«Um dos primeiros gestos de Warwick, de grande alcance político, foi o
de libertar o desventurado soberano deposto, figura passiva movida ao sabor dos
acontecimentos, e recolocá-lo em linha de combate.
Estava-se em 1470.
Restaurado Henrique VI com a solenidade apropriada, a Ingraterra de novo se viu
dividida entre os dois partidos e governada por dois monarcas. Os seus campos,
as suas cidades voltaram a ser tablado de lutas gigantescas, de morticínios
entre os dois adversários. A discórdia, que deixava em ruínas a vida nacional,
teve lances de derrotas e de vitórias alternadas para ambos.
Em certa altura, Eduardo IV consegue regressar a Londres, onde por meio
de traição, na guerra, os meios não contam desde que se atinjam os fins, se
apodera novamente do triste Henrique VI. Espanta a facilidade com que este
pobre vulto reinante de Inglaterra era aprisionado, sem que os seus
partidários, como lhes competia, o soubessem defender do humilhante transe e
salvá-lo em primeiro lugar!
O desditoso monarca reentra no ambiente soturno da Torre de Londres. Warwick, sem depor as armas, encontra-se
com Eduardo IV na famosa batalha de Barnet,
e ali o valoroso cabo-de-guerra, vencido finalmente, acabou por tombar para
sempre. O rei da casa de York rejubilou. Livre daquele inimigo, o mais temível
com que se batera, e com Henrique de Lancastre em seu poder,
o seu exército iria cair agora, em força bruta, sobre a exígua tropa de Margarida de Anjou, a tenacíssima
mulher que também quisera participar da luta.
Ao soberano foi fácil batê-la na decisiva batalha de Tewksbury em 1471.
A corajosa rainha com este doloroso revés, batida pela adversidade, conheceu
pela primeira vez a terrível provação de ser aprisionada pelo inimigo. A aura
da restauração de seu marido fora passageira, e, então, uma nova e mais intensa
amargura se lhe juntava ao cansado e angustiado coração. Seu filho, o príncipe
de Gales, encontrava-se, também, em poder do inimigo que não sabia perdoar. Eduardo
IV, com a obtenção das últimas vitórias nos campos de batalha, tinha assegurado
definitivamente o senhorio à coroa inglesa.
Faltavam, somente, para que a situação se consolidasse, uns pequenos
pormenores, que ele não tardaria a arrumar». In
Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10,
Lisboa, s/d.
Cortesia de L. Clássica
Editora/JDACT