domingo, 17 de março de 2013

O Paradoxo da Sabedoria. Elkhonon Goldberg. «Até certo ponto, a “sabedoria” e as qualidades afins, e competência e a experiência podem ser impermeáveis à neuro-erosão. (…) em poucas palavras, este é o mecanismo do reconhecimento de padrões»

jdact e cortesia de wikipedia


A Explicação da Sabedoria
«A evolução deu origem à configuração do cérebro em camadas múltiplas, formada por estruturas subcorticais mais antigas e um córtex relativamente novo com uma subdivisão particularmente nova e que é apropriadamente designada por neocórtex. Por sua vez, o córtex cerebral divide-se em dois hemisférios: o direito e o esquerdo. A transição da resolução de problemas para o reconhecimento de padrões altera a forma como as diversas partes do cérebro participam no processo. Em primeiro lugar, a cognição adquire uma natureza mais exclusivamente neocortical e torna-se de forma crescente independente dos mecanismos subcorticais e dos mecanismos contidos no córtex mais antigo. Em segundo lugar, a proporção dos hemisférios cerebrais, no que toca à sua utilização, altera-se.
Em termos neurais isto significa provavelmente um recurso menor ao hemisfério direito e um crescente recurso ao hemisfério esquerdo. Na literatura neurocientífica, os modelos cognitivos que nos permitem efectuar o reconhecimento de padrões são muitas vezes denominados atractores. Um atractor é uma constelação concisa de neurónios (células nervosas vitais para o processamento de informação a nível cerebral) que têm fortes ligações entre si. Uma característica exclusiva de um atractor é o facto de uma gama muito ampla de estímulos poder activar automática e facilmente uma mesma constelação neural, o atractor. Em poucas palavras, este é o mecanismo do reconhecimento de padrões.

O cérebro humano

Acredito que as pessoas que conseguiram formar um grande número de tais modelos cognitivos, captando cada um a essência de um número mais vasto de experiências relevantes, adquiriram sabedoria ou pelo menos alguns dos seus componentes cruciais. Pela própria natureza dos processos neurais envolvidos, a sabedoria, paga os dividendos na velhice ao permitir a facilidade na tomada de decisões, necessitando apenas de modestos recursos neurais. Aliás, modesta se os modelos tiverem sido preservados como entidades neurais. Até certo ponto, a sabedoria e as qualidades afins, e competência e a experiência podem ser impermeáveis à neuro-erosão. Teremos de examinar a natureza da sabedoria como um fenómeno psicológico e social. Para nos convencermos, teremos de averiguar se é verdadeira a ideia de que uma mente poderosa pode persistir e, até certo ponto, prevalecer e triunfar quando se depara com a neuro-erosão. Este será o pilar humanista do livro e o seu ponto de partida, seguido por uma viagem pelos mistérios dos dispositivos neurais da sabedoria da competência e da experiência e dos ganhos cognitivos do envelhecimento». In Elkhonon Goldberg, O Paradoxo da Sabedoria, 2005, Forum da Ciência, PE-A, 2008, ISBN 978-972-1-05857-6.

Cortesia de PE-A/JDACT