementos
chegados até nós sobre D. Teresa, através da História Compostelana,
são influenciados negativamente por um duplo preconceito:
- o facto de se tratar de uma mulher que, segundo os autores clérigos, não deveria exercer autoridade pública e por ela se ter oposto ao bispo Diego Gelmírez, figura que a História visava enaltecer.
Segundo o referido José Mattoso:
- tentando encontrar o sentido das intervenções políticas que lhe conhecemos, não podemos deixar de ver nela uma personalidade ambiciosa, fortemente convencida do seu direito a herdar um dos Estados governados por seu pai, ou seja, pelo menos, a Galiza.
Nesse sentido, D. Teresa não teria reconhecido sua irmã D. Urraca como
herdeira de Afonso VI, não se sabendo se não teria sido por isso que aceitou a
intervenção arriscada dos condes de Trava ou se ela própria não teria envolvido
os nobres galegos na realização do seu desiderato. O certo é que D. Teresa se
considerava de uma estirpe superior, era Rainha ou Regina, por ser filha de
rei (como declara desde Maio de 1117),
não se acomodando ou resignando a uma posição subalterna na sucessão paterna.
Não podemos, assim, deixar de considerar na génese do temperamento de Afonso
Henriques a convergência entre a sabedoria estratégica do pai e a inequívoca
ambição de sua mãe, num contexto de conflitualidade e de agitação, políticas,
religiosas e sociais.
E se é verdade que os historiadores referem invariavelmente o facto de
a infância do futuro rei ter sido afastada do contacto dos pais, não é menos
certo que houve uma profunda influência do meio dos membros da corte e dos
companheiros, que assumiam, de alma e coração, o espírito autonomista do
condado, empenhados, a um tempo, na realização de um projecto independente, que
conduziu à construção do Estado, e no reforço da luta de reconquista contra o
Islão, com afirmação dos ideais nobiliárquicos assumidos segundo o espírito da
época». In Marsilio Cassotti, D. Teresa, A Primeira Rainha de Portugal,
Prefácio de G. Oliveira Martins, Attilio Locatelli, A Esfera dos Livros, 2008,
ISBN 978-989-626-119-1.
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