A Explicação da Sabedoria
«A evolução deu origem à configuração do cérebro em camadas múltiplas, formada
por estruturas subcorticais mais antigas e um córtex relativamente novo com uma
subdivisão particularmente nova e que é apropriadamente designada por
neocórtex. Por sua vez, o córtex cerebral divide-se em dois hemisférios: o
direito e o esquerdo. A transição da resolução de problemas para o
reconhecimento de padrões altera a forma como as diversas partes do cérebro
participam no processo. Em primeiro lugar, a cognição adquire uma natureza mais
exclusivamente neocortical e torna-se de forma crescente independente dos mecanismos
subcorticais e dos mecanismos contidos no córtex mais antigo. Em segundo lugar,
a proporção dos hemisférios cerebrais, no que toca à sua utilização, altera-se.
Em termos neurais isto significa provavelmente um recurso menor ao
hemisfério direito e um crescente recurso ao hemisfério esquerdo. Na literatura
neurocientífica, os modelos cognitivos que nos permitem efectuar o reconhecimento
de padrões são muitas vezes denominados atractores. Um atractor é uma constelação
concisa de neurónios (células nervosas vitais para o processamento de
informação a nível cerebral) que têm fortes ligações entre si. Uma característica
exclusiva de um atractor é o facto de
uma gama muito ampla de estímulos poder activar automática e facilmente uma
mesma constelação neural, o atractor.
Em poucas palavras, este é o mecanismo do reconhecimento de padrões.
Acredito que as pessoas que conseguiram formar um grande número de tais
modelos cognitivos, captando cada um a essência de um número mais vasto de experiências
relevantes, adquiriram sabedoria ou
pelo menos alguns dos seus componentes cruciais. Pela própria natureza dos
processos neurais envolvidos, a sabedoria,
paga os dividendos na velhice ao permitir a facilidade na tomada de decisões,
necessitando apenas de modestos recursos neurais. Aliás, modesta se os modelos
tiverem sido preservados como entidades neurais. Até certo ponto, a sabedoria e as qualidades afins, e
competência e a experiência podem ser impermeáveis à neuro-erosão. Teremos de
examinar a natureza da sabedoria
como um fenómeno psicológico e social. Para nos convencermos, teremos de
averiguar se é verdadeira a ideia de que uma mente poderosa pode persistir e,
até certo ponto, prevalecer e triunfar quando se depara com a neuro-erosão.
Este será o pilar humanista do livro e o seu ponto de partida, seguido por uma
viagem pelos mistérios dos dispositivos neurais da sabedoria da competência e da experiência e dos ganhos cognitivos
do envelhecimento». In Elkhonon Goldberg, O Paradoxo da Sabedoria, 2005, Forum da Ciência,
PE-A, 2008, ISBN 978-972-1-05857-6.
Cortesia de PE-A/JDACT