Metida no Mosteiro de Santa Domingo de Toledo
«(…) O regente acompanharia imediatamente dona Isabel de Portugal a
Pinhel, vila onde se procedeu à entrega
da nova rainha de Castela aos enviados do respectivo esposo. É muito
provável que tivesse sido nessa altura que os castelhanos entregaram a infanta
Joana ao regente. Na realidade, Pedro não se dirigiu imediatamente
ao ducado de Coimbra, mas a Lisboa, onde chegaria em finais de Julho de 1447 talvez com a finalidade de
entregar pessoalmente a pequena exilada ao irmão, o rei Afonso V que estaria
ansioso por voltar a ver a irmã, depois de sete anos de ausência. Como afirma
um biógrafo de Enrique IV, pode tratar-se
de uma simples coincidência, mas é digno de registo que, precisamente no Verão
de 1447, encontremos a primeira notícia de um plano concebido por Juan Pacheco
para conseguir um acordo matrimonial do príncipe com a infanta Joana de
Portugal, que, como irmã de Afonso V estava muito mais próxima do trono que a
sua prima. Documentos posteriores provam a existência de contactos entre o
rei Afonso V de Portugal e o mordomo-mor do príncipe das Astúrias, tendo como motivo
esse casamento.
Uma carta escrita pela minha mão
De volta a Lisboa, dona Joana foi viver com a irmã, a infanta dona
Catarina, que então tinha onze anos e residia num casarão que mais tarde seria
conhecido pelo nome de paço de São Bartolomeu. Um edifício situado entre
o castelo e o bairro árabe da cidade, propriedade havia muito mais de século e
meio da família da aia da infanta dona Catarina, dona Maria Nogueira, nobre
mulher de cerca de cinquenta anos, viúva de um antigo camareiro-mor do infante
Henrique ao cuidado de quem também ficaria a infanta recém-chegada. Curiosamente,
pouco depois do seu regresso começaram a ocorrer em Lisboa manifestações de
desconfiança pública contra o regente por parte de personagens muito próximas
do rei. Segundo as crónicas, alguns membros da casa do duque de Bragança aproveitaram
as audiências privadas com Afonso V para
o encher com informações pouco abonatórias acerca do infante. Afirmavam que
o infante Pedro devia devolver os poderes régios ao monarca, uma vez que este
já tinha feito quinze anos.
Um procurador próximo do
duque de Coimbra atalhou essas reclamações dizendo que, apesar de o rei ter
alcançado a maioridade legal, ainda não estava preparado para dirigir o reino.
Observação que seria muito criticada pelo arcebispo de Lisboa, Pedro Noronha,
tio-avô do monarca que, pela sua respeitável idade, exercia uma grande influência
sobre um jovem definido por um cronista contemporâneo como de vontade mole. Fora através do arcebispo,
segundo Rui Pina, que o influenciável Afonso V descobrira que alguem estava por tras da terrivel maquinaçao que levara sua mae a
exilarse en Castela. Por ironia do destino, enquanto em Portugal se tentava
minar a credibilidade política do Regente, nesse cargo depois de ter conseguido
vencer a cunhada numa luta de poder nascida da oposição da rainha para que
Afonso V se casasse com a sua prima dona Isabel Lencastre, a sua outra prima e
antiga candidata a rainha consorte, dona Isabel de Portugal, convertida agora
em rainha consorte de Castela, começava a ser aceite por um marido que
inicialmente a tratara com frieza por não ser a princesa francesa com quem
quisera casar.
Com efeito, terá sido em Dezembro de 1447, em Valladolid, quando o
rei Juan II de Castela encontrou em dona Isabel a beleza e talvez o amor que
nunca viu na sua primeira esposa, com uma consequência muito desagradável
para o condestável de Castela, que fora o artífice dessas bodas. Como conta
Palencia, as segundas núpcias do rei tiveram
para Álvaro um resultado diferente do que inicialmente esperara. O rei começou
a degustar livremente os abraços honestos de sua formosíssima esposa e no
limiar da velhice apaixonou-se pela terna jovem. Mas o condestável não era
o único frequentador dos palácios reais castelhanos que se sentia preocupado.
Como relata um biógrafo de Enrique, em finais de 1447, na Corte circulavam
outros rumores nada favoráveis à pessoa do príncipe, cuja conduta e gostos não
se acomodavam ao espírito da cavalaria. Palencia calunia-o ou difama-o quando
atribui a influência omnipotente do marquês [de Villena] à sua complacência em
desvios sexuais (...). Admitamos que todas estas atribuições eram falsas. Mas,
na realidade, mil confusos, mal-intencionados e interesseiros rumores acerca do
comportamento sexual do futuro rei estavam já a fazer o seu caminho pelos
corredores do palácio». In A Rainha Adúltera, Joana de Portugal e o
Enigma da Excelente Senhora, Crónica de uma difamação anunciada, Marsilio
Cassotti, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2012, ISBN 978-989-626-405-5.
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