A
Porta Branca
Por
detrás desta porta,
uma
de todas as portas que para mim se abrem e se fecham,
estou
eu ou o universo que eu penso.
Deste
meu lado, dois olhos que vigiam
os
fenómenos naturais, incluindo a celeste mecânica
e as
sociedades humanas, sedentárias e transumantes.
Mas
podem os olhos fazer a sua enumeração,
e
pode o pensado universo infindamente ir-se,
que
para mim o que hoje importa
é
aquela olhada vaga porta.
Que
ela seja só como a vejo, a porta branca,
com
duas almofadas em recorte,
lançada
devagar sobre o vão do jardim,
onde
o gato, por uma fenda aberta
pela
sua pata, tenta ver-me,
tão
alheio a versos e a universos.
Poema
de Fiama Pais Brandão, in ‘Cenas
Vivas’
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