quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Leituras. Parte XXXV. José Saramago. Memorial do Convento. «Mas isto, confessemo-lo sem vergonha, é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha, e sendo a fé tanta, ainda que nem sempre recompensada, maior é o descaro e a impiedade com que se salteiam […] tudo consente que lhe levem na eternidade, o que vale à ordem é a vigilância de Santo António, que esse resigna-se mal a que lhe rapem altares e capelas onde estiver…»

Cortesia de wikipedia

«Segundas e terceiras maravilhas, mas de valor primeiríssimo, foram os milagres propriamente ditos, tão assinalados e ilustres que acorreu o povo de toda a cidade a observar o prodígio e a aproveitar dele, pois se autentica que na dita igreja foi dada vista a cegos e pés a mancos, e era tanta a afluência de mundo que nos degraus do adro se davam punhadas e punhaladas para entrar, de que alguns perderam a vida, que depois nem por milagre lhes seria restituída. Ou talvez sim, se, passados três dias, e sendo grande o alarme, dali não tivessem levado o corpo, às ocultas, e às ocultas o enterraram. Privados da esperança de cura enquanto não constasse o passamento doutro bem-aventurado, no mesmo lugar se esbofetearam de desespero e fé lograda mudos e manetas, se a estes lhes sobrava mão, em gritos todos e invocações a quantos santos, até que os padres saíram fora a benzer o ajuntamento, e com essa suficiência, à falta de melhor, se foram uns e outros. Mas isto, confessemo-lo sem vergonha, é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha, e sendo a fé tanta, ainda que nem sempre recompensada, maior é o descaro e a impiedade com que se salteiam igrejas, como foi ainda o ano passado em Guimarães, também na de S. Francisco, que, por tão vultosos bens ter desprezado em vida, tudo consente que lhe levem na eternidade, o que vale à ordem é a vigilância de Santo António, que esse resigna-se mal a que lhe rapem altares e capelas onde estiver, como em Guimarães se viu e em Lisboa se há-de ver.

Naquela cidade foram, pois, os ladrões a roubar, subindo para esse efeito a uma janela, aonde logo o santo lepidamente os veio receber, com isso lhes pregando um tal susto que fez cair desamparado o que mais alto na escada estava, é certo que sem nenhum osso partido, mas tolhidinho de tal maneira que não se pôde mexer mais, e querendo os companheiros levá-lo dali, que também entre ladrões não são raros os corações generosos e abnegados, não o conseguiram, caso aliás não inédito, porque já sucedido a Inês, irmã de Santa Clara, quando ainda S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze, mas não era de roubo o caso dela, ou de roubo seria, porque ao Senhor a queriam roubar.

Cortesia de wikipedia

Ali ficou o ladrão, como se a mão de Deus o estivesse espalmando contra o chão ou a garra do Diabo o filasse das profundas, ali ficou até de manhã, quando deram com ele os moradores e depois o levaram, já sem custo e com o seu peso natural, ao altar do mesmo santo para que o sarasse, milagre obrado por forma original, pois se viu suar copiosamente a imagem de Santo António e durante tanto tempo que deu para virem juízes e escrivães autenticar juridicamente o prodígio, que foi este de suar madeira e também de curar-se o ladrão por lhe passarem na cara uma toalha humedecida do humor bento. E com isto ficou o homem são, salvo e arrependido.

Porém, nem todos os delitos chegam a averiguar-se. Em Lisboa, por exemplo, não tendo o milagre sido menos notório, ainda hoje está por apurar quem foi o do assalto, embora sejam permitidas algumas desconfianças, porventura absolvidas, e quem delas for objecto, pela boa intenção que derradeiramente o motivou. Foi o caso que no convento de S. Francisco de Xabregas entraram gatunos, ou gatuno entrou, pela clarabóia de uma capela contígua com a de Santo António, e foi, ou foram, ao altar-mor, e as três lâmpadas que lá estavam se sumiram pelo mesmo caminho em menos de um credo. Despendurar as lâmpadas dos ganchos, carregar com elas às escuras por maior cautela, arriscar tropeções, tropeçar mesmo e fazer ruído sem que ninguém acudisse a indagar do rebuliço, seria suspeito prodígio ou cumplicidade de algum santo transviado se não fosse estarem, nessa mesma hora, a campa e a matraca em seu costumado tumulto para se despertarem os frades e irem às matinas da meia-noite. Por isso pôde o ladrão escapar a seu salvo, e se mais barulho fizera, não lho teriam ouvido, por aqui se vendo como o assaltante conhecia bem os costumes da casa. Começaram os frades a entrar na igreja e deram com ela às escuras. Já o irmão responsável se estava conformando com o castigo que não deixaria de ser-lhe aplicado por uma falta que não saberia explicar, quando se observou, e confirmou pelo tacto e cheiro, que não era o azeite que faltava, ali derramado pelo chão, mas sim as lâmpadas, cujas eram de prata. O desacato ainda estava fresco, se assim se pode dizer, pois as correntes de onde tinham estado suspensas as roubadas lâmpadas oscilavam devagarinho, dizendo, em linguagem de arame, Foi por pouco, foi por pouco.


Cortesia de wikipedia e elosclubedelisboa

Saíram logo alguns religiosos às estradas de em torno, repartidos em patrulhas, que se apanham o ladrão não se sabe o que misericordiosamente lhe fariam, mas não deram nem com o rasto dele, ou da quadrilha, se o era, caso que não devemos estranhar, porquanto passava já então da meia-noite e a lua estava em seu minguante. Esbaforiram-se os frades a correr as cercanias, a passo de carga, e enfim regressaram ao convento, de mãos a abanar. Entretanto, outros religiosos, pensando que podia o ladrão, por fina astúcia, ter-se escondido na igreja, deram-lhe uma volta completa desde o coro à sacristia, e foi quando andavam neste alvoroçado esquadrinhar, toda a congregação atropelando sandálias e fraldas de hábito, levantando tampas de arcazes, arredando armários, sacudindo paramentos, que um frade velho, conhecido por virtuosa vida e brava religião, reparou que o altar de Santo António não fora tocado pelas gatunas mãos, apesar de ser nele abundantíssima a prata, rica de peso, lavor e pureza.

Estranhou o pio homem, e estranharíamos nós se lá estivéssemos, porque, sendo manifesto que por aquela clarabóia de além entrou o ladrão e ao altar-mor foi roubar as lâmpadas, teve de passar diante da capela de Santo António que ao meio estava. Com mais do que razão se achou então o frade, inflamado em zelo, ao voltar-se para Santo António, increpando-o como a servo que descuidasse as suas obrigações, E vós, santo, só guardais a prata que vos toca, e deixais levar a outra, pois em paga disso não vos há-de ficar nenhuma, e ditas estas violentíssimas palavras, foi-se à capela e começou a despi-la toda, tirando não só as pratas, mas as toalhas e adornos, e não só à capela, mas também ao próprio santo, que viu levarem-lhe a auréola de tirar e pôr, e a cruz, e que ficaria sem Menino ao colo se outros religiosos não tivessem acudido, achando a punição excessiva e advertindo que o deixasse para consolação do pobre castigado.
Meditou um pouco o frade na advertência, e rematou: Pois fique como seu fiador, enquanto não restituir o santo as lâmpadas. E como isto já era pelas duas depois da meia-noite, tempo gasto nas buscas e finalmente no recriminatório lance relatado, recolheram-se os frades e foram dormir, alguns temendo que viesse Santo António a tirar desforra do insulto.

Ao outro dia, aí pelas onze horas dele, bateu à portaria do convento um estudante, cujo convém dizer logo que desde há tempos andava pretendendo o hábito da casa, frequentando com grande assiduidade os frades dela, e esta informação se dá primeiro, por ser verdadeira e sempre servir a verdade para alguma coisa, e, segundo, para auxiliar quem se dedique a decifrar actos cruzados, ou palavras cruzadas quando as houver, enfim, bateu o estudante à portaria e disse que queria falar ao prelado. Levaram-no à presença, beijou-lhe a mão ou o cordão do hábito, se não a fímbria, isto não se averiguou bem, e declarou ter ouvido dizer na cidade que as lâmpadas estavam no mosteiro da Cotovia, dos padres da Companhia de Jesus, além no Bairro Alto de S. Roque». In José Saramago, Memorial do Convento, Editorial Caminho, 27ª Edição, 1998, ISBN 972-21-0026-2.

Cortesia de Caminho/JDACT

A Cidade que era Cinzenta. Companhia de Dança de Almada. « Por muito pequeninos que sejam, estes seres vão harmonizando a forma da cidade com as cores da natureza, tornando-a viva, mutável…»

Cortesia de foriente

A Cidade que era Cinzenta. Companhia de Dança de Almada. Nos pf dias 10 e 11 de Dezembro de 2011, 16h00, Auditório, Espectáculo Infantil.
«Numa cidade cinzenta de ângulos rectos, suja e sem vida, homens cinzentos e sem vida atravessam a rua mecanicamente com os seus pés de marioneta. Há uma pequena criança que, no seu quarto, sonha e deseja um mundo melhor.
De malas em punho e com uma boa disposição inabalável, os Esporos Mágicos anseiam mudar esta cidade cheia de maus hábitos. Por muito pequeninos que sejam, estes seres vão harmonizando a forma da cidade com as cores da natureza, tornando-a viva, mutável, dando primazia àquilo que nas pessoas há de melhor: o saber, o criar e a capacidade de preservar aquilo que nos é vital e precioso.

Cortesia de galacrescerser

A Companhia de Dança de Almada é uma companhia profissional de dança contemporânea. Desenvolve a sua actividade essencialmente nas vertentes de criação, produção, apoio a actividades emergentes, pedagogia, formação profissional e de públicos, intercâmbio nacional e internacional e divulgação da dança, com foco nas tendências contemporâneas e inovadoras. Iniciou as suas actividades em 1990, tendo ao longo destes anos realizado mais de 600 espectáculos que foram vistos por cerca de 90 000 espectadores, no país e no estrangeiro.
Concepção e coreografia de Carla Albuquerque e Maria José Bernardino». In Fundação Oriente.

Cortesia da Fundação Oriente/JDACT

Carlos Montalto de Jesus. Macau Histórico. Edição de 1926. «A razão da apreensão e queima dos exemplares da obra está nos três últimos capítulos acrescentados nesta segunda edição. Neles, caustica, com toda a crueza, o sistema vigente na administração pública do País e das colónias, com uma burocracia […] na enxurrada de gente mal preparada, tão arrogante quão ávida de dinheiro fácil e de poder discricionário, […] muitos deles criados para satisfazer uma tal clientela, que não para trabalhar»

Cortesia de foriente

Macau Histórico. Em jeito de Introdução. A glória e o martírio de Montalto de Jesus
Os portugueses vão assim e finalmente ter a oportunidade de ler na sua própria língua e de julgar uma «edição maldita» cujos exemplares, quando foi posta à venda em Macau, foram apreendidos e confiscados aos que já os possuíam para serem destruídos pelo fogo em auto-de-fé. O seu autor caiu em desgraça. Isto aconteceu em Macau nos idos de 1926, ano em que em Portugal, foi posto fim à I República, substituída pela Ditadura Militar. Era o «28 de Maio».

«Isto é, conhecendo bem, agora, o estado em que o próprio País se encontrava, à beira do abismo já é só Macau que carece da tutela internacional para a sua sobrevivência e salvação, a fim de não cair nas mãos da China, eventualmente; é o próprio Portugal! E, na sua opinião, só através de uma amigável tutela internacional.
E não resta um dia a perder...”
Enfim, não se descortina bem o motivo da drástica atitude então tomada pelo governo de Macau, em relação à 2ª edição de “Historic Macao”.

Não terá sido a tutela de Macau, pelas potências ocidentais, como município autónomo, fora da administração central portuguesa, sugerida na primeira edição impressa em Hong-Kong, agora transferida, na 2ª, para a recém estabelecida Liga das Nações, ‘como salvaguarda contra maiores ruínas, com plenos direitos de autonomia sob um regime internacional semelhante ao de Xangai. Assim, Macau depressa retomará o seu perdido prestígio e prosperidade, para alívio e glória de Portugal, paro maior alegria de todos os martirizados macaenses, assim como para o desenvolvimento de todos os interesses vizinhos, em relação com o promissor’ hinterland.

jdact

A nosso ver, a razão da apreensão e queima dos exemplares da obra está nos três últimos capítulos acrescentados nesta segunda edição. Neles, Montalto de Jesus quase que se limita a reproduzir as afirmações contidas nas suas conferências e nas suas obras, aqui citadas, durante a sua estada em Lisboa, nas quais caustica, com toda a crueza, o sistema vigente na administração pública do País e das colónias, com uma burocracia baseada no nepotismo, no compadrio, nos partidos políticos, burocracia pesada, lenta e incompetente a seu ver; nos abusos e corrupção à solta; na instabilidade e falta de responsabilidade; e sobretudo, na enxurrada de gente mal preparada, tão arrogante quão ávida de dinheiro fácil e de poder discricionário, enviada para cargos públicos, muitos deles criados para satisfazer uma tal clientela, que não para trabalhar. Partindo as acusações não de um português castiço, mas de um macaense, ainda por cima de Hong-Kong; nem de Lisboa, onde as anteriores foram feitas, mas da própria Macau; g pior do que tudo, escritas não em português, mas em inglês, para serem lidas e divulgadas pelas comunidades portuguesas de Hong-Kong e Xangai e pelos meios internacionais interessados em denegrir e contestar a multissecular soberania portuguesa de Macau, a segunda edição, feita em Macau, tinha que ser suprimida pronta e radicalmente antes que fosse tarde. Estávamos em Abril-Maio de 1926 e Portugal vivia em polvorosa as vésperas do «28 de Maio». Com o bicho morreu a peçonha. Vingaram-se os adventícios. E, em Macau, ninguém mais falou no livro em voz alta, e muito menos no seu autor, muito embora, lá fora e longe os poucos exemplares escapados à fogueira chegassem às mãos, aos olhos e ao conhecimento de historiadores e estudiosos, que puderam assim verificar que, mesmo discordando aqui e ali da sua apresentação, análise, interpretação de factos, suas opiniões e seus comentários, a segunda edição de “Historic Macao” é obra valiosa, sem par, pela abundância e qualidade de material nela carreado. E bem escrita!

jdact

A terminar, registe-se que Montalto de Jesus ofereceu um exemplar desta segunda edição a um ilustre macaense, funcionário superior das Alfândegas Chinesas, com a seguinte dedicatória:
  • Estas linhas são escritas em sinal da minha gratidão pelos seus amáveis e estrénuos esforços paro levar o cabo a publicação desta segunda edição de Historic Macao. Do autor”.
O soneto feito por Montalto de Jesus, por ocasião da primeira edição publicada em 1902. No original:

The drear agave blossoms but to die,
For many a spring it has no gala day,
Until at last in gorgeous, towering spray,
Its flowers are reared like offering for the sky.

Thus o'er my sufferings soared my spirit high,
To bring thee forth in pride, my country's lay,
And though the strain has early made me gray,
My only flower is reared without a sigh.

But ere this bloom of death hath time to fade,
My gala day becomes so overcast,
That would to God I were already dead,

Or given the heart to bear more stormy blast,
To brave a jaded life with misery fraught,
Without the glow of one ennobling thought.
ass. C A. Montalto de Jesus

The argument above given becomes the stronger in connection with the second edition. This can only be explained on refering to the Gospel of St. Matthew, Chap. 7, verse 6. The less said the better. The author.
Carlos Augusto Gonçalves Estorninho, Figueira da Foz, Agosto de 1990.

(A rainha-da-noite floresceu apenas para morrer,
Não teve um dia de gola durante muitas Primaveras
Até que, por fim, num desabrochar esplendoroso e imponente
As suas flores foram concebidas como oferenda ao Céu.

Assim, sobre os meus sofrimentos, elevou-se bem alto o meu espírito
Para te trazer com orgulho, balada do meu país
E apesar dos esforços que me fizeram grisalho precocemente
A minha única flor foi concebida sem um suspiro.

Mas antes que esta flor da morte tivesse tempo para murchar
O meu dia de glória tornou-se tão encoberto
Que quisera Deus eu estivesse já morto

Ou então fizesse com que o coração sofresse uma rajada mais tormentosa
Para enfrentar uma vida estafada, cheia de misérias
Sem o fulgor de um pensamento enobrecedor.)

O argumento acima mencionado torna-se mais forte relativamente a esta segunda edição. Isto pode ser apenas explicado referindo-nos ao Evangelho de S. Mateus, cap. 7, versículo 6. Quanto menos se disser melhor. O autor.

In Carlos Montalto de Jesus, Historic Macao, 1926, Macau Histórico, 1ª edição em Português, 1990, Livros do Oriente, Fundação Oriente, ISBN 972-9418-01-2.

Cortesia da Fundação Oriente/JDACT

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Leituras. Parte XXXIV. Paris. Georges Haussmann. «Criador da Paris moderna, para uns, destruidor da antiga, para outros, a verdade é que há na história da capital francesa um antes e um depois da actuação urbanística de Haussmann. O imperador nomeou-o perfeito do departamento do Sena a 22 de Junho de 1853»

(1809-1891)
Paris
Cortesia de olympia1865

«Responsável pela transformação urbana de Paris, que converteu a antiga cidade medieval numa capital moderna e funcional, o ‘barão’ Haussmann foi uma figura controversa ao serviço do Segundo Império. Os custos da sua enorme empresa, não só económicos, mas sobretudo sociais, granjearam-lhe tantas críticas como elogios ao seu sucesso.

Criador da Paris moderna, para uns, destruidor da antiga, para outros, a verdade é que há na história da capital francesa um antes e um depois da actuação urbanística de Georges Eugène Haussmann, nascido nesta cidade a 27 de Março, numa casa que não hesitou em demolir para levar a cabo o seu plano de reformas. Era filho de Nicolas Valentin Haussmann, comissário de Guerra e intendente militar de Napoleão I, e de Ève Marie Dentzel, filha do general e deputado da Convenção Georges Dentzel, barão do Império.
Enquanto seu único descendente varão, Haussmann adoptou abusivamente o título de barão, apesar de não ter sido oficializado, e viveu legalmente como um mero Sr. Haussmann. No entanto, nas suas “Memórias (1890-1891)”, um documento importante para se conhecer a história do urbanismo de Paris e a cuja redacção dedicou os últimos anos da sua vida, Haussmann justificou o uso do título de barão baseando-se num decreto pelo qual o imperador Napoleão III o outorgou, em 1857, a todos os senadores.

Cortesia de wikipedia

Foi o principal homem de Estado do Segundo Império, Victor de Persigny, que apresentou Haussmann a Napoleão III. O imperador nomeou-o perfeito do departamento do Sena a 22 de Junho de 1853, sucedendo a Claude P. Barthelot, conde de Rambuteau, e a Jean J. Berger, com a tarefa de reurbanizar Paris, seguindo o exemplo de Londres após o incêndio de 1666, já transformada numa moderna capital industrial.

Haussmann estudara no colégio Henrique IV e no Instituto Condorcet de Paris, e posteriormente terminou o curso de Direito, que concertou com os estudos de música no Conservatório da capital francesa. Casou-se em 1838 em Bordéus com Octavie de Laharpe, de quem teve duas filhas, Henriette e Valentine. Em 1831, foi designado secretário-geral da perfeitura de Vienne, em Poitiers, e no ano seguinte subperfeito de Yssingeaux. Antes de se estabelecer em Paris com a instauração do Segundo Império. Grande parte da estrutura e estética da Paris moderna é fruto do plano de reforma que Haussmann dirigiu.

NOTA: As contas fantásticas de Haussmann. Em 1865, foi aprovado um empréstimo de 250 milhões de francos para o plano de Haussmann, e outro de 260 milhões, em 1869. Estes valores representavam apenas uma parte dos excessos financeiros do ambicioso projecto . Jules Ferry, um forte opositor do Segundo Império e posteriormente uma importante figura da Terceira República, acusou o barão na sua obra ‘As Contas Fantásticas de Haussmann, numa alusão a “Os Contos Fantásticos de Hoffmann”, de ter gasto 1.500 milhões de francos. O governo de Émile Ollivier destituiu Haussman pouco antes da queda de Napoleão III. Os sues métodos pouco democráticos e as duvidosas manobras financeiras também foram criticados põe Émile Zola no seu romance “La Curée”.

Cortesia de wikipedia

As grandes avenidas como:
  • o Boulevard de Sébastopol e o de Saint Michel ou a rue du Rivoli;
  • núcleos de ordenação radial como a Place de L’Étoile, actualmente de Charles de Gaulle, e a da Ópera;
  • grandes zonas verdes e parques, como o Bois de Bologne e o de Vincennes;
  • pontes novas e renovadas sobre o Sena como as de Saint Michel, dos Invalidos e L’Alma;
  • o sistema de canalizações e esgotos;
  • as típicas fachadas dos edifícios modernistas são alguns dos traços emblemáticos da sua obra urbanística.
O seu cargo ao serviço da transformação urbana de Paris concedeu-lhe o lugar de senador em 1857 e de membro da Academia de Belas Artes em 1867. Também lhe foi concedida a Grã-Cruz da Legião de Honra, em 1862. Depois da queda do Segundo Império em 1870, Haussmann foi deputado bonapartista por Ajácio durante a Terceira República.
Morreu em Paris e foi sepultado no cemitério Père Lachaise». In Gayban Grafie, ISBN 978-989-651-085-5.

Cortesia de Gayban/JDACT

Tesouros da Literatura e História. Duarte Nunes de Leão. Chronica del rei D. Afonso Henriques: «E exercitando este officio com muita charidade & deuação, sabendose pelos Principes Christãos, lhes fizerão muitas doações, & lhes appropriarão rendas, & assinarão villas & castellos, para que mais abastadamente, & a mais numero de gente podessem proueer, & sostentarse a si»

Cortesia de wikipedia

NOTA: Texto na versão original

«Chegandose a estes muita companhia de caualleiros, começarão a pelejar contra os infieis, deixando outros em guarda dos caminhos. Pola qual razão muitos Principes Christãos para ajudarem o proposito santo destes caualleiros, lhes assinarão em seus reinos rendas & terras, de que se pudessem sostentar. E o Papa Honorio II aa instancia de Stephano, Patriarcha de Ierusalem, por elles terem feito voto de castidade, & viuerem em irmandade & congregação, lhes deu regra &á. Ordem de vida, ordenada per Sam Bernardo, com habito branco, a que Eugenio III acrescentou hüa Cruz Vermelha, que trouxessem nos peitos. Estes caualleiros crescerão em tanto numero, & fizerão tanto seruiço a Deos, & aa Republica naquellas partes, que todos os Principes Christãos lhes derão em suas terras muitas villas, & castellos, & grandes rendas, per que se estenderão não soomente pelo Oriente, mas pelo Occidente, criando seus Mestres pelas Prouincias, & instituindo commendas, cujo gtam Mestre residia na santa cidade de Ierusalem. Neste estado, crescendo em potencia & rendas, florecerão CC annos, atee o anno de MCCCX em que o Papa Clemente V no concilio de Vienna de França os condenou, & extinguio sua ordem polas causas, & maneira que dizemos na chronica d'el Rei Dom Dinis.

Per este mesmo tempo, & quasi pelos mesmos meos, teue principio a ordem do hospital de Sam Ioam de Ierusalem, cujo principio foi este. Em tempo antigo, antes da sancta cidade de Ierusalem se tomar pelos Christãos, impetrarão alguns peregrinos, da igreja Latina, do Soldão do Egypto, por tributo que lhe derao, que podessem edificar hum moesteiro. O qual fizerão junto da igreja do santo-sepulchro, & the chamarão Santa Maria a Latina: & nelle instituirão hü Abbade com alguns monges. E este Abbade, & monges, da hi a pouco tempo, edificarão hüa cappella & hospital para cura,,& recolhimento dos peregrinos, da inuocação de Sam Ioam Baptista: o qual mantinhão de sobejo de seu moesteiro. Vindo despois a cidade aas mãos de Christãos, hum religïoso de nação Frances, per nome Gueraldo, que muito tempo hauia ministraua naquelle hospital, determinou de fazer húa noua ordem de homees, que fizessem aquelle officio, & mouendo a isso alguns homeês pios, tomou habito regular, & com seus companheiros curaua aos pobres & enfermos, & aos que morrião enterrauão no campo, que chamauão Acheldemach. A obediencia derão ao Patriarcha, & ao Abbade, & lhes dauão os dizimos do que acquirião.

Fotografia de José Filipe
Cortesia de wikipedia 

E exercitando este officio com muita charidade & deuação, sabendose pelos Principes Christãos, lhes fizerão muitas doações, & lhes appropriarão rendas, & assinarão villas & castellos, para que mais abastadamente, & a mais numero de gente podessem proueer, & sostentarse a si. Polo que crescendo o numero destes religiosos, o Papa Honorio II lhes ordenou regra de viuer, & lha confirmou debaxo da ordem de sancto Agostinho, dandolhes habito negro, & Cruz branca, com voto de castidade, pobreza, & obediencia, & de pelejarem contra infieis por a religião Christaã. Polo que ficando o carrego do recolhimento, cura, & enterramento dos peregrinos aos que erão clerigos de ordens, os leigos se occupauão na milicia, & da hi em diante se chamou sua ordem do hospital de Sam Ioam de Ierusalem. O primeiro assento desta religião foi em Ierusalem. Despois de ganhada a cidade per Saladino, se passou aa cidade de Ptolemaida de Phenicia, a que vulgarmente chamão Acre, & outros Acon. E perdendose tambem esta cidade, se passarão os caualleiros aa ilha de Rhodes, que aos Turcos tomarão no anno de MCCCVIII.

E sendo lhes nestes tempos proximos a nós, tomada aquella Ilha pelos Turcos no anno de MDXXII pedirão a el Rei Dom Ioam III de Portugal lhes desse a cidade de Septa, para dalli pelejarem com os infieis, & guardarem o mar Mediterraneo dos Mouros & Turcos, que as praias de Hespanha, & de Leuante infestauão cada dia. O que lhe el Rei negou, não sabemos com quanta vtilitlade de Hespanha, & da Christandade. Polo que assentarão na ilha de Malta, a que os antigos chamauão Melite, junto a Sicilia, que lhe o Emperador Carlos V deu em feudo, com foro de hum falcão por anno. Na qual sendo os caualleiros acõmettidos dos Turcos, que a ella vierão muitas vezes com grandes armadas, se defenderão valerosamente, posto que com sangue, & morte de muitos; & na dita ilha florecem oje com grande honra de sua ordem». In Tesouros da Literatura e da História, Crónicas dos Reis de Portugal, reformadas por Duarte Nunes de Leão, Lello e Irmão, Editores, 1975, Porto.

Cortesia de Lelo e Irmão Editores/JDACT

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

António Ventura: A Maçonaria no distrito de Portalegre (1903-1935). «As invasões francesas e a presença inglesa perturbaram significativamente a actividade da maçonaria, dividida entre aquelas duas influências, a qual sofreu um vaga repressiva em 1810 com a chamada «Setembrizada», em que foram presos e deportados dezenas de suspeitos de simpatizarem com os franceses e de serem maçons»

Avental de mestre do Rito Escocês Antigo e Aceito
Cortesia de caleidoscopio

«Denunciados à Inquisição (maldita) em 1743, os maçons da loja de coustos foram presos e sentenciados, sendo o Venerável - Coustous – e os dois vigilantes condenados a degredo e às galés. Depois deste primeiro momento de repressão, a maçonaria só voltou a ganhar uma nova dinâmica durante o governo do marquês de Pombal, que teve para com ela uma atitude de tolerância. Em 1763 havia em Lisboa uma Loja inglesa e mais duas, uma francesa e a outra englobando militares e civis.

Após a morte do rei D. José, em 24 de Fevereiro de l777, renovaram-se os ataques à maçonaria, com a prisão de intelectuais como José Anastácio da Cunha e o exílio de outros, como Filinto Elísio. Pina Manique assumiu um papel destacado nessa perseguição, parte integrante da luta contra as novas ideias que a revolução francesa projectava. Com a vinda para Portugal de tropas inglesas, em 1797, a fim de ajudarem o nosso país contra uma hipotética agressão da Espanha e da França, regressou a tolerância imposta pela enorme influência que a maçonaria tinha em Inglaterra.
Muitos dos militares que vieram eram maçons e em terras portuguesas continuaram a sê-lo, tendo até fundado lojas regimentais e outras onde foram iniciados portugueses, tanto militares como civis. Em Maio de 1802 foi assinado um tratado com a Grande Loja de Inglaterra e igual iniciativa foi feita junto do Grande Oriente de França. Em 1804 foi fundado o Grande Oriente Lusitano e eleito como primeiro grão-mestre o desembargador Sebastião José de São Paio de Melo e Castro Lusignan. Em Julho de 1806 era votada a primeira constituição maçónica portuguesa, adoptando o Rito francês como rito oficial do grande oriente lusitano. As invasões francesas e a presença inglesa perturbaram significativamente a actividade da maçonaria, dividida entre aquelas duas influências, a qual sofreu um vaga repressiva em 1810 com a chamada «Setembrizada», em que foram presos e deportados dezenas de suspeitos de simpatizarem com os franceses e de serem maçons. Apesar da adversidade, a maçonaria resistiu e foi-se reorganizando, com o regresso de expatriados como Gomes Freire de Andrade, que foi eleito grão-mestre.

Cortesia de wikipedia

Mas a sua prisão e execução, em 1817, juntamente com outros companheiros, acusados de sedição, veio de novo lançar uma sombra sobre a actividade maçónica, num clima de franca hostilidade que foi agravado pela revolta de Pernambuco naquele mesmo ano. Em 1818, um alvará de D. João VI secundava a condenação do papa Clemente XII, proibindo as sociedades secretas, incorrendo os seus membros no crime de lesa-majestade, com severas penas que podiam ir até à condenação à morte e ao arresto de bens. Muitas lojas suspenderam prudentemente a sua actividade mas, simultaneamente, surgiam sinais de sentido contrário. Diversos maçons figuram entre os principais organizadores do Sinédrio e dos promotores do pronunciamento de 24 de Agosto de 1820, no Porto, que iniciou a chamada revolução liberal.

O liberalismo em Portugal e o seu triunfo deveu-se, em larga medida, à maçonaria. Até 1823, os maçons portugueses participaram activamente na vida política, nomeadamente nas cortes constituintes, mas depois da reacção contra-revolucionária da «Vilafrancada», registou-se uma nova e vigorosa perseguição que se foi atenuando em 1824, com a derrota da «Abrilada». Em 1828, após o regresso de D. Miguel e a sua subida ao trono, a maçonaria foi banida e os seus membros ou suspeitos de o serem presos sem contemplações, alguns executados, buscando muitos outros o exílio salvador. Perseguida sem piedade em território nacional, foi no estrangeiro, na agrura do exílio, que a maçonaria portuguesa se reorganizou, mas as divergências políticas que eram profundas e dividiam irremediavelmente o campo liberal acabaram por contagiar a maçonaria, que devia, por natureza, permanecer imune às questiúnculas políticas.

Cortesia de wikipedia

O alinhamento dos diversos grupos de liberais, uns mais moderados e outros mais avançados, as rivalidades pessoais, tudo isso levou à criação de maçonarias paralelas e de Orientes rivais, situação que não só não terminou em 1834, com a vitória constitucional, como se agravou. Os liberais elegeram dois grão-mestres no exílio: José da Silva Carvalho e Saldanha. De regresso a Portugal, coexistiram dois Orientes rivais, com os respectivos grão-mestres, sendo ainda criado um terceiro Oriente no Porto, dirigido por Passos Manuel. Se é verdade que essa época de consolidação do liberalismo foi de consagração e de triunfo para os pedreiros-livres portugueses, ela constituiu, simultaneamente, um mau exemplo quanto ao que a maçonaria não deve ser. Cada obediência era utilizada pelas facções políticas como um seu prolongamento, uma espécie de braço discreto através do qual procuravam influenciar a sociedade portuguesa e ganhar apoios. Até 1869 sucederam-se as estruturas maçónicas paralelas e concorrentes, com uma genealogia complexa e múltiplas dissidências, das quais a mais significativa será o Grande Oriente Lusitano, que teve como grão-mestre José de Moura Coutinho, juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Lisboa, o qual fez aprovar em 1840 uma nova constituição. Em 1843 existiam 80 oficinas em funcionamento, das quais 34 no Grande Oriente Lusitano, l7 no Oriente Passos Manuel, 15 no Grande Oriente de Silva Carvalho, 11 no Oriente Saldanha, e ainda a loja provincial do Oriente Irlandês, dependente do grão-mestrado de Dublin, com três ou quatro lojas». In António Ventura, A Maçonaria no distrito de Portalegre, editora Caleidoscópio, 2007; ISBN 978-989-8010-84-1.

com amizade.
Cortesia de caleidoscópio/JDACT

Deana Barroqueiro. Prefácio de Guilherme de Oliveira Martins. Na demanda dos Segredos do Oriente e do Misterioso Reino do Preste João. «Em 1487, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, escudeiros de D. João II, o Príncipe Perfeito, foram enviados de Portugal para a costa oriental de África, ao mesmo tempo que Bartolomeu Dias partia para o Cabo da Boa Esperança»

O traçado a verde indica o caminho realizado em conjunto. O traçado laranja, o caminho percorrido por Pêro da Covilhã. O traçado a azul, o caminho percorrido por Afonso de Paiva. A preto o caminho para a Índia, percorrido anos mais tarde, por Vasco da Gama.
Cortesia de wikipedia

Diplomacia e Aventura
Prefácio de Guilherme d'Oliveira Martins
«O Espião de D. João II, de Deana Barroqueiro baseia-se no relato de factos reais, que nos permite acompanhar a viagem de Pêro da Covilhã até às terras do Preste João. Transpondo para os dias de hoje a imagem de um «agente secreto», travestido de James Bond ou de Indiana Jones, a autora não comete o erro do anacronismo e procura, com uma experiência já ganha noutras obras (O Navegador da Passagem, D. Sebastião e o Vidente), transmitir ao público em geral, e em especial aos mais jovens (dada a sua longa e rica experiência pedagógica), o ambiente geral do final do século XV, com uma evidente vivacidade.

Em 1487, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, escudeiros de D. João II, o Príncipe Perfeito, foram enviados de Portugal para a costa oriental de África, ao mesmo tempo que Bartolomeu Dias partia para o Cabo da Boa Esperança. Tratava-se de descobrir por terra, aquilo que os navegadores iam procurar por via marítima, a rota das especiarias da Índia e notícias do «encoberto Preste João».
E deste modo acompanhamos uma longa peregrinação de cerca de seis anos pelo Mar Roxo, primeiro na companhia de Afonso de Paiva e depois solitariamente pelas costas do Índico até Calecute, mas também, pela Pérsia, África Oriental, Arábia e Etiópia, descobrindo povos e culturas completamente estranhos. Mas, para fazer essas andanças, Pêro da Covilhã teve de ocultar a sua verdadeira identidade e origem (como verdadeiro agente secreto, que de facto era), aparecendo como um enigmático mercador do Al-Andalus. Para compreendermos, contudo, a génese do romance temos de ir à obra anterior de Deana Barroqueiro - «O Navegador da Passagem», onde o tema é a missão de Bartolomeu Dias de preparação do caminho marítimo para a Índia.
A autora, naturalmente, entendeu que a chave do enigma do Príncipe Perfeito só estaria plenamente desvendada (ou a caminho disso) se se tentasse perceber o que se passou com Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, na sua complexa e misteriosa viagem terrestre ao encontro do Presbítero João, o mítico Imperador Cristão do Oriente, há muito referenciado mas nunca descoberto. Afinal, o que era o mito do Preste João? Fala-se muito do tema, mas raramente com o rigor indispensável, e a nossa autora coloca com cuidado e correcção os termos em que essa referência deve ser feita.

Cortesia de vidaslusofonas

Depois do Concílio de Éfeso e após a condenação dos Nestorianos, que defendiam ter Cristo uma dupla natureza, humana e divina, os partidários dessa heresia espalharam-se pela Pérsia, Arábia, Índia, Tartária, Mongólia e China. Daí as referências a comunidades de influência cristã espalhadas pelo continente asiático. Por outro lado, o apóstolo Tomé teria chegado à Índia e fundado núcleos cristãos no sul, de que temos notícia desde muito cedo (cerca do século IV). Lembrámo-nos bem dessas referências quando visitámos Cochim. Estas duas alusões põem-nos perante a existência de bolsas de influência cristã na Ásia, que podem ter estado na origem da lenda do desejado Preste João, a que faz referência o veneziano Marco Pólo no seu célebre Livro.

Esse Presbítero pode ter ainda a ver com o mito de que o Apóstolo João não teria morrido, à espera da segunda vinda de Jesus Cristo, daí o nome adoptado. O célebre viajante veneziano situa, aliás, o reino do Preste João algures no centro da Ásia. Acresce que, dentro do espírito das Cruzadas, foi dirigida no final do século XII ao papa Alexandre III, bem como aos Imperadores do Oriente (Manuel Comeno) e do Ocidente (Frederico Barba Roxa), uma Carta apócrifa assinada pelo Preste João das Índias, descrevendo o seu reino maravilhoso e pedindo apoio. Sabemos, ainda, que Gomes Eanes de Azurara aludia à busca de uma aliança com um Imperador cristão das Índias entre as cinco razões do Infante D. Henrique para iniciar a Expansão. D. João II, a partir destas referências díspares, tinha, assim, uma informação suficientemente precisa de que havia um rei cristão na costa oriental de África, para lá do Cairo, na zona de influência copta. Com efeito, no Alto Egipto e na Etiópia havia cristãos, fruto da evangelização que a tradição atribuía a S. Mateus. Fácil é de compreender, por tudo o que fica dito, a importância desta missão confiada a Pêro da Covilhã. O plano da Índia exigia uma definição clara de uma acção política e diplomática que desse consistência à criação de um novo Império dos Portugueses.

 
Cortesia de esquilo

Seguimos, a partir de todos estes ingredientes, com entusiasmo, esta peregrinação. Há vivacidade na narrativa, o que permite ao leitor acompanhar o relato sem perder a atenção bem desperta. Santarém, Lisboa, Valência, Barcelona, Nápoles, Rodes, Alexandria, Cairo. Na cidade egípcia define-se a missão, Pêro da Covilhã irá, para a Índia, para a Costa do Malabar, enquanto Afonso de Paiva destinar-se-á à Etiópia. A autora procura, assim, dar-nos o colorido dessa cidade que é uma encruzilhada de influências, o centro nevrálgico do comércio do Levante do Mediterrâneo. Com base nos testemunhos tradições e documentos coevos, a autora faz uma descrição minuciosa e rigorosa da viagem (em termos que pôde verificar com os seus olhos quando visitámos juntos a cidade e o Golfo Pérsico, com o CNC). Depois do Cairo, ruma a Adem, no Mar Roxo, onde se separa de Afonso de Paiva, atravessa o Mar Arábico e chega a Cananor, segue para Calecute, passa por Goa, e regressa ao Golfo Pérsico e a Ormuz, o porto donde partiam as caravanas da Rota da Seda, que Marco Pólo visitou por duas vezes... Depois, segue para sul na costa ocidental de África, zona crucial para a descoberta do caminho marítimo para a Índia, até Sofala, retornando ao Mar Vermelho e ao Cairo. Deana Barroqueiro não se limita, porém, à descrição fria dos acontecimentos, concede densidade dramática a alguns dos momentos mais marcantes da narrativa. A personalidade de Rute, que surge com um destaque especial, não pode deixar de ser referida pela sua intensidade e pelo modo como nos dá um exemplo do modo como os portugueses se relacionavam com os povos desconhecidos que encontravam. De facto, a miscigenação não surge de um momento para o outro, por mera decisão política circunstancial. E este romance prenuncia-a.

Cortesia de esquilo

A um tempo, estamos perante os exemplos vivos quer do participante activo na empresa dos descobrimentos portugueses (no lado, algo inesperado, da preparação das navegações e da espionagem terrestre, bem diferente das histórias trágico-marítimas), quer da aventura em estado puro, que a autora inteligentemente explora com conhecimento e verosimilhança. Trata-se, no fundo, para usar uma metáfora medieval, quase de uma demanda mística que só pode ter paralelo na busca do Graal. É o prolongamento do espírito das cruzadas.

Sente-se isso claramente, como depois veremos, Afonso de Albuquerque ao lançar uma ofensiva político-militar na região que pressupõe o conhecimento e a preparação, que Pêro da Covilhã conseguiu, mesmo que, em parte, fossem decepcionantes as conclusões... O padre Francisco Álvares encontraria o agente português graças à embaixada de Rodrigo Lima (que demandou a corte do negus da Etiópia, sendo representado na frontispício da obra de Álvares). Aí pôde confirmar as excepcionais qualidades de Pêro da Covilhã - com uma espantosa memória, onde nada se perdia, a capacidade de aprender qualquer língua e, em pouco tempo, falá-la como um natural, além da apurada arte para criar os mais extraordinários disfarces, assumindo diferentes identidades e a extrema facilidade da improvisação. Estamos, assim, perante um romance histórico que é, a um tempo, livro de viagens e relato de aventuras. E como diria o Padre Álvares:
  • «todas as cousas a que o mandaram soube, e de todas deu conta».
Quem melhor poderia sublinhar esta preocupação? Esta é a melhor homenagem que pode ser feira a Pêro da Covilhã, cuja memória parece ir-se desvanecendo, apesar da sua importância fundamental». In Deana Barroqueiro, O Espião de D. João II, prefácio de Guilherme de Oliveira Martins, Ésquilo, 2010, ISBN 978-989-8092-58-8.

Cortesia de Ésquilo/JDACT

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado. UNESCO. Lisboa. Carlos Zel. Cuca Roseta. «Durante mais de 30 anos de carreira, Zel levou a sua voz e a sua forma de cantar o fado pelo mundo fora, nomeadamente, a Espanha, França, Holanda, Escócia, …»

Carlos Zel
Cortesia de maluda






Cuca Roseta
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Fado. UNESCO. Lisboa. Ana Moura. Fernando Maurício. «Uma ribatejana. Actualmente uma das fadistas mais conceituadas de Portugal, pelo seu excelente timbre de voz, beleza e enorme simpatia»

Ana Moura
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Fernando Maurício
Cortesia de fotolog






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Fado. UNESCO. Lisboa. Fernando Farinha. Mafalda Arnaut. «Dos seus poemas decerto o que mais êxito teve foi “ Belos Tempos” na música do fado “Loucura” de Júlio de Sousa. Alfama casas velhinhas, parecem querer dizer segredos umas às outras sem a gente perceber»

Fernando Farinha
Cortesia de fotolog





Mafalda Arnaut
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Fado. UNESCO. Lisboa. Teresa Tarouca. Alfredo Marceneiro. «O Salão dos Bombeiros de Oeiras foi palco da estreia de Teresa, que cantou o fado com apenas 13 anos. Oriunda de uma família ligada à música, é prima afastada de Tereza de Noronha e prima de frei Hermano da Câmara»

Teresa Tarouca
Cortesia declubefansteresatarouca






Alfredo Marceneiro
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Fado. UNESCO. Lisboa. Carlos Ramos. Carminho. «Perguntaram-me pelo fado, eu conheci: era um boémio, era um vadio que andava na Mouraria. Talvez ainda mais magro que um cão galgo e a dizer que era fidalgo...»

Carlos Ramos
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Carminho
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O Fado. UNESCO. Lisboa. Teresa de Noronha. Manuel da Câmara. «A sua dicção, a sua maneira de se expressar, a forma como dominava as figurações intrincadas como os 'pianinhos e os roubados' tornou-a criadora de um estilo muito próprio, que fez escola»

Teresa de Noronha
Cortesia de wikipedia






Manuel da Câmara
Cortesia de novagente






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sábado, 26 de novembro de 2011

Tesouros da Literatura e História. Obras dos Príncipes de Avis: «O “Livro da Virtuosa Benfeitoria” não é um tratado de ciência política, mas, como o próprio título sugere, um tratado das «benfeitorias», isto é, dos favores (doações, privilégios, etc) concedidos pelos grandes homens aos seus inferiores»

Armas da família de Avis
Cortesia de halp

«Finalmente, o “Livro da Virtuosa Benfeitoria”. A sua redacção deve ter ocorrido entre os anos de 1418 e 1433 e suscita grandes dificuldades críticas. Com efeito, ela foi o resultado da colaboração entre o infante D. Pedro, que elaborou uma primeira redacção, e um clérigo da corte, frei João Verba, seu confessor, a quem se ficou a dever a versão definitiva. Acontece, porém, que é quase impossível distinguir a parte que coube ao infante daquela que sobreveio após a interferência de frei Verba, personagem sobre a qual ainda hoje muito pouca coisa se conhece. Admitamos, todavia, que independentemente da parte que lhe pertence na produção do texto, o infante D. Pedro participou integralmente do espírito da obra, isto é, supervisionou, ou pelo menos sancionou, o seu conjunto, tal qual ele se apresenta na sua forma derradeira.

Como já afirmou Paulo Merêa, o “Livro da Virtuosa Benfeitoria” não é um tratado de ciência política, mas, como o próprio título sugere, um tratado das «benfeitorias», isto é, dos favores (doações, privilégios, etc) concedidos pelos grandes homens aos seus inferiores. Os seus seis livros destinam-se a dar a conhecer o que são, como se dão, como se pedem, como se recebem, como se agradecem e como se podem perder as «benfeitorias». Pretende-se definir uma «estruturação social modelo» assente no jogo dos benefícios e na cadeia de reciprocidades e obrigações que este engendra, nos termos de uma concepção que responsabiliza particularmente os grandes senhores pela manutenção de um equilíbrio ordenado e desejado por Deus. Daí a especial atenção que dedica ao problema da educação dos príncipes e à sua acção político-social concreta. O “Livro da Virtuosa Benfeitoria” assume-se como um novo guia moral destinado a príncipes, um autêntico «thesaurus exemplorum», na expressão de J. Carvalho. Discursando sobre o poder e reivindicando para o príncipe um estatuto próprio. Esta obra denuncia uma reflexão política bastante mais aprofundada decorrente do próprio posicionamento (linguístico e intelectual) do seu autor e da interferência clerical de que foi objecto.

 
Cortesia de wikipedia

De estilo pesadamente escolástico e povoado de alegorismos simbólicos, o “Livro da Virtuosa Benfeitoria” surge-nos, afinal, um pouco como o fecho de cúpula de uma produção literária que nos apresenta, pela primeira vez entre nós, os laicos a escrever em vernáculo sobre a política, a moral e a arte de bem governar. […]

Conclusão
Encontramo-nos no momento propício de extrair, de tudo aquilo que foi dito, uma conclusão principal; contrariando a tendência para o privilégio da cultura senhorial registada até relativamente tarde no século XIV a “1ª metade do século XV correspondeu, em Portugal, ao florescimento de uma importante literatura laica, polarizada em torno da corte régia e intimamente comprometida com os novos detentores do Poder”. As referências inicialmente feitas a propósito da ligação existente entre boa parte da historiografia e a sede do poder político e acerca do ambiente de receptividade ao espírito e à letra das novelas de cavalaria, encontrado nos meios da alta nobreza, apontavam já nesse sentido.
É o caso de uma literatura senhorial, que apesar de em boa parte ter sido absorvida pela dinâmica da corte não se esgotou absolutamente nela. A exemplo do que se passou por essa Europa, à «nova» composição e intenções do poder político triunfante em 1385 corresponderam algumas inovações na organização dos centros produtores e difusores da cultura escrita, a mais importante das quais teve que ver com o reforço do papel da corte régia nesta matéria.


Cortesia de halp e simecqcultura

Uma espécie de «mecenato cultural», patrocinado e directamente comparticipado pela Casa Real, parece pois emergente entre nós a partir dos finais de Trezentos. “Cultura essencialmente laica, mas que não exclui todavia, em minha opinião, uma assinalável cumplicidade clerical”. De facto, o desenvolvimento em Portugal, na viragem para o século XV, de uma literatura laica sediada na corte, se viabilizou graças ao apoio que lhe foi prestado pelos protagonistas de uma tradição cultural (escrita) de filiação eminentemente religiosa.
Isto é, se até relativamente tarde no século XIII «literatura clerical» e «literatura laica» se encontram relativamente autonomizadas ao nível da corte, regista-se algum comprometimento mútuo, cujo significado, embora encoberto pela dominância aparente da componente laica.
Creio que, no fundo, o clero designadamente o clero urbano, cuja literatura, como sublinha Luciano Rossi, de há muito encontrava, através das práticas e dos sermões, expressão para além das suas próprias muralhas, terá procurado no incremento da sua actividade cultural junto da corte uma espécie de compensação (sociológica, psicológica) para a marginalidade política a que o poder instituído o tinha manifestamente relegado (16)». In João Gouveia Monteiro, Orientações da Cultura da corte na 1ª metade do século XV (A Literatura dos Príncipes de Avis, excerto), HALP 1998.

Continua
Cortesia da FC Gulbenkian/JDACT

Fim de Século em Paris. O Mundo existe para desaguar num Livro. «O movimento simbolista, que teve uma expressão em todas as artes do final do século, reagiu contra o materialismo e pragmatismo da sociedade industrial, reivindicando a busca interior e a verdade universal»

A morte de Ofélia, Odilon Redon
Cortesia de naver

«Apesar de Marcel Proust abrir vários caminhos à arte do século XX, a vida e a obra deste escritor, filho ilustre do seu tempo, são uma expressão dos traços mais característicos do “fin du siècle” francês.
Um dos aspectos em que Proust se manifesta como artista do século XX é na sua condição de escritor simbolista. Na sua obra “Em Busca do Tempo Perdido” pode falar-se da mesma ambição de origem romântica que se percebe na obra de Stéphane Mallarmé: fundir numa mesma operação teoria e prática poética, ou seja, criar um «artefacto» literário que seja uma obra de ficção à maneira tradicional, mas que contenha, ao mesmo tempo, toda uma teoria do romance e da arte em geral, que fale em termos rigorosos das relações entre a arte e a vida, e do artista, da sua função e da sua formação: Um romance em que afirma, como Mallarmé, que «o mundo existe para desaguar num livro».

Henri Bergson
Cortesia de artvalue

Na estética simbolista, a ideia reveste-se de forma sensível, expressa-se com uma linguagem literária de musicalidade perfeita e enriquece-se com intenções metafísicas. Esta literatura tentava encontrar o que Baudelaire, precursor deste movimento e considerado o pai da poesia moderna, denominou «correspondências»:
  • As afinidades secretas entre o mundo sensível e o mundo espiritual. Para isso, empregavam recursos como a sinestesia, baseada na fusão dos sentidos. O movimento simbolista, que teve uma expressão em todas as artes do final do século, reagiu contra o materialismo e pragmatismo da sociedade industrial, reivindicando a busca interior e a verdade universal.
Também os sonhos, redescobertos então graças a Freud, deixaram de ser concebidos como imagens irreais para serem considerados um valioso meio de expressão da realidade.

Nota: A filosofia de Henri Bergson, pensador «da moda» em Paris de finais de século na altura em que Proust escrevia (e vencedor do Nobel da Literatura no ano em que este morreu), era uma profunda meditação acerca do tempo e da duração. Por isso, muitas vezes se assinalou a sua influência no romantismo. No entanto, o próprio Proust afirmou a inexactidão desta observação, dado que a diferença entre a memória voluntária e a memória involuntária predominava na sua obra e, na filosofia de Bergson, não só não aparecia como até a contradizia.


Cortesia de wikipedia e ebayco

A favor de Dreyfus
Do ponto de vista social, um dos acontecimentos mais relevantes do fim do século francês foi o «caso Dreyfus», que eclodiu no Outono de 1897 quando os partidários do capitão Dreyfus, condenado a prisão perpétua por traição, publicaram as provas que comprovaram a sua inocência. O caso Dreyfus provocou a divisão da França, e da própria família de Proust, entre os «dreyfusianos» e os «antidreyfusianos»: Proust e a sua mãe, talvez porque Proust fosse judeu, declararam-se a seu favor, ao passo que o seu pai defendia os valores tradicionais. Enquanto a burguesia se manifestou contra, a aristocracia, nacionalista e católica, apostou na culpabilidade de Dreyfus. A 13 de Janeiro, ‘L’Aurore’ publicou o famoso artigo de Zola ‘J’Acuse’ e, no dia seguinte, um manifesto de intelectuais, organizado por Proust, que pediam a revisão do processo. O governo, apoiado pelo exército, a Igreja, os nacionalistas e os anti-semitas, era contrário à revisão. Em Fevereiro de 1899, o presidente Faure foi assassinado e Loubet, um reformador arraigado, foi escolhido para o substituir.

Com ele, a oposição «dreyfusiana» viu o seu caminho livre para forçar um novo julgamento. No entanto, apesar das provas a seu favor, Dreyfus foi mais uma vez considerado culpado. Para apaziguar o assunto, o governo concedeu-lhe o indulto. Decepcionado com a atitude racista e ignóbil demonstrada pela aristocracia, Proust afastou-se dos seus salões». In Gayban Grafie, 2009, ISBN 978-989-651-085-5.

Cortesia de Gayban/JDACT

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Paul Cesar Helleu. Pintura. Retrato. «Segundo a literatura, em 1884, foi contratado por Guérin para executar um retrato da filha Alice. Perdidamente se apaixonou pela jovem adolescente, vindo a casar com ela dois anos depois»


(1859-1927)
Vannes, França
Retrato de John S. Sargent
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«Um pintor retratista que utilizou como ‘musas’ as mulheres mais atraentes e famosas da sua época.
Desde jovem que se ‘apaixonou pela arte’ contrariando os interesses de sua mãe. Como jovem determinado, foi para Paris aos 17 anos de idade a fim de estudar na Escola de Belas Artes. Ao rejeitar a abordagem da pintura clássica, ‘abraçou’ o impressionismo e foi amigo de Degas, Rodin, Renoir e Monet. No entanto, John Singer Sargent, um amigo muito próximo, deu-lhe a inspiração de se tornar retratista.

Segundo a literatura, em 1884, foi contratado por Guérin para executar um retrato da filha Alice. Perdidamente se apaixonou pela jovem adolescente, vindo a casar com ela dois anos depois.

Retrato de Alice Guérin
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Alice foi o seu modelo preferido e os seus retratos são desenhados com uma sensibilidade muito íntima. Foi a ‘rampa de lançamento’ de Helleu. Começou a frequentar os círculos aristocráticos da sociedade europeia e, deste modo, a conhecer mulheres elegantes que desejavam os seus méritos artísticos. Um talento único que foi recompensado em 1904 com a Legião de Honra, tornando-o num dos pintores mais célebres de Paris e Londres». In Christina Sanderson, 2000.





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